Petição contra nome de Manuel Clemente na nova ponte ciclopedonal já pode ser debatida na AR

Agência Lusa , AM - notícia atualizada às 22:08
13 ago 2023, 18:47
Jornadas Mundiais da Juventude - Lusa/Manuel de Almeida

Em menos de 24 horas, o número de subscritores da petição pública passou de cerca de 1.000, no sábado ao final da tarde, para mais de 11.300, este domingo à noite

A petição que contesta o nome da ponte ciclopedonal Cardeal Dom Manuel Clemente, entre Lisboa e Loures, já recolheu mais de 11.300 assinaturas e poderá ser debatida no plenário da Assembleia da República.

A adesão crescente à petição “não surpreende”, disse hoje à Lusa Tiago Rolino, um dos promotores da iniciativa que tem como objetivo levar a debate na Assembleia da República a decisão da câmara da capital de dar o nome do cardeal-patriarca Manuel Clemente à nova ponte ciclopedonal que liga os concelhos de Lisboa e Loures e que foi construída no âmbito da Jornada Mundial da Juventude (JMJ).

A homenagem ao cardeal é contestada pelos promotores da petição pública, que consideram uma ofensa ao bom nome das vítimas de abusos sexuais pela Igreja Católica, que a comissão independente que estudou os abusos estimou serem cerca de 4.800.

Em menos de 24 horas, o número de subscritores da petição pública passou de cerca de 1.000, no sábado ao final da tarde, para 11.389, pelas 22:08 deste domingo.

“Não estamos surpreendidos com o alcance, porque sabemos que é uma luta justa, que não é pessoal, não é contra ninguém, mas é de proteção do bom nome das vítimas. É uma luta justa de toda a gente”, disse Tiago Rolino.

No dia em que o Jornal de Notícias revelou que 93% dos contratos da JMJ foram feitos por ajuste direto, o promotor da petição pública acusou o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas (PSD), de querer fazer “um ajuste direto de imagem e afirmação política” às custas de uma infraestrutura que liga dois concelhos e do nome das vítimas de abusos pela Igreja Católica.

“Não estamos surpreendidos com a adesão, porque a sociedade percebeu a importância destes movimentos. É uma causa de proteção dos mais elementares direitos humanos. Carlos Moedas quis fazer aqui um ajuste direto de imagem e afirmação política”, afirmou.

Intitulada “Petição pela alteração do nome previsto para a ponte Lisboa/Loures no Parque Tejo”, a petição foi lançada no sábado através da rede social X (antigo Twitter) por Telma Tavares, autora dos cartazes em memória das vítimas de abusos sexuais por membros da Igreja Católica que foram colocados em Lisboa, Loures e Algés durante a JMJ, que decorreu no início do mês.

Na petição é invocada “a suposta laicidade do Estado” e questionado se a atribuição do nome de Manuel Clemente à ponte “pode ser vista até como uma ofensa e/ou desrespeito pelas mais de 4800 vítimas de abuso sexual por parte da igreja em Portugal”.

“Sendo a ponte um dos equipamentos que foi pago com recurso a dinheiros públicos, que todos os portugueses irão pagar com assinalável esforço, o mínimo exigível será que se homenageie quem tenha factualmente marcado a diferença ou sido autor de feitos que mereçam destaque no nosso município”, lê-se no texto.

A petição é dirigida à câmara de Lisboa, mas tendo já recolhido mais de 11.300 assinaturas poderá ser apreciada pelos deputados em plenário da Assembleia da República.

Na sexta-feira, a Câmara Municipal de Lisboa anunciou que a nova ponte ciclopedonal que liga os concelhos de Lisboa e Loures, sobre o rio Trancão, na zona oriental da cidade, vai chamar-se Ponte Cardeal Dom Manuel Clemente.

“É uma justa homenagem da cidade a um homem que deu tanto a Lisboa ao longo da sua vida”, afirmou Carlos Moedas, citado num comunicado da autarquia.

Numa mensagem enviada à Lusa, Manuel Clemente agradeceu “a generosidade” do município e disse incluir no seu nome “todos quantos trabalharam na Jornada Mundial da Juventude”.

Segundo a câmara de Lisboa, o nome da ponte foi comunicado ao presidente da autarquia de Loures, Ricardo Leão (PS), que considerou tratar-se de “uma boa opção e um justo reconhecimento”.

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