Inspetores da PJ “perceberam” alteração no padrão de crimes durante a pandemia, revela estudo

22 jul 2023, 18:00
Polícia Judiciária

O Instituto de Polícia Judiciária e Ciências Criminais realizou um estudo sobre o impacto da pandemia na instituição. As conclusões mostram, por exemplo, que uma das maiores dificuldades foi o desenvolvimento da "atividade operacional" no terreno

Aumento da cibercriminalidade,nas fraudes, na pornografia infantil ou no tráfico. O fenómeno foi detetado pelos agentes da Polícia Judiciária logo depois de ter começado a pandemia de covid 19. A conclusão consta de um estudo a que a CNN Portugal teve acesso e que foi desenvolvido pelo Instituto de Polícia Judiciária e Ciências Criminais.

Este trabalho tinha como objetivo perceber como o funcionamento da instituição estava a ser afetado e como os agentes da Polícia Judiciária (PJ) se podiam preparar para o futuro perante a nova realidade. O estudo revela, assim, que os inspetores tiveram a “perceção” de que o tipo de criminalidade estava a mudar e perceberam que uma das maiores dificuldades detetada foi na “atividade operacional”.

João Oliveira, atual responsável pela Diretoria de Lisboa e Vale do Tejo, era na altura, diretor do Instituto.de Polícia Judiciária e Ciências Criminais e foi um dos nomes diretamente envolvidos neste trabalho.

“A dado momento, concluímos que seria muito interessante e útil perceber que tipo de impactos é que a pandemia poderia ter, efetivamente, numa organização como a nossa. E, portanto, foi feito um estudo de natureza académica e científica, dentro da investigação criminal, para se procurar perceber esses impactos”, confirma à CNN Portugal.

E em relação ao padrão de crimes a perceção dos agentes de todas as áreas de investigação criminal, atribuiu às ações no mundo digital o maior crescimento. De acordo com os resultados do estudo, o aumento da cibercriminalidade, seja nas fraudes, na pornografia infantil ou no tráfico foi percecionado por 36,6% dos inquiridos. E 32,5% indicaram o decréscimo do crime violento como os roubos, os homicídios e o tráfico de droga. Houve, no entanto, uma percentagem de 21,7% de investigadores que disse não ter verificado alterações nos padrões de crime investigados pelos próprios departamentos.

O estudo foi desenvolvido por João Oliveira, Cristina Soeiro e Ana Romano: “Havia outro espírito subjacente que teve a ver com a ideia; ‘nós não podemos ficar aqui de braços cruzados’. Sofremos todos e a nossa instituição também sofreu e fez este caminho no sentido de tentar perceber exatamente, na medida do possível”, esclarece aquele responsável.

14 departamentos da Polícia Judiciária envolvidos no estudo

Para isso foi  realizado um inquérito online em todos os 14 departamento da Polícia Judiciária e as conclusões retratam os primeiros impactos da pandemia na instituição e no trabalho dos inspetores. O facto de ter sido feito logo no início da pandemia também precisa de ser tido em consideração nas conclusões.

Olhando para o estudo  percebe-se que o contexto pandémico mudou a relação entre os investigadores e a comunidade, tal como afetou os padrões criminais e o tipo de crimes praticados. Sem esquecer a ligação entre a Polícia Judiciária e outras instituições como, por exemplo, tribunais, estabelecimentos prisionais, instituições de apoio às vítimas e unidades hospitalares de saúde.

.O isolamento social foi, talvez, a consequência mais comum da pandemia e representava um risco para a saúde mental. Além disso, a proximidade da função dos polícias com pessoas infetadas tornou-se mais um fator acrescido de stress diário para quem estava no terreno.

Com o inquérito, o Instituto de Polícia Judiciária e Ciências Criminais estabeleceu quatro objetivos: 1 – identificar a perceção dos policias em relação às condições de trabalho; 2 – identificar a perceção dos polícias nas alterações dos padrões de crime; 3 – avaliar o bem-estar físico e psicológico dos polícias durante o contexto pandémico e, por fim, 4 – identificar as necessidades e desafios em relação à formação e educação dos polícias.

No trabalho - que foi apresentado numa conferência da Academia Europeia de Polícia participaram - participaram 547 investigadores criminais, 72,8% do sexo masculino e 26,9% do sexo feminino (um valor similar à realidade vivida dentro da instituição). E do total 42% tinham entre 41-50 anos; 36% entre 51-60 anos e 16% entre 31 e 40 anos.

Independentemente da área de trabalho dos investigadores, as perceções das principais dificuldades no trabalho são idênticas entre todos. A mais importante foi a limitação relacionada com a atividade operacional (recolha de informação, testemunhos, buscas e vigilâncias) que chegou aos 51%. Em seguida surge a gestão do trabalho devido às limitações humanas (12,6%) e, por fim, a lentidão e dificuldade na relação com as entidades externas (7%).Quantos aos níveis de burnout este foi identificado como baixo/moderado, enquanto o stress traumático secundário foi baixo.

Por fim, quanto à perceção dos investigadores em relação às maiores necessidades e desafios de formação no futuro, referiram a análise e processamento de informação, a cooperação internacional, a cibercriminalidade e técnicas policiais como áreas a melhorar competências.

Quanto à forma mais indicada de aprendizagem 35% considerou que o e-learning (aprendizagem online) era o método mais adequado para os primeiros níveis conceptuais ou de treino policial. No entanto, 69% considerou que método presencial era o mais importante para aquisição de competências.

 

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