Falhas que custam vidas: os dados nunca antes revelados sobre ataques aéreos dos EUA no Médio Oriente

19 dez 2021, 16:37
Drones

Promessa era travar guerra através de drones que detetavam bombas com precisão, mas nova investigação revela erros grosseiros que levaram à morte de civis

O relógio marcava poucos minutos para as 03:00 de 19 de julho de 2016 quando as forças de Operações Especiais americanas bombardearam o que sempre afirmaram acreditar serem três “áreas de preparação” do Estado Islâmico (ISIS) nos arredores de Tokhar, na Síria.

Foram relatadas mortes de 85 combatentes. No entanto, os militares dos Estados Unidos atingiram casas onde fazendeiros, as famílias e outras pessoas locais procuravam refúgio. De acordo com o artigo avançado pelo The New York Times, 120 pessoas foram mortas.

No início de janeiro de 2017, no Iraque, um avião de guerra americano atingiu um veículo por se acreditar tratar de um carro-bomba. Na verdade, no interior só seguia Majid Mahmoud Ahmed, a mulher e os dois filhos, em fuga de conflitos nas proximidades.

Em novembro de 2015, as forças americanas também atacaram um prédio em Ramadi, no Iraque, após verem um homem a arrastar um “objeto pesado desconhecido” para uma “posição de combate defensiva” do ISIS. A análise feita à posterior revelou que esse “objeto” era uma criança. Foi morta.

Estes são exemplos de falhas de análise graves, que resultaram na morte de cidadãos. Foram retiradas de um arquivo oculto do Pentágono e às quais o The New York Times teve agora acesso, que dizem respeito à guerra aérea americana no Médio Oriente, que dura desde 2014.

Os documentos revelam mais de 1.300 vítimas civis, numa guerra aérea marcada por falhas de informação, erros e manchada de sangue. Morreram civis, muitos deles crianças, num cenário que vem contrastar com a ideia defendida pelo governo americano, que dá conta que a guerra tem sido sempre travada através de drones com alta capacidade de precisão.

O arquivo mostra também que, apesar do sistema altamente codificado do Pentágono, as promessas de transparência e responsabilidade deram lugar à opacidade e impunidade. Raros foram os casos que foram tornados públicos e não houve um único registo fornecido que incluísse irregularidades ou ações disciplinares. Foram feitos menos de uma dúzia de indemnizações devido a lesões causadas a inocentes.

A promessa parecia simples: a tecnologia extraordinária da América permitiria aos militares matar as pessoas envolvidas nos confrontos frente à América, garantindo o cuidado para não atingir civis inocentes.

Recorde-se que esta iniciativa teve origem no final do governo Obama, durante o aprofundamento da impopularidade das guerras que já tinham custado a vida a mais de seis mil militares americanos. Os Estados Unidos optaram – nesse momento – por trocar muitos dos seus homens por um arsenal de aeronaves dirigido por controladores sentados em computadores, muitas das vezes a milhares de quilómetros de distância do local.

Barack Obama chegou a intitular esta como “a campanha aérea mais precisa da história”.

Também uma investigação levada a cabo pela revista Times descobriu um ataque feito com drones em Cabul, em agosto deste ano, momento em que as autoridades revelaram ter abatido um veículo carregado de bombas, mas que acabou por vitimar dez membros de uma família afegã. O mesmo jornal revelou dados de dezenas de civis que terão sido mortos num atentado à bomba em 2019 na Síria.

E.U.A.

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