Quer falar com o seu filho sobre o peso e não sabe como? Temos cinco dicas

CNN , Andrea Kane
10 mar, 11:00
Dieta / Perda de Peso (Pexels)

Falar sobre o peso a uma criança pode ser delicado para pais e pediatras. Mas não é menos sensível para as crianças, que passam pelo processo de crescimento e podem ficar deprimidas ou ressentidas

Nota do editor: A nona temporada do podcast "Chasing Life With Dr. Sanjay Gupta" explora a intersecção entre o peso corporal e a saúde. Aprofundamos um vasto leque de tópicos, incluindo as razões evolutivas que explicam porque é que perder peso é tão difícil e os novos medicamentos para perder peso. Pode ouvi-lo aqui.

Não é segredo que uma percentagem crescente dos americanos pode ser considerada obesa ou com excesso de peso e isso inclui as crianças. O número de crianças com idades entre os dois e os 19 anos, que podem ser classificadas como obesas, aumentou agora para 20%, ou seja, uma em cada cinco.

"Essencialmente, dos anos 70 aos anos 90, houve um enorme aumento no número de crianças consideradas obesas... um peso corporal demasiado elevado para o seu próprio bem", disse Jack Yanovski, endocrinologista pediátrico do Instituto Nacional de Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano, ao correspondente médico chefe da CNN, Sanjay Gupta, no podcast “Chasing Life”.

No caso das crianças, os médicos definem a obesidade de uma forma um pouco diferente do que fazem com os adultos. O Índice de Massa Corporal (IMC) das crianças - por mais imperfeita que seja a medição - é calculado da mesma forma (o peso em quilogramas dividido pela altura em metros quadrados), mas o limiar para a obesidade não é um IMC igual ou superior a 30. Em vez disso, as crianças são comparadas com outras da mesma idade e do mesmo género. Se o seu IMC for igual ou superior ao percentil 95 (se forem maiores do que 95 em cada 100 outras crianças da sua idade e género), considera-se que têm obesidade. Obesidade grave é ter um IMC igual ou superior ao percentil 120.

Para além do estigma social - ser considerado pesado é uma das razões mais comuns pelas quais as crianças são vítimas de bullying na escola - carregar peso a mais pode levar a problemas de saúde presentes e futuros.

"A maioria das pessoas que são pesadas aos cinco ou seis anos de idade tendem a continuar a ter problemas com o peso corporal ao longo da adolescência e até na idade adulta", afirmou Yanovski.

Os efeitos negativos para a saúde terão oportunidade de se acumular. "Sabemos que esses indivíduos irão, por conseguinte, acumular maiores riscos devido ao seu maior peso corporal (gordura), porque vão continuar a ter um peso corporal elevado ao longo dos anos", disse.

Os pediatras estão a ver mais crianças com condições que normalmente começam na idade adulta, como a diabetes tipo 2, a hipertensão arterial, os triglicéridos elevados e a doença hepática gordurosa não alcoólica (mais conhecida como o fígado gordo). Mesmo que estas crianças consigam evitar temporariamente as condições metabólicas que andam de par em par com o excesso de peso, podem ter problemas mecânicos, como dores nas articulações dos pés, joelhos ou costas, bem como apneia do sono.

Acha que está na altura de falar sobre o peso com o seu filho? Falar com uma criança de qualquer idade sobre o peso é um assunto delicado para os pais e pediatras. Afinal de contas, as crianças estão a crescer, os seus corpos estão a mudar e é suposto ganharem peso à medida que crescem. Saber o que é saudável, adequado e social e pessoalmente aceitável, pode parecer subjetivo para os pais e para a criança.

"Geralmente, deve começar com o seu prestador de cuidados de saúde", disse Yanovski. "Lembre-se, as crianças têm tamanhos e formas diferentes. E as suas necessidades calóricas serão muito diferentes consoante a fase do ciclo de crescimento em que se encontram. Portanto, peça-lhes que meçam e examinem o seu filho para ver se acham que é uma condição clinicamente importante".

Se os pais forem demasiado severos, as crianças podem ficar deprimidas ou ressentidas, sentirem-se estigmatizadas ou excluídas; algumas podem mesmo desenvolver perturbações alimentares para perder peso.

"Os pais têm de estar atentos e ser sensíveis aos seus filhos", disse Yanovski. "E, sobretudo, não os envergonhar no que respeita à sua relação com a comida para tentar evitar estes problemas".

Eis as cinco principais dicas de Yanovski:

Não se precipite

Não se apresente como uma escavadora com uma atitude do tipo "os pais é que sabem".

"Seja humilde e tenha em atenção à forma como fala, porque muitas vezes há preconceitos e estigmas de peso", disse Yanovski. "Os seus filhos devem sentir-se confortáveis e seguros ao partilharem as suas preocupações ou dificuldades. Se precisar de fazer alterações ou considerar terapias, tenha em mente que a tomada de decisões é um processo partilhado”.

Não existe um tamanho de corpo "correto”

As crianças são uma obra em progresso e os surtos de crescimento são normais.

"Lembre-se que existe um conjunto de pesos saudáveis e que é suposto as crianças crescerem, especialmente durante a puberdade", afirmou Yanovski. "Os profissionais de saúde do seu filho podem discutir consigo o que é apropriado para o seu filho".

Acione o botão fácil

Faça das escolhas saudáveis o padrão.

"Crie um ambiente saudável, tendo em conta os alimentos e snacks disponíveis em casa", apontou Yanovski. "Por exemplo, quando as crianças chegam a casa da escola com fome, ofereça-lhes um prato de fruta e legumes frescos. Para as refeições, não ofereça uma porção familiar à mesa, mas sirva as porções no prato de cada um na cozinha".

Não utilize bolo como se fossem cenouras

Os alimentos não devem ser utilizados como incentivo.

"Não faça da comida a derradeira recompensa pelo comportamento, notas ou tarefas", afirmou Yanovski. "Não faça dos alimentos altamente saborosos uma recompensa para as celebrações. Pode substituí-los por atividades ou outras recompensas não alimentares”.

Firmes à medida que crescem

O corpo de uma criança está em constante mudança, mas as atitudes dos pais devem ter como objetivo a estabilidade.

"Sejam coerentes com as suas expectativas", disse Yanovski. "Quando se é inconsistente, alternando entre relaxado e excessivamente severo, isso é um problema".

O especialista salientou que os pais são muitas vezes disciplinadores. "Mas temos de evitar exagerar nessa direção", disse, "para podermos continuar disponíveis para os nossos filhos e ajudá-los a ultrapassar um período muito difícil das suas vidas".

Esperamos que estas cinco dicas lhe dêem orientações para falar com os seus filhos sobre alimentação e peso. Oiça o episódio completo aqui.

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