Cineasta norte-americana move ação judicial contra Nuno Lopes por alegada violação há 17 anos. Ator português reage: "Sou moralmente e eticamente incapaz de cometer os atos de que me acusam"

21 nov 2023, 11:47
Nuno Lopes - Famosos no 4º e último dia da ModaLisboa

A alegada violação terá acontecido em 2006 após uma festa do Festival de Cinema de Tribeca, em Nova Iorque, EUA

A cineasta norte-americana A.M. Lukas moveu uma ação judicial contra o ator e DJ português Nuno Lopes, acusando-o de a ter drogado e violado em abril de 2006. A queixa foi apresentada segunda-feira no Tribunal Distrital dos Estados Unidos para o distrito Leste de Nova Iorque. 

Numa declaração emitida esta manhã, o ator português nega todas as acusações: "Sou moralmente e eticamente incapaz de cometer os atos de que me acusam. Jamais drogaria alguém e jamais me aproveitaria de uma pessoa incapacitada, quer por excesso de álcool ou por influência de quaisquer outras substâncias. Nem hoje nem há 17 anos", afirma.

A denúncia de A.M. Lukas: "Não podia ter consentido em fazer sexo com o sr. Lopes"

De acordo com a denúncia, A.M. Lucas e Nuno Lopes conheceram-se a 28 de abril de 2006 numa festa após a estreia de um filme no Festival de Cinema de Tribeca, em Nova Iorque. A.M. Lukas conta que pouco depois o seu corpo "começou a ficar estranhamente pesado". A realizadora pensa que terá sido drogada, uma vez que guarda muito poucas memórias dessa noite. Mas diz que se recorda de, num dos poucos momentos de consciência, estar na companhia do ator português, que lhe segurava as pernas frouxas e a violava. Noutro momento, afirma ter visto Nuno Lopes a masturbar-se sobre o seu corpo nu. Também diz lembrar-se que no final da noite ele lhe chamou um táxi, deu-lhe 30 dólares para pagar a viagem e o seu número de telefone.

"Lukas não consentiu e não podia ter consentido em fazer sexo com o sr. Lopes", lê-se na queixa. "No dia seguinte, Lukas foi ao hospital, o hospital aplicou um kit de violação e Lukas relatou a violação à polícia. A vida de Lukas mudou para sempre."

A.M. Lukas (AP)

A realizadora afirma que ligou para Nuno Lopes quando estava no hospital e que este confirmou que tinham tido relações sexuais e que não tinha usado preservativo. Tendo em conta esse facto, A.M. Lukas tomou medicação para prevenir uma eventual gravidez e doenças sexuais. Num encontro posterior, conta A.M. Lukas, o ator terá voltado a confirmar o encontro mas não admitiu que tenha havido uma violação.

"Foi dada ao sr. Lopes a oportunidade de assumir a responsabilidade pelos seus atos: reconhecer o que fez, explicar-se e pedir desculpas. Ele imediatamente recusou-se a fazê-lo e comunicou em termos inequívocos que nunca reconheceria qualquer irregularidade", escreve A.M. Lukas num breve comunicado no site da firma de advogados Wigdor. "Não podemos aceitar um mundo em que os autores de comportamentos hediondos e desumanos sejam capazes de viver as suas vidas livremente, com impunidade e sem consequências sociais, enquanto as suas vítimas sofrem em silêncio. Não estou ansiosa pelas formas como tenho a certeza de que os advogados do sr. Lopes tentarão humilhar-me e invalidar-me. Mas não serei dissuadida de obter justiça."

A declaração de Nuno Lopes: "Refuto todas as acusações que me são feitas"

Numa declaração enviada à imprensa, Nuno Lopes refere que, apesar de salvaguardar desde sempre a sua vida pessoal, "neste caso" tem "a maior vontade de vir a público esclarecer e contar a verdade sobre esta história". "No entanto, e contra os meus instintos, fui veementemente instruído pelos meus advogados americanos a abster-me de revelar todos e quaisquer detalhes sobre o processo movido ontem em Nova Iorque, que contém alegações com 17 anos, do tempo em que eu era estudante de representação em N.Y. em 2006", explica.

"Por enquanto, posso apenas dizer isto:

1. Recentemente recebi com surpresa e choque uma carta vinda dos Estado Unidos por parte dos advogados de A. M. LUKAS, a acusar-me de ter drogado e violado A. M. LUKAS há 17 anos, pedindo-me que propusesse uma quantia monetária para este caso acabar, e um pedido de desculpas.

Rejeitei ambos.

2. Sou moralmente e eticamente incapaz de cometer os atos de que me acusam. Jamais drogaria alguém e jamais me aproveitaria de uma pessoa incapacitada, quer por excesso de álcool ou por influência de quaisquer outras substâncias. Nem hoje nem há 17 anos.

3. Tenho o maior respeito e solidariedade por todas as vítimas de qualquer tipo de violência.

4. Estou de consciência absolutamente tranquila, mas ciente das consequências gravíssimas que este caso representa. E de como a minha decisão de recusar um acordo confidencial e avançar publicamente para tribunal aporta consequências para a minha reputação quer pessoal quer profissional.

5. Não obstante quero deixar bem claro que refuto todas as acusações que me são feitas, que espero que este caso seja prontamente esclarecido e julgado justamente pelas autoridades competentes e que nunca terei medo de agir judicialmente contra qualquer pessoa que tente difamar o meu bom nome."

Lei de Sobreviventes Adultos de Nova Iorque permite denúncias até dia 23

Segundo o comunicado de A.M. Lukas, a violação causou-lhe graves traumas psicológicos e emocionais que persistem até hoje. A guionista e realizadora sublinha que foi diagnosticada com transtorno de stress pós-traumático, assim como transtorno de bipolaridade, e que passou a ter pensamentos suicidas após a alegada agressão sexual.

"Ao apresentar a sua queixa, ao abrigo da Lei dos Sobreviventes Adultos de Nova Iorque, a realizadora procura responsabilizar Nuno Lopes pelo que fez e chamar a atenção para o prazo urgente para outros sobreviventes de violência sexual, que, como ela, podem finalmente responsabilizar os seus violadores", explica o comunicado. O prazo para abrir um caso de acordo com a Lei de Sobreviventes Adultos de Nova Iorque será 23 de novembro de 2023.

A.M. Lukas é uma realizadora conhecida pela longa-metragem "Hollidaysburg" (2014) e pela curta-metragem "One Cambodian Family Please for My Pleasure" (2018), que esteve na abertura do festival de Sundance e foi premiada noutros festivais.

O ator Nuno Lopes, atualmente com 45 anos, é um dos mais requisitados e premiados intérpretes portugueses. Ao longo do último ano pudemos vê-lo no cinema em "Great Yarmouth", de Marco Martins, assim como no díptico "Mal Viver"/ "Viver Mal", de João Canijo.

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