Planeta terá, a partir de amanhã, oito mil milhões de pessoas

Agência Lusa , DCT
14 nov 2022, 17:35
Planeta Terra (Pexels)

Com um aumento exponencial no último século, e apesar de um abrandamento gradual mais recente, as previsões indicam que os nove mil milhões de 2037 passem a 10 mil milhões em 2058

A população mundial atingirá os oito mil milhões de pessoas na manhã de terça-feira, segundo projeções da ONU, que fala de um “crescimento sem precedentes” e de um “marco no desenvolvimento humano”.

De acordo com as Nações Unidas, o tão grande crescimento deve-se ao aumento gradual da duração da vida humana, às melhorias na saúde pública e avanços na medicina, mas também a fatores como a nutrição, a higiene pessoal, e elevada e persistente fertilidade em alguns países.

No anúncio do número simbólico a ONU nota que por norma os países com mais altos níveis de fertilidade são também os com mais baixo rendimento ´per capita´, a maioria na África subsariana, o que quer dizer que o crescimento global da população se vem concentrando nos países mais pobres do mundo, o que pode impedir a realização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Segundo o Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP) os maiores contribuintes para o crescimento a cada mil milhões desde 2010 são a Ásia e África, o que voltará a acontecer com os próximos mil milhões, em 2037, com a Europa a contribuir negativamente.

Para o aumento que na terça-feira se assinala pelas 09:00 foi a Índia o maior contribuinte, com 177 milhões de pessoas, ultrapassando a China, com 73 milhões. A contribuição da China, que ainda é o mais populoso (quase alcançado pela Índia) deve ser negativa nos próximos mil milhões.

A ONU salienta que a população cresceu mil milhões de pessoas em 12 anos (há 12 anos contabilizavam-se sete mil milhões) mas que serão precisos 15 anos (até 2037) para se chegar aos nove mil milhões, sinal de que a taxa de crescimento global está a abrandar.

O departamento de assuntos económicos e sociais da ONU nota que chegar agora a oito mil milhões de seres humanos é um “marco notável”, já que a população mundial foi inferior a mil milhões durante milhares de anos e até 1800, e que levou mais de 100 anos a crescer de um para dois mil milhões.

Com um aumento exponencial no último século, e apesar de um abrandamento gradual mais recente, as previsões indicam que os nove mil milhões de 2037 passem a 10 mil milhões em 2058.

O departamento da ONU destaca ainda que cerca de 70% da população acrescentada dos sete para os oito mil milhões é dos países menos desenvolvidos, e em 2037 esses países serão responsáveis por 90% do crescimento que entretanto vai acontecer.

No caminho para os nove mil milhões quase todo o aumento previsto do número de crianças e jovens adultos será em países de baixo e médio-baixo rendimento. Nos países ricos as projeções demográficas das Nações Unidas sugerem que o número de pessoas com menos de 65 anos diminuirá e que o crescimento acorrerá na população com 65 ou mais anos.

Ainda que o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, considere a efeméride um momento para celebrar a diversidade e os avanços, a organização considera que um crescimento populacional mais lento ao longo de muitas décadas “poderia ajudar a mitigar” a acumulação de danos ambientais na segunda metade deste século.

Na página oficial na internet a ONU refere que o crescimento populacional aumenta os impactos no ambiente e que o aumento dos rendimentos ´per capita´ é o “principal motor de padrões insustentáveis de produção e consumo”.

“O cumprimento dos objetivos do Acordo de Paris para limitar o aumento da temperatura global, ao mesmo tempo que se alcançam os ODS, depende criticamente da contenção dos padrões insustentáveis de produção e consumo”, alerta a ONU.

Num artigo de opinião sobre a data, António Guterres também deixa alertas, dizendo que à medida que a população cresce está também cada vez mais dividida, e que se não for reduzido o fosso “entre os que têm e os que não têm”, estará a ser construído um mundo de oito mil milhões de pessoas “repleto de tensões, desconfiança, crises e conflitos”.

Afirmando que milhares de milhões de pessoas estão em dificuldades, e que centenas de milhões passam fome, António Guterres destaca que um pequeno grupo de bilionários possui a mesma riqueza que a metade mais pobre de toda a população mundial.

“Os que estão entre os 1% mais ricos do mundo detêm um quinto do rendimento mundial. As pessoas nos países mais ricos podem viver até 30 anos mais que nos países mais pobres. À medida que o mundo se tornou mais rico e saudável nas últimas décadas, essas desigualdades também se agravaram”, lamenta.

Questões como as alterações climáticas ou a covid-19 também aumentaram as desigualdades, diz o secretário-geral da ONU, reafirmando que o mundo está na direção de uma “catástrofe climática”, que a guerra na Ucrânia agravou as crises alimentar, energética e financeira, que muitos países do sul global enfrentam enormes dívidas, e que “a raiva e o ressentimento contra os países desenvolvidos estão a chegar ao limite”.

António Guterres diz ainda esperar que da conferência do clima que decorre no Egito (COP27) saia um Pacto de Solidariedade Climática e que os países mais ricos apoiem os mais pobres e cheguem a um acordo sobre um modelo de compensação aos países do sul global pelas perdas e danos relacionadas com o clima.

Afirmando acreditar no talento da humanidade, e ter uma enorme fé na solidariedade humana, António Guterres termina a mensagem citando Mahatma Gandhi: “O mundo tem o suficiente para as necessidades de todos – mas não para a ganância de todos”.

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