Paços de Ferreira-Campomaiorense, 0-1 (crónica)

12 nov 2000, 19:23

A vitória do sentido prático Quem diria que uma equipa tão moralizada como o Paços iria ceder uma derrota em casa diante de um conjunto em crise, como o Campomaiorense. Surpresa só em teoria, porque os alentejanos revelaram-se muito mais práticos e eficazes. Irreconhecível, o Paços jogou mais com o coração do que com a cabeça e só se pode queixar de si próprio

Quem diria? Num jogo que opunha uma equipa em alta e muito moralizada ¿ o Paços ¿ e outra em crise, em plena transição no comando técnico ¿ o Campomaiorense ¿ o marcador pendeu a favor do lado teoricamente mais fragilizado. É isto que torna o futebol uma ciência absolutamente inexacta: e ainda bem que o é. O imprevisto voltou a surgir, muito por culpa de um terreno paupérrimo, que impediu que se praticasse um jogo minimamente fluido e sequenciado. Valeu, por isso, muito mais o poder físico e o sentido prático. E nessas duas vertentes, o Campomaiorense esteve muito melhor.  

Convém começar por esclarecer que é quase impossível tirar grandes conclusões da partida a que acabámos de assistir. Se há jogos atípicos, este foi, certamente, um deles. As estatísticas quase proibiam uma vitória do Campomaiorense, mas a verdade é que cedo se percebeu que a formação alentejana se iria adaptar melhor a um terreno tão mau e a condições climatéricas tão agressivas.  

Esta foi, assim, a vitória do sentido prático. Talvez moralizados pela ideia de mudança, poucos dias depois de Carlos Manuel ter abandonado o comando técnico, os jogadores do Campomaiorense, abordaram este encontro de uma forma muito mais positiva e eficaz. A base esteve no meio-campo. A aposta em Torrão para o meio-campo funcionou em pleno: ele foi a figura central da consistência alentejana. Bem acompanhado por José Luís (também em bom plano), os dois foram conquistando a batalha do meio-campo, absolutamente decisivo num jogo com estas características.  

Com uma rectaguarda destas, os homens do ataque tiveram a tarefa facilitada. Poejo foi um municiador exímio (fez uma exibição de grande nível), sendo dele os melhores passes da primeira parte, quase sempre para Laelson. O brasileiro agradeceu e só não facturou porque o guarda-redes Pedro foi o melhor jogador do Paços. Jorginho e Detinho completavam o triângulo atacante, um tridente muito dinâmico e produtivo, ao qual só faltou um pouco mais de acerto concretizador.  

Paços traído pela sua própria sombra 

E depois, bom, depois surgiu a surpresa da tarde. Inesperadamente, o Paços não conseguia inverter o ascendente campomaiorense. As falhas ocorreram em todos os sectores. Os problemas da defesa apareciam sobretudo nos laterais. À direita, Paulito esteve irreconhecível, proporcionando a Laelson uma autêntica auto-estrada rumo à baliza de Pedro. Fatal. 

O meio-campo não chegou a experimentar o que mais gosta de fazer: circular a bola e explorar os flancos. Nada disso foi possível, por dois motivos: o relvado não deixava e ainda menos o Campomaiorense. Beto, Glauber, Everaldo e Marco Paulo, foram quatro jogadores frustrados perante a maior capacidade de adaptação ao terreno dos seus rivais.  

Não foi, por isso, de admirar que o ataque pacense se tivesse ressentido. Na primeira parte, então, Paulo Vida e Rafael foram dois homens-fantasma: as bolas, simplesmente, não chegavam lá à frente.  

A desinspiração foi geral e agravou-se na hora do desespero. A segunda parte conheceu, de facto, um balanceamento ofensivo pacense quase total, mas a qualidade não acompanhou a qualidade. Os remates saíam defeituosos, o coração, demasiado perto da boca, pedia penalties por tudo e por nada. Em vão. Decididamente, esta não era a tarde do Paços de Ferreira. O Campomaiorense mereceu o triunfo e reconquistou o direito a sonhar.

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