O fracasso do Benfica em três minutos de música; a história de adeptos que apoiavam uma equipa ainda antes dela nascer; e ainda James, um filme já candidato aos Oscars (Boyhood) e um livro especial
PLAY é um espaço semanal de partilha, sugestão e crítica. O futebol espelhado no cinema, na música, na literatura. Outros mundos, o mesmo ponto de partida. Ideias soltas, filmes e livros que foram perdendo a vez na fila de espera. PLAY.SOUNDCHECK:
«UEFA CHAMPIONS LEAGUE» - de Tony Britten.
Não sei o que é pior em Jorge Jesus. Se a incoerência omnipresente no discurso ou a arrogância com que normalmente lida com a comunicação social. Mesmo na hora da derrota.
Três exemplos, fresquinhos:
1.
2.
3.
Não vale a pena enunciar, pela enésima vez, os méritos de Jorge Jesus no crescimento do Benfica desde 2009. Eles existem, são óbvios, merecem aplauso.
Mas há outro lado, porventura superior, que me faz uma confusão tremenda. Será que ninguém explica a Jesus que quando fala a um jornalista está a falar para os adeptos do Benfica?
Será que ninguém ainda lhe explicou que a Liga dos Campeões não é um mero torneio de verão e que em cinco anos só por uma vez chegou aos oitavos de final?
Será que assumir as culpas e retirar consequências, por uma vez que seja, é pedir demasiado ao inimputável treinador do Benfica?
Será que o plantel é mesmo fraco e que o último lugar na Champions é uma condenação natural?
E por falar em plantel. Quem escolheu Loris Benito? Cristante, Bebé ou César? Já para não falar de Luís Felipe, Djavan ou Candeias.
A Liga dos Campeões é a mais bela competição do mundo. Jogá-la sem ambição é incompreensível. Perdê-la sem uma amostra de dor, como se fosse inevitável, é intolerável. Afinal, o Benfica é ou não um dos maiores emblemas do mundo? É.
Entrar no relvado e escutar a composição escrita por Tony Britten é um privilégio. Por favor, alguém é capaz de explicar isto direitinho a Jorge Jesus?
PS: «La Petite Mort» - James.
Estação de São Bento, cidade do Porto, dia 27 de novembro. Durante uma hora, os majestosos James tocam, respondem a perguntas dos fãs, fazem do histórico edifício uma arena de som doce e poderoso, um paradoxo que identifica a coerência de uma longa carreira.
O momento, inimaginável à partida, é um excelente aperitivo para os espetáculos anunciados para Guimarães e Lisboa. O álbum mais recente, La Petite Mort
Deste último trabalho de estúdio, destaco o fantástico Moving On
Aí estão eles, os fabulosos sete: Tim Booth, Jim Glennie, Larry Gott, Saul Davies, Mark Hunter, Andy Diagram e um dos meus bateristas favoritos: David Baynton-Power.
SLOW MOTION:
«SONS OF BEN» - de Jeffrey C. Bell
A Major League Soccer arrancou em 1996. Philadelphia, apesar de ser uma das maiores cidades dos EUA, não foi contemplada para acolher uma das equipas do campeonato profissional norte-americano.
Dez anos depois, em 2006, o cenário não se invertera. Farto do ostracismo a que a MLS o votara, um grupo de amigos apaixonados por futebol – o nosso, não o americano – fez o impensável: criou um grupo de apoio, uma claque se preferirem, ainda mesmo de haver uma equipa de soccer
Inspiraram-se em Benjamin Franklin, nome maior na história dos EUA e filho pródigo de Philadelphia, e formaram os Sons of Ben
Este documentário recupera todos os passos de Bryan James e Andrew Dillon, fundadores deste coletivo de adeptos apaixonados por soccer
James, Dillon e outros milhares de anónimos organizaram manifestações, encheram estádios desertos, aplaudiram jogadas imaginárias, lutaram pela causa que mais amavam.
A 25 de março de 2010, a luta cessou e os Union estrearam-se na MLS.
Mais do que historiar todos os eventos até à criação da equipa, a película é um assomo de paixão brutal pelo futebol, com origem num país onde outros desportos continuam a reinar.
Antes de haver clube, havia o amor lúdico pelo soccer
PS: «Boyhood» - de Richard Linklater.
Preparem-se para as próximas palavras: este é um dos melhores filmes que alguma vez vi. E é o cinema a fazer história. Mais história.
Linklater, venerável realizador - consagrado pela trilogia Before Sunrise
Nunca antes alguém se atrevera a tamanha empreitada. Cada ano, durante algumas semanas, o grupo de atores juntava-se e filmava as cenas idealizadas pela equipa de Linklater.
Coltrane cresceu, Ethan Hawke e Patricia Arquette envelheceram, o filme transforma-se num ensinamento soberbo sobre a vida e a evolução da nossa própria espécie.
Ainda é cedo, mas coloco-o desde já como o grande candidato a vencedor na próxima cerimónia dos Oscars. Um verdadeiro triunfo.
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«ENTRE LINHAS» - de Carlos Carvalhal
Os direitos de autor do livro escrito pelo treinador português revertem, na íntegra, para Zé António. O antigo jogador de Leixões e Desportivo das Aves continua a lutar com um heroísmo admirável contra a esclerose lateral amiotrófica.
Todos os que quiserem contribuir para a melhoria de vida de Zé António podem mandar um donativo para o seguinte NIB: 000704330002286000485.
O livro de Carvalhal, além desta importante componente humanitária, tem um conjunto de histórias muito interessantes, questões com que cada treinador se depara no dia a dia e experiências vividas e narradas por Carvalhal sobre todos os balneários onde já trabalhou.
Zé António não foi esquecido, como fez questão de mostrar publicamente o plantel do Aves:
«PLAY» é um espaço de opinião/sugestão do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode indicar-lhe outros filmes, músicas e/ou livros através do e-mail pcunha@mediacapital.pt. Siga-o no Twitter.