Putin disse a Macron que preferia "jogar hóquei no gelo" a reunir-se com líderes ocidentais: revelado o telefonema que não impediu a guerra

CNN Portugal , HCL
28 jun 2022, 18:40
Putin e Macron em agosto de 2019. Gerard Julien, Pool via AP

Putin e Macron tratam-se por "tu". Conversa decorreu quatro dias antes de a guerra começar - e foi gravado por um canal de televisão para um documentário que vai ser emitido em breve. Mas já são conhecidos detalhes

Vladimir Putin disse a Emmanuel Macron que preferia jogar hóquei no gelo a reunir-se com o presidente francês e com Joe Biden, naquele que foi o último telefonema para tentar evitar a invasão da Ucrânia em Fevereiro. O comentário foi feito a 20 de fevereiro, nos últimos minutos de uma conversa infrutífera para impedir a Rússia de ir para a guerra. Estes factos foram revelados esta terça-feira pela France 2 TV.

O apelo terminou com Macron a sugerir a Putin uma cimeira com Biden. Putin não se opôs mas também não pareceu interessado em fixar uma data, insistindo que a reunião deveria ser totalmente preparada. "Para ser honesto, eu queria ir jogar hóquei no gelo. Aqui estou eu a falar-vos a partir do pavilhão desportivo antes de iniciar o esforço físico. Mas primeiro vou falar com os meus conselheiros", disse o presidente russo ao líder francês.

Num vislumbre extremamente invulgar de uma chamada telefónica confidencial entre chefes de Estado, Macron e a sua equipa foram filmados no Elyséé durante a chamada. As filmagens vão ser agora transmitidas como peça central do documentário "Um Presidente, a Europa e a Guerra" e retrata a forma como o presidente francês lidou com a guerra da Ucrânia. O documentário vai ser transmitido esta quinta-feira na France 2 TV.

 

 

"Gostaria que primeiro me desses a tua leitura da situação e talvez muito diretamente, como é nosso hábito, me dissesses quais são as tuas intenções", disse Macron a Putin, sem rodeios, no início da conversa. Tratam-se por "tu" ao longo do diálogo. "O que posso dizer? Tu mesmo vês o que está a acontecer", retorquiu o russo, acusando a Ucrânia de agir contra os acordos de Minsk.

Putin acusou também o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky de estar a procurar armas nucleares. "De facto, o nosso querido colega Zelensky não está a fazer nada para aplicar os acordos de Minsk", alegou Putin, acrescentando a Macron que o ucraniano estaria a mentir ao presidente francês.

"Não sei se o teu consultor jurídico aprendeu Direito! Quanto a mim, basta-me olhar para os textos e tento aplicá-los", retorquiu um irritado Macron. Depois Putin argumentou que as propostas dos separatistas da Ucrânia Oriental deveriam ser tidas em conta. "Mas nós não nos importamos com as propostas dos separatistas", interrompeu o presidente francês.

Apesar da tensão, Macron também procurou desempenhar o papel de mediador, sublinhando que iria tentar apelar a Zelensky que acalmasse as suas forças armadas. "Não cedas a provocações de qualquer tipo nas horas e nos dias vindouros", disse o francês a Putin.

Depois da conversa, o Eliseu informou os repórteres de que tinha sido alcançado um acordo de princípio para uma cimeira entre Biden e Putin, mas tal nunca se verificou. As palavras finais foram relativamente cordiais. "De qualquer modo, obrigado Vladimir. Manter-nos-emos em contacto em tempo real. Quando houver alguma novidade diz-me", disse Macron. "Agradeço-te, Sr. Presidente", despediu-se Putin.

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