Dragões mostraram que a dimensão europeia não se compra
Não fosse esta uma daquelas conquistas que o FC Porto tornou tão normal e estaríamos a esta hora a falar de um feito absolutamente extraordinário: pela décima sexta vez, a formação portista está entre as dezasseis melhores equipas da Europa.
É obra. O meu mais sincero aplauso.
Ora isto acontece porque o FC Porto conseguiu algo muito raro, sobretudo num país periférico: conseguiu interiorizar uma verdadeira dimensão europeia.
Sente-se no Dragão um posicionamento em relação à Liga dos Campeões que não existe em mais nenhum clube português: há uma noção de que a presença, só ela, é curta. É preciso mais.
É preciso ganhar.
Não há sentimentos de gratidão, orgulho ou glória por marcar presença numa fase de grupos. É o normal, apenas. O orgulho está em ganhar, em passar à próxima fase, em ir mais longe. Por isso os jogadores encaram os jogos – excetuando um ou outro caso – com confiança e firmeza.
Só assim se explica que, ano após ano, e mesmo perdendo no final da época os melhores atletas, o FC Porto continue a apresentar-se forte na Liga dos Campeões. É uma questão de cultura.
O FC Porto tem uma dimensão europeia que não se compra, nem se conquista por decreto. Leva anos, e muitas vitórias, a construir.
Também por isso é estranho que os grandes clubes europeus não pensem na formação portista quando pensam na tal Superliga Europeia. É estranho e injusto. Que razões desportivas pode haver para considerar um Tottenham, um Marselha ou uma Roma e não considerar o FC Porto?
Nenhumas, obviamente. Apenas razões financeiras.
PS. Como já disse, este sobe não é extensivo a Sérgio Conceição: o mesmo Sérgio Conceição que nos últimos tempos criticou o Marítimo, o Desp. Aves e o Belenenses, só para lembrar alguns, por terem apresentado no Dragão estratégias exageradamente defensivas e embaraçosas para o futebol.
Ora convém recordar que ontem o FC Porto teve 32 por cento de posse de bola (contra 68 do Man. City), fez um total de dois remates (contra dezoito), teve zero cantos (contra onze), teve zero remates dentro da área (contra treze) e não criou nenhuma grande oportunidade de golo.
Não foi, portanto, um futebol agradável e também não engrandece a imagem do FC Porto no mundo. Mas é uma opção de Sérgio Conceição e há que respeitá-la. Só não podemos aceitar é que num dia utilize a diferença de orçamentos para justificar esta postura e noutro dia não o faça.
Depois de tudo o que disse, Sérgio Conceição não podia justificar a estratégia utilizada perante o Manchester City com a diferença de orçamentos: ou então não dizia o que disse antes. Fazê-lo demonstra uma total incoerência e torna muito difícil que no futuro o possamos levar a sério.