Imagens de drone mostram carro carregado de explosivos junto à barragem de Nova Kakhovka antes da explosão

19 jun 2023, 13:24
Carro armadilhado junto à barragem Nova Kakhovka antes da explosão (Exército ucraniano via AP)

 

 

A Associated Press (AP) teve acesso a imagens capturadas por drones que mostram o que parece ser um carro carregado de explosivos

Já se passaram mais de duas semanas desde a explosão da barragem de Nova Kakhovka, em Kherson, e ainda não se sabe quem foi o responsável pelo incidente que provocou inundações naquela região do leste da Ucrânia. Entretanto, vieram a público imagens de drones que adensam as suspeitas em torno da Rússia.

São imagens capturadas pelo exército ucraniano no topo da barragem, a que a agência de notícias Associated Press (AP) teve acesso, e que mostram o que agência descreve como um "carro carregado de explosivos" estacionado no local, com o tejadilho aberto e a revelar barris de grande dimensão, que a agência diz ser uma mina terrestre ligada a um cabo que segue em direção ao lado russo do rio Dniepre.

Nova Kakhovka é uma de várias barragens da era soviética dispersas pelo rio Dniepre. São estruturas muito resistentes, construídas após os ataques a barragens alemãs, em 1943. A título de exemplo, aponta a AP, para destruir a barragem Mohne naquele ano foram necessárias "bombas saltitantes" de 4,5 toneladas.

Ora, segundo Sidharth Kaushal, investigador do Royal United Services Institute, de Londres, a Ucrânia não tem nenhum míssil com esse poder. Citado pela AP, o especialista acrescenta mesmo que os ucranianos não têm sequer nenhum míssil com carga útil superior a 500 quilos.

Os especialistas também não acreditam que as tropas ucranianas possam ter transferido toneladas de explosivos para destruir a barragem, que estava há meses sob controlo das forças russas. Dois comandantes ucranianos citados pela AP indicam que as forças russas estavam instaladas há meses numa "sala de máquinas essencial" da barragem, e onde a explosão teve origem, de acordo com a Ukrhydroenergo, a agência estatal ucraniana que gere o sistema da barragem. Já em outubro do ano passado, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmava que a barragem tinha sido minada.

"É uma prática recorrente, minar [as posições] antes de uma retirada", explicou à AP Illia Zelinskyi, comandante da Guarda Bugskiy que, segundo a agência, não tem quaisquer ligações ao presidente ucraniano. "Neste contexto, as ações deles [dos russos] serviram para interromper as cadeias de abastecimento, bem como dificultar o cruzamento do rio Dniepre", notou.

Carro armadilhado junto à barragem Nova Kakhovka antes da explosão adensa suspeitas sobre a Rússia (Exército ucraniano via AP)

Illia Zelinskyi e outro comandante ucraniano, que quis falar com a AP sob condição de anonimato, estavam nas redondezas de Kherson e descreveram como o nível das águas subiu de tal forma, e tão rápido, que eles viram-se obrigados a retirarem das suas posições e a começarem do zero alguns planos da contraofensiva.

Um oficial responsável pelas comunicações das forças especiais ucranianas argumentou à AP que o carro que estava estacionado no topo da barragem de Nova Kakhovka cumpria dois objetivos: impedir qualquer avanço das forças de Kiev na barragem e ampliar a explosão, que também acredita ter tido origem na sala de máquinas da estrutura. É que o "carro-bomba", só por si, não teria sido suficiente para destruir a barragem, ressalva o oficial.

A explosão da barragem foi detetada pela NORSAR, a agência norueguesa de monitorização de sismos, às 02:54 da manhã, e ficou registada com uma magnitude de 2. Por comparação, uma explosão do porto de Beirute, que envolveu pelo menos 500 toneladas de explosivos e provocou uma destruição generalizada na cidade, ficou registada com uma magnitude 3,3.

"Isso significa que foi uma explosão significativa", confirmou Anne Strommen Lycke, CEO da NORSAR, citada pela AP.

Neste contexto, o Instituto para o Estudo de Guerra, um think thank norte-americano que tem vindo a monitorizar as ações das forças russas desde o início do conflito, não tem dúvidas que "o balanço das provas, dos motivos e da retórica sugere que os russos destruíram deliberadamente a barragem".

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