Nem de propósito: agora é Copa!

11 jun 2014, 10:11
O Mundial nas ruas de Calcutá (Reuters)

Sim, há todas as razões para acharmos que vai haver problemas. Mas, caramba, é um Mundial no Brasil, Portugal está lá, Ronaldo e Messi querem voltar a ser geniais e Neymar tem tudo para explodir. Embora lá aproveitar?

«O Brasil é favorito, mais por jogar em casa. Do ponto de vista do coletivo, da força da equipa, Espanha e Alemanha têm seleções ligeiramente superiores. Se esta Copa fosse na Europa, o Brasil estaria um pouco abaixo de Espanha e Alemanha. E também aposto na Argentina.»
Tostão, camisa 9 do Brasil campeão do Mundo no México-70, entrevista ao Maisfutebol e à MF Total


«O momento é do Cristiano. Ele é o melhor do mundo. O futebol mudou muito e não consigo dizer se ele teria lugar no meu Brasil. Não sei se dava, talvez sim. Mas quem é que eu ia tirar?»
Jairzinho, outro herói do Brasil de 70, em entrevista ao Maisfutebol e à MF Total


«Será o Mundial de Neymar. Joga em casa e tem à sua disposição uma seleção fortíssima. Messi e Ronaldo serão sempre jogadores importantes em qualquer prova. Estão no auge da carreira e das suas faculdades. Além disso, a Argentina e Portugal têm o que é necessário para apoiar estes dois extraordinários talentos. Ainda assim, olho mais para Neymar».
Paolo Rossi, melhor marcador do Espanha-82, entrevista ao Maisfutebol e à MF Total


O
Mundial-2014 está quase, quase a começar e sim, tem tudo para haver problemas: o clima de contestação, revelado há um ano na Confederações e prolongado em alguns momentos nos últimos meses, parece tampa em panela de pressão, prontinha a estalar, energizada pela exposição mediática de tão impactante competição global.

Mas, caramba, é um Mundial no Brasil, Portugal está lá, Cristiano Ronaldo e Messi estão ansiosos por provarem que podem voltar a ser geniais e Neymar tem tudo para explodir, em definitivo, como nome de topo, capaz de entrar, quem sabe já a seguir a este verão, na luta direta pelo título de melhor do Mundo.

A validade das «previsões» para um Mundial é quase tão credível como aquelas tendências do polvo Paul antes de cada jogo do Mundial de há quatro anos. Mas quem gosta mesmo de seguir os campeonatos do Mundo não resiste a experimentar alguns cenários (aqui estão algumas e aqui até pode fazer os seus palpites).

O que acho interessante em mundiais é que tendem a juntar um pouco das duas coisas: confirmação e surpresa, tradição e mudança.

Aparece sempre alguma seleção que vai mais longe do que é suposto (Uruguai nas meias e Gana nos quartos de há quatro anos; Coreia do Sul e Turquia nas meias do mundial-2002; Croácia nas meias-finais do mundial-98; Suécia e Bulgária nas meias do mundial-94), mas ao mesmo tempo ainda não surgiu, verdadeiramente, um campeão do Mundo fora de todas as previsões: a lista de seleções que venceram mundiais limita-se a oito que eram, nos seus respetivos momentos, equipas de topo: Brasil (5),
Itália
(4),
Alemanha
(3),
Argentina
e
Uruguai
(2),
França
,
Inglaterra
e
Espanha
(1).

Por isso, e sempre correndo algum risco de falhar, é bem provável apontar, na véspera do arranque do segundo mundial em solo brasileiro, que será muito provável que o campeão do torneio venha a ser um dos oito países que já conquistaram algum mundial (estão lá os oito), sendo que desse lote se poderá destacar uma «shortlist» de quatro que talvez tenham mais possibilidades que os outros quatro.

Precisamente a lista que Tostão elencou na entrevista que concedeu ao Maisfutebol: Brasil, por jogar em casa, pela tradição e por ter Neymar e uma bela equipa; Alemanha e Espanha, pela forma dos respetivos conjuntos e pela qualidade indiscutível; e ainda a Argentina, pelo talento imenso de Messi e de muitos dos seus companheiros (e pelo bom trabalho de Sabella, já agora, também).

Numa segunda linha de favoritismo, surgirão Itália, Holanda (finalista vencido há quatro anos) e, eventualmente numa escala de possibilidades um pouco menor que transalpinos e holandeses, também Portugal (se Cristiano Ronaldo estiver no seu melhor), Uruguai, Inglaterra e França.

Até agora, o grau de risco não é assim tão grande: bastou seguir o livro das convenções de anteriores mundiais e dos rankings atuais de seleções e do prémio FIFA para
CR7
(que obviamente confere a Portugal um estatuto especial).

Mas é aqui que pode entrar o tal grau de surpresa que, se formos ver, aparece sempre nas fases finais dos mundiais. 

O difícil grupo de Portugal

Ora, então sobre Portugal, ficou já acima apontado o bom palpite de estar na linha imediatamente a seguir dos quatro favoritos, embora a par de várias seleções.

Mas cuidado: o grupo em que calhámos é particularmente difícil: mais difícil do que, à primeira vista, possa parecer. Tem um superfavorito, a Alemanha. E tem duas seleções que podem não assustar muito pelo nome, mas que serão ossos bem duros de roer. Os EUA têm equipa experiente, forte fisicamente, com um selecionador de grande qualidade (Jurgen Klinsmann). O Gana será, a par da Costa do Marfim, a melhor seleção africana do momento.

Mesmo assim, Portugal, que é quarto no ranking e tem somado bons desempenhos nas grandes competições internacionais na última década, terá todas as condições de, pelo menos, ser segundo no grupo. Uma vez conseguido esse objetivo primordial, tudo será possível. Mas o melhor é pensar... passo a passo.

E a Bélgica, talvez? 

Talvez não para ganhar a Copa, mas possivelmente para chegar aos quartos, meias ou,
who knows?, até à final: porque não a Bélgica, seleção com pouca tradição de chegar longe mas que em 2014 exibe uma equipa recheada de grandes talentos (Hazard, Lukaku, Januzaj, Witsel, Courtois, muitos outros)? Não é provável, mas pode acontecer.

Outras possíveis seleções-surpresa? Colômbia (que mesmo sem Falcao tem um belo ataque), Gana (esperemos que não, seria mau sinal para as hipóteses de Portugal...) ou até mesmo o Equador (tem feito bons resultados com seleções fortes e está no grupo teoricamente menos poderoso, com Suíça, França e Honduras). E atenção também à Bósnia de Dzeko, que pode ser a surpresa do grupo da Argentina (com a Nigéria e o Irão de Queiroz).

Ronaldo, Messi, Neymar e... quem mais?

Para lá das tendências coletivas, há fortes expetativas sobre o que este Mundial irá revelar no plano individual.

Uma coisa parece já certa: entre os 6/8 melhores jogadores do Mundo da atualidade, só Neymar surge indiscutivelmente no seu melhor, no arranque da Copa. 

C R7 está num processo de recuperação física e há várias semanas que anda em «modo poupança» (mas sim, vamos acreditar que nos joga apareça em grande); Messi aparece no Mundial depois de época complicada, com lesões e um Barça frustrante (anda triste e aqueles episódios de vómitos são preocupantes); Bale e Ibra pagam o preço de representarem o País de Gales e a Suécia; Ribéry, Falcao e Reus não vão por lesão; Diego Costa luta pela recuperação física.

A dúvida transforma-se em tremenda inquietação: as provas de que o calendário competitivo internacional está sobrecarregado com jogos a mais não serão suficientes? Não seria melhor que o Mundial acontecesse em altura em que os melhores jogadores não aparecessem... rebentados ou perto disso? 

Lançada a questão, que certamente vai dominar boa parte das análises nas próximas semanas, acredito que, na altura certa, o génio de CR7 e de Messi vai soltar-se e provocará grandes momentos nos relvados brasileiros. E o favoritismo do escrete pode bem ser embalado pelo talento imenso de Neymar.

Agora é Copa e vamos lá aproveitar!

«Nem de propósito» é uma rubrica de opinião e análise da autoria do jornalista Germano Almeida. Sobre futebol (português e internacional) e às vezes sobre outros temas. Hoje em dia, tudo tem a ver com tudo, não é o que dizem?

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