O passeio alemão por Belo Horizonte não foi racional. Sofrer quatro golos em sete minutos não foi fracasso: foi bloqueio total. A Alemanha tinha tudo para passar, perante as ausências de Neymar e Thiago Silva. O escrete desmoronou. Kroos, Khedira, Klose, Muller e Schurrle exterminaram o sonho do hexa. E ainda podia ter sido pior!
O dia 27 do Mundial-2014 em cinco pontos:1.
2. Neymar e Thiago Silva são «só» os dois jogadores mais influentes da seleção brasileira. Neymar é a Joia. De longe, o jogador mais talentoso desta geração do futebol brasileiro
3. A Alemanha surgia como favorita. Sem Neymar e Thiago Silva, o Brasil apresentava-se limitado e, com exceção da primeira parte com a Colômbia, ainda não tinha convencido verdadeiramente neste Mundial. Com processos coletivos consolidados, Joachim Low não teve que arriscar, ao contrário do que sucedia com Felipão. Mas nem o alemão mais fanático pela sua seleção imaginaria tamanhas facilidades. Bastou à Mannschaft ser eficaz. Nem precisou de ser brilhante. Excelente o trio Khedira-Ozil-Kroos, a dar goleada não só no marcador, mas sobretudo nas combinações, perante os buracos em zonas cruciais do jogo brasileiro. A Low bastou repetir o onze vitorioso frente à França e ainda deu para festejar o recorde de golos de Klose. Passeio.
4. O jogo do próximo sábado, para se apurar o terceiro lugar, em Brasília, pode ser penoso para o Brasil. Felipão, na conferência a tentar explicar o massacre, até quis lembrar esse fato: «Tem jogo sábado. Tem jogo sábado…» Scolari considera que o Brasil «só perdeu um jogo hoje». Recusa-se a aceitar a evidência de que este foi um momento histórico que o futebol brasileiro tem que saber interpretar. A consequência terá, por isso, que passar pela sua saída, desta vez sem glória, do comando técnico do escrete. Haverá discernimento para que o futebol brasileiro tire alguma lição do pesadelo de Belo Horizonte?
5. Argentina ou Holanda, quem será o segundo finalista do próximo dia 13? O percurso de argentinos e holandeses até esta meia-final em São Paulo mostrou sinais um pouco contraditórios. A Argentina não encanta, mas soma cinco vitórias em cinco jogos: sempre à tangente, é certo, mas quase sempre com uma noção de controlo que costuma apontar um padrão de eventual campeão do Mundo. Messi está a decidir, a defesa começou caótica naquela primeira parte com a Bósnia mas foi assentando. E não, a Argentina não está a ser só Messi. Estava também a ser Di Maria, que lamentavelmente para os argentinos e para todos os amantes de futebol não pode atuar; e também Mascherano, peça essencial nos equilíbrios do processo de jogo da alviceleste. A Holanda começou de forma épica, com aquela reviravolta de 1-0 para 1-5 frente à Espanha. Os talento e a capacidade concretizadora de Van Persie e Robben ficaram bem provados, mas os golos e os triunfos da laranja (1-5 à Espanha, 3-2 à Austrália, 0-2 ao Chile, 2-1 ao México) não foram suficientes para que a equipa de Van Gaal se confirmasse como clara candidata ao título. Há até quem acuse o selecionador holandês de desvirtuar a sua própria memória, ao insistir numa equipa com cinco defesas, sem futebol de ataque continuado e demasiado apoiado nas saídas rápidas de Robben. Ainda por cima com Van Persie em dúvida, Robben vai mesmo ter que ser a grande esperança para a laranja repetir presença na final. Será que chega para afundar a Argentina?
«Do lado de cá» é um espaço de opinião da autoria de Germano Almeida, jornalista do Maisfutebol, que aqui escreve todos os dias durante o Campeonato do Mundo. Germano Almeida é também responsável pelas crónicas «Nem de propósito» e pela rubrica «Mundo Brasil», publicadas na revista MF Total. Pode segui-lo no Twitter ou no Facebook .