Sporting-Benfica: cinco ideias táticas que explicam o desfecho do dérbi

7 abr, 00:13
Sporting-Benfica (LUSA)

João Pacheco, treinador e analista de futebol, desmonta o jogo grande em momentos chave

Se este tipo de jogos costuma ser interessantes do ponto de vista tático-estratégico, o facto de a mesmas equipas se defrontarem consecutivamente acrescenta mais alguns pontos de interesse, pelo que se esperava que este jogo se iniciasse a partir do fim do jogo anterior. Após um dérbi em que o Benfica foi superior, era expectável que fizesse poucas alterações e que tentasse impor o mesmo registo de jogo. Do outro lado, tal como Ruben Amorim disse após a partida, havia a intenção de ajustar/corrigir alguns comportamentos de forma a tentar superar as dificuldades impostas e superiorizar-se.

Deste modo, Benfica entrava com o mesmo onze enquanto o Sporting mexia em cinco jogadores, numa versão mais próxima da que terminou o jogo na Luz, ao que se somava o regresso de Pedro Gonçalves.

1.Sporting tentou ser mais eficaz na pressão à construção adversária

Ainda sem se perceber muito bem como decorreria o jogo, já o Sporting vencia por 1-0. Fruto de uma pressão alta (que tantas vezes destaquei como momento crucial nestes jogos), com Pedro Gonçalves em evidência na jogada e Geny Catamo a finalizar (depois de influente no segundo golo na Luz, o lateral destacou-se com dois golos neste jogo).

O Sporting tentou ser mais eficaz na pressão à construção do Benfica. Para isso alternava a pressão, umas vezes com os três jogadores da frente, outras com Gyokeres a fechar primeiro os médios adversários, para depois saltar a pressionar os centrais com timings bem definidos. Embora em alguns momentos Trincão se juntasse mais a Gyokeres e fosse Catamo a subir para pressionar o lateral esquerdo benfiquista (similar ao que fez na segunda parte do jogo anterior). Além disso tentava corrigir os espaços entrelinhas e expor menos a sua linha defensiva, fechando melhor o espaço central.

2.Benfica viu-se a perder cedo e respondeu com um ataque mais posicional

O Benfica ia tentando superar esta pressão, com mobilidade entre lateral-ala (ora um dentro e o outro fora, ora o contrário), e João Neves muitas vezes na construção mais baixa, pelo meio dos centrais para sair a três. Desta forma, ia encontrando algumas formas de sair, ainda que por zonas mais laterais.

Tengstedt tinha muitos movimentos à profundidade, do centro para o corredor lateral (muito para o corredor direito), para procurar receber bolas mais longas quando a equipa não conseguia ligar de forma mais curta.  A equipa usava também a capacidade individual de Di Maria e Neres para chegar à frente, eles que foram alternando de corredor várias vezes.

Com isto o Benfica, após sofrer cedo, ia crescendo no jogo, tinha mais bola e ia-se instalando no meio-campo adversário. Ao contrário do jogo anterior, era, contudo, um ataque mais posicional, mais pensado e não tanto de ataques rápidos.

Isto porque o Sporting, quando não conseguia impedir a construção do Benfica, conseguia organizar o seu bloco defensivo em 5-4-1, fechando bem os espaços interiores, protegendo melhor a sua linha e diminuindo os ataques rápidos e as conduções de bola sobre a sua linha defensiva.

3. Primeira parte de blocos coesos e menos espaço para transições

Rafa tinha menos espaço e mais dificuldade em ter influência no jogo.  O Benfica ia tentando de diversas formas chegar à baliza e mantinha a reação/pressão muito fortes no momento da perda, evitando que o Sporting tivesse muitos momentos de contra-ataque (nos quais é normalmente bastante perigoso).

Quando o Sporting tinha a bola, de resto, o Benfica partia da mesma ideia do jogo anterior: tentava ser muito pressionante, partindo o seu 4-4-2, com João Neves muitas vezes numa linha alta perto dos avançados, para condicionar os médios sportinguistas.

Apesar de manter o nível alto de pressão, o Sporting respondia um pouco melhor neste jogo. Sobretudo com mais calma e critério por parte dos seus centrais, sabendo usar melhor a pressão do adversário e aguentando mais a bola para no timing certo a soltar. Melhores os seus médios a saberem jogar de costas, servindo de apoios frontais para a equipa sair da pressão.

Ainda que fosse havendo muito equilibro entre pressão-construção, o Sporting mesmo quando saía da pressão nem sempre dava sequência de forma a conseguir chegar com perigo à área adversária.  Mas perdia menos bolas, sobretudo entre linhas nos seus alas, que fugiam melhor à pressão dos laterais benfiquistas e com estas pequenas melhorias evitava tantos ataques rápidos.

Era mais uma vez um jogo equilibrado, com os blocos coesos, com menos espaços para transições, com mais bola para o Benfica, que ia tentando carregar sobre o adversário, jogado mais tempo no seu meio-campo ofensivo.

4. Bragança trouxe qualidade na construção numa altura em que o Benfica perdia capacidade de pressão

A partir do início da segunda parte percebeu-se que este dominó começava a mudar. O Sporting ia cada vez mais tentando ter mais bola, usava ataques mais longos, como gosta, tentava instalar-se mais no meio-campo ofensivo, tendência esta que foi aumentando com o decorrer o jogo. Para isso foram muito importantes as substituições do Sporting.

Começando com Bragança, que veio dar mais dinâmica ofensiva à equipa, com segurança e qualidade na construção, e com mais mobilidade para se chegar mais à frente. E depois, mesmo sem alterações estruturais, a cada substituição a equipa ia-se refrescando, dando mais energia e dinâmica, o que a fez crescer no jogo. 

Do outro lado, o Benfica ia diminuindo a sua capacidade de pressão e sobretudo de defender em bloco: a equipa começava por isso a ficar mais vezes partida. Apenas trocou de avançado, e esperou pelo fim para fazer mais alterações. O registo de jogo mudou, portanto, para mais domínio de Sporting, que se ia aproximando mais vezes da baliza.

5. Ataques rápidos mantiveram o Benfica vivo no jogo e o resultado imprevisível... até ao fim

Controlava melhor o seu jogo com bola, encontrava mais jogadores livres e ia dominando mais o jogo. Ainda assim, com mais dificuldade defensivas, o Benfica mantinha-se competitivo e procurava o golo, usando mais vezes o momento de recuperação da bola para de forma rápida elaborar os ataques, aproveitando os espaços e algumas perdas de bola do adversário.

O jogo passava por isso por vários momentos, mantinha-se aberto e com resultado imprevisível. Até que no fim acabou por cair para o lado Sporting.

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