"É agora evidente que Donald Trump vai ser o candidato republicano". A questão já não é se Nikki Haley vai desistir mas quando

25 jan, 08:00
A ex-embaixadora da ONU Nikki Haley, candidata presidencial republicana, discursa num comício da noite das primárias de New Hampshire, em Concord, N.H., terça-feira, 23 de janeiro de 2024. (AP Photo/Steven Senne)

Com mais uma vitória do ex-presidente, a sua única rival na corrida republicana garante que a batalha eleitoral “está longe do fim”. A próxima data importante está marcada para daqui a um mês, com as primárias da Carolina do Sul, Estado que Nikki Haley governou durante seis anos. A sua vitória deveria estar garantida, mas tudo indica que também ali vai perder – e, se não antes disso, deverá ser essa derrota a ditar o fim das suas aspirações presidenciais

Depois da vitória estrondosa nos caucuses do Iowa, que levou à desistência de Ron DeSantis, Donald Trump saiu vencedor de mais uma etapa nas primárias de terça-feira em New Hampshire, e segue forte na primeira posição rumo à nomeação republicana. As sondagens antes da votação previam uma corrida renhida entre os derradeiros candidatos da oposição, mas a margem acabou por não deixar dúvidas, com o ex-presidente a situar-se 11 pontos percentuais à frente da rival. 

Haley conseguiu posicionar-se melhor junto dos “não-declarados”, ou independentes, dos eleitores com grau académico superior e entre os autodeclarados moderados, mas os números não estiveram a seu favor e, mesmo entre esses grupos, os apoios foram inferiores ao antecipado. Assim que começaram a surgir os primeiros resultados à boca das urnas, os analistas e a equipa de campanha de Trump anteviram que a republicana iria desistir logo ali, deixando o caminho totalmente aberto para o populista. Mas Haley mantém a fé.

“Eles estão a tropeçar sobre si mesmos quando dizem que a corrida terminou. Bom, tenho uma notícia para todos eles. O New Hampshire é o primeiro [Estado com primárias] da nação, não é o último da nação. Esta corrida está longe do fim. Ainda temos dúzias de Estados para conquistar.” Mas a disputa não se afigura fácil para aquela que foi a embaixadora de Trump na ONU entre janeiro de 2017 e dezembro de 2018.

No seu discurso de derrota, Haley começou por dar os parabéns ao rival, uma cortesia a que o ex-presidente respondeu com ataques irados, pintando-a como uma “impostora” que está “a delirar”. “Não podemos deixar as pessoas escaparem impunes com tretas. E quando a vi naquele vestido chique, que provavelmente não era assim tão chique, disse ‘O que é que ela está a fazer? Nós vencemos’.”

Insistindo em falsidades como o “roubo eleitoral” de 2020 e acusando os democratas de “usarem a covid para ganhar” as presidenciais de há quatro anos, Trump exigiu que a antiga governadora da Carolina do Sul desista da corrida e avisou-a de que será “alvo de uma investigação” se por acaso o derrotar nas primárias, sugerindo em tom de ameaça que Haley esconde segredos “dos quais não quer falar”.

“Nunca adivinhariam pelo tom do discurso [de Haley], mas o caminho da ex-embaixadora na ONU até à nomeação deixou praticamente de existir após ter falhado a vitória no moderado New Hampshire, o Estado que lhe era mais favorável no mapa das primárias”, refere o site de política Axios. A análise é consensual. No rescaldo do voto, o próprio presidente dos EUA, Joe Biden, que aos 81 anos vai disputar a presidência em novembro pelos democratas, sublinhou em comunicado: “É agora claro que Donald Trump vai ser o candidato republicano. E a minha mensagem ao país é a de que os riscos não podiam ser maiores.”

Próxima paragem: Carolina do Sul

Nada nem ninguém parece capaz de travar Donald Trump. Com a vitória em New Hampshire, o ex-presidente tornou-se o primeiro candidato à nomeação republicana fora da Casa Branca a vencer nos dois primeiros Estados a votos em primárias na história moderna dos EUA – isto apesar de continuar a braços com uma série de processos judiciais envolvendo suspeitas de fraude e corrupção, interferência nas eleições de 2020, pagamento de subornos a uma estrela de filmes pornográficos e roubo de documentos confidenciais quando abandonou a Casa Branca.

Como apontava na terça-feira a CNN Internacional, “ele continua a consolidar o partido [republicano] à sua volta a uma velocidade sem precedentes em eleições primárias modernas”. Com mais esta vitória, Trump parte na liderança para a próxima etapa das votações republicanas, precisamente na Carolina do Sul, o Estado que Nikki Haley governou entre 2011 e 2017. O facto não foi esquecido pela própria, que continua confiante numa potencial vitória a 24 de fevereiro. “De cada vez que me candidatei a um cargo público na Carolina do Sul, derrotei o sistema político. Eles estão contra mim, isso não é uma surpresa. Mas os eleitores da Carolina do Sul não querem uma coroação, querem uma eleição.”

Será mesmo assim? Tudo indica que não. Face aos inquéritos de opinião que preveem a vitória de Trump (mais uma) sem esforço, Haley – nome de batismo Nimarata Randhawa – seguiu diretamente de New Hampshire para o Estado onde os seus pais, imigrantes sikhs do Punjab (Índia), se instalaram no final dos anos 1960, para uma série de comícios de campanha na tentativa de conquistar mais eleitores para a sua barricada.

Trump conta, neste momento, com os apoios do atual governador, Henry McMaster, e de sete dos oito congressistas (sul)carolinenses do partido. Já entre a população geral, e de acordo com as mais recentes projeções do FiveThirtyEight, o ex-presidente segue à frente com uma margem ainda maior do que a que era antecipada em New Hampshire: conta com 62,2% das intenções de voto, contra apenas 25% para Nikki Haley.

“Penso que ela precisa de olhar com muita atenção para os dados demográficos dos eleitores”, defendia uma eleitora republicana indecisa da Carolina do Sul, num debate organizado pela CNN na noite das últimas primárias. “Se ela não conseguiu vencer em New Hampshire, que a favorecia como candidata à presidência, não vejo caminho para ela num Estado como a Carolina do Sul e em outros depois desse.”

Uma derrota "inevitável"

Tecnicamente, os próximos Estados a votos são o Nevada e as Ilhas Virgens, mas nenhum tem grande impacto nas contas finais: no primeiro, Haley estará no boletim de voto para as primárias de 6 de fevereiro mas fora do caucus do partido dois dias depois, e Trump será apenas considerado no caucus e não nas primárias; no segundo, o número de delegados a atribuir ao vencedor foi reduzido de nove para quatro. E é por isso que as atenções estão agora focadas na Carolina do Sul. Três dias depois, é a vez das primárias no Michigan, um dos mais importantes Estados do mapa eleitoral.

Depois dessas votações, a corrida torna-se nacional, com a chamada ‘super terça-feira’ a 5 de março, dia de primárias e caucus simultâneos em mais de uma dezena de Estados e territórios norte-americanos. A votos estarão os delegados do Alabama, Alasca, Samoa Americana, Arkansas, Califórnia, Colorado, Maine, Massachusetts, Minnesota, Carolina do Norte, Oklahoma, Tennessee, Texas, Utah, Vermont e Virgínia. Mas é generalizada a crença de que Nikki Haley não chegará tão longe na corrida.

A grande dúvida agora é se vai desistir antes ou só depois da votação no seu Estado-natal. Como escrevia um repórter político no rescaldo da votação em New Hampshire: “Haley tem 31 dias para decidir se quer arriscar uma humilhação nas primárias da Carolina do Sul – onde as sondagens sugerem que Trump tem uma enorme margem – ou abraçar o que parece ser uma inevitabilidade."

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