Mais de 130 mortos e 11 detenções: o que se sabe até agora sobre o ataque em Moscovo

Daniela Costa Teixeira | Pedro Falardo , atualizado às 10:38
23 mar, 08:29

Vladimir Putin já reagiu ao ataque que tinha sido antecipado pelos Estados Unidos há duas semanas

A sala de espetáculos Crocus City Hall, onde decorria um concerto da banda russa Picnic, foi esta sexta-feira palco de um tiroteio e de explosões que deram origem a um incêndio. Segundo a agência RIA Novosti, “quatro homens camuflados abriram fogo”, tendo utilizado “armas automáticas”. Foram ainda detonadas uma granada ou bomba no local. O Estado Islâmico reivindicou o ataque, informação que os Estados Unidos também já vieram confirmar.

Na manhã deste sábado, o Serviço Federal de Segurança (FSB) russo anunciou a detenção de 11 pessoas, incluindo quatro homens que diz terem estado "diretamente envolvidos" no ataque. De acordo com a agência de notícias RIA Novosti, o chefe do FSB, Alexander Bortnikov, informou Vladimir Putin sobre estas detenções.

Ao início da manhã deste sábado, tinham sido contabilizadas pelo menos 133 vítimas mortais e 107 feridos, incluindo cinco crianças, de acordo com o Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB). Uma vez que a explosão e consequente incêndio causaram o colapso parcial da estrutura do edifício e que várias pessoas estavam retidas no local, é possível que o número de mortos e feridos venha a aumentar. 

Entre as vítimas mortais estão crianças, revelou a deputada russa Nina Ostanina. “Há crianças entre os que morreram no Crocus City Hall”, afirmou Ostanina, membro da câmara baixa do parlamento russo, citada pelo portal de notícias russo Fontanka.

O Crocus City Hall, com capacidade para 6.200 pessoas, fica no distrito de Krasnogorsk, no noroeste de Moscovo e o autarca de Moscovo, Sergey Sobyanin, emitiu um comunicado no Telegram no qual ordenou a suspensão de todos os eventos públicos na cidade. Mais tarde, o Ministério da Cultura da Rússia ordenou o cancelamento de todos os eventos culturais no país.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, já veio condenar o ataque e desejar as rápidas melhoras às vítimas que estão nos hospitais.

Estado Islâmico reivindica ataque

Não se sabe ainda a nacionalidade das quatro pessoas que, alegadamente, estiveram envolvidas no tiroteio e na explosão. No entanto, o Estado Islâmico já veio reivindicar o ataque.

Através do seu grupo de media Al-Amaq, o Estado Islâmico, também conhecido como ISIS, reivindicou a autoria do ataque a Moscovo. A informação foi adiantada pelo jornalista da France24 Wassim Nasr. O jornalista adiantou também que o grupo terrorista disse que os atacantes "se retiraram em segurança".

"Combatentes do Estado Islâmico atacaram um grande agrupamento de cristãos na cidade de Krasnogorsk, nos arredores da capital russa, Moscovo, matando e ferindo centenas de pessoas e provocando uma destruição generalizada no local, antes de se retirarem para as suas bases em segurança", informa a Amaq.

Antes disso, as trocas de acusações entre a Rússia e a Ucrânia não tardaram a aparecer. À agência RIA Novosti, o senador russo Viktor Bondarev disse que o tiroteio desta sexta-feira em Moscovo é um “ataque terrorista” e uma “sabotagem por parte da Ucrânia”. Na sequência desta suspeita, o ex-presidente russo, Dmitry Medvedev, apressou-se a garantir que a Rússia “destruirá” os líderes ucranianos caso se confirme que são responsáveis pelo ataque desta sexta-feira. “Se for estabelecido que são terroristas do regime de Kiev... todos devem ser encontrados e destruídos impiedosamente como terroristas. Incluindo os líderes do Estado que cometeram tal atrocidade”, afirmou na rede Telegram.

Já a Presidência da República ucraniana e combatentes russos pró-Ucrânia negaram qualquer envolvimento no tiroteio. Mykhailo Podolyak, conselheiro de Volodymyr Zelensky, diz que se trata de um “ato terrorista”, mas assegura que a Ucrânia “não tem absolutamente nada que ver” com o ataque. 

Sejamos claros, a Ucrânia não tem absolutamente nada que ver com esses acontecimentos”, garantiu no Telegram.

Também a legião Liberdade da Rússia, um grupo de combatentes russos anti-Kremlin sediado na Ucrânia, negou também qualquer envolvimento. “Sublinhamos que a Legião não combate os civis russos”, declarou o grupo, que responsabilizou “o regime terrorista de [Vladimir] Putin”, presidente russo.

Momento do ataque à sala de espetáculos em Moscovo (via Associated Press)

Ao jornal Ukrainska Pravda, Andriy Yusov, responsável dos Serviços de Informação do Ministério da Defesa da Ucrânia, afirmou que o ataque desta sexta-feira em Moscovo é uma "provocação deliberada" do regime de Putin. “Esta é uma provocação deliberada dos serviços especiais de Putin, sobre a qual a comunidade internacional alertou. O tirano do Kremlin começou a sua carreira com isto e quer acabar com ela com os mesmos crimes contra os seus próprios cidadãos”, disse Yusov.

Mas há um terceiro elemento nesta equação de eventuais culpados: os Estados Unidos, segundo a Rússia. No Telegram, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, atacou a Casa Branca por ter dito que não tinha qualquer indício de que a Ucrânia esteve envolvida no ataque desta sexta-feira.

A Casa Branca diz não ver qualquer indicação de que a Ucrânia ou os ucranianos estejam envolvidos no ataque terrorista em Moscovo. Com que base é que os oficiais de Washington tiram conclusões, no meio da tragédia, sobre o não envolvimento de ninguém? Se os Estados Unidos têm ou tiveram dados fiáveis sobre este assunto, estes deveriam ser imediatamente entregues à Rússia.  E se não existem tais dados, a Casa Branca não tem o direito de conceder indulgências a quem quer que seja. Todos os envolvidos, como a liderança russa declarou, serão identificados pelas autoridades competentes”, escreveu.

A Guarda Nacional Russa, ou Rosgvardia, avançou que está a procurar os atacantes no local, mas a  agência RIA Novosti avança que terão fugido do local do tiroteio num Renault branco.

O aviso de um possível ataque 

A embaixada dos Estados Unidos na Rússia desaconselhou há duas semanas “grandes concentrações” em Moscovo, incluindo “concertos”, devido a “relatos de que os extremistas têm planos iminentes” para atacar multidões. 

O alerta foi emitido no passado dia 7 e a recomendação visava as 48 horas seguintes. No entanto, um responsável governamental americano afirmou à Reuters, sob anonimato, que os Estados Unidos avisaram a Rússia "nas últimas semanas" da possibilidade da ocorrência de um ataque no país. A mesma fonte refere que os serviços de informação americanos confirmaram que o ISIS-K é responsável pelo ataque que fez pelo menos 40 mortos.

O ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, lamentou as “notícias horrendas” do atentado em Moscovo, considerando que “ataques contra civis são sempre inaceitáveis”. “As notícias de Moscovo são horrendas. Ataques contra civis são sempre inaceitáveis”, escreveu o chefe da diplomacia portuguesa na rede social X, deixando condolências às famílias das vítimas.
 

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Alemanha classificou o sucedido como “um ataque horrível” que deve ser “investigado rapidamente”. Já o Ministério dos Negócios Estrangeiros da França disse que “todos os esforços devem ser feitos para determinar as causas desses atos hediondos”. 

O Governo brasileiro mostrou-se também solidário para com o povo e Governo da Rússia, reiterando o “repúdio a todo e qualquer ato de terrorismo”, na sequência do ataque mortal em Moscovo. Em comunicado, o Executivo brasileiro ainda que “ao expressar condolências aos familiares das vítimas e o desejo de pronta recuperação aos feridos, o Brasil manifesta sua solidariedade ao povo e ao governo da Rússia e reitera seu firme repúdio a todo e qualquer ato de terrorismo”. 

A União Europeia (EU) expressou a sua consternação pelo ataque terrorista  e condenou "qualquer ataque contra civis". "A UE está chocada e consternada com as notícias de um ataque terrorista no Crocus City Hall, em Moscovo", disse o porta-voz do Serviço Europeu para a Ação Externa (SEAE), Peter Stano, na sua conta oficial na rede social X, o antigo Twitter.

O porta-voz salientou que a UE "condena qualquer ataque contra civis". "Os nossos pensamentos estão com todos os cidadãos russos afetados" pelo ataque, acrescentou Peter Stano.

Yulia Navalnaya, viúva de Alexei Navalny condenou o “crime” cometido em Moscovo e envia condolências às famílias “Que pesadelo no Crocus. Condolências para as famílias das vítimas e recuperação para os feridos. Todos os envolvidos neste crime devem ser encontrados e levados à justiça”, escreveu Yulia Navalnaya no X.

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