Executivo comunista deixou dívida irrecuperável acima de 4 milhões na Câmara da Moita (que acumulou durante 30 anos)

Wilson Ledo , Atualizado às 19:51
3 mai 2022, 16:03
Câmara Municipal da Moita (Foto: Facebook)

Em causa estão dívidas relacionadas com o abastecimento de água, que incluem empresas que já não existem. Valor em dívida representa cerca de 9% do orçamento para este ano

O novo executivo da Câmara Municipal da Moita encontrou uma dívida superior a quatro milhões, deixada pela anterior presidência comunista, que diz ser irrecuperável. Em causa estão imparidades relacionadas com o abastecimento de água.

À CNN Portugal, a vice-presidente Sara Rodrigues e Silva explica que a avaliação de um auditor externo detetou uma dívida incobrável de 4,4 milhões de euros relativa ao abastecimento de água.

O anterior executivo comunista, liderado por Rui Garcia, tinha inserido esse valor na rubrica de clientes, o que à partida permitiria a sua recuperação. Mas a análise à dívida permitiu perceber que está “acumulada desde 1992”, ultrapassando os prazos de cobrança, e que inclui mesmo “empresas que já não existem”.

“Levou-nos a pensar que esta dívida era recuperável, que íamos conseguir cobrar. Mas é um dado que há muitos clientes que já não existem. Há empresas declaradas insolventes que estavam incluídas nesta dívida”, admite a vice-presidente.

Estes 4,4 milhões de euros em dívida irrecuperável representam cerca de 9% do orçamento que esta autarquia tinha previsto para o ano de 2022, com uma verba de 46 milhões de euros.

Sem motivos para explicação

Apesar das expectativas, esse dinheiro não vai entrar nas contas da autarquia. Sara Rodrigues e Silva explica que essa integração da dívida na conta de clientes permitiu manter o “resultado líquido positivo” para o anterior executivo da CDU, a força política que estava à frente da câmara desde sempre.

“Esse camuflar desse valor na conta de clientes era, de certa forma, um floreado que soube muito mal, teve um mau sabor mesmo”, classifica a edil, que explica que estes 4,4 milhões de euros deveriam ter sido identificados como sendo uma imparidade, ou seja, uma perda efetiva.

O executivo socialista diz não ter recebido explicações dos antecessores para esta situação, mas a vice-presidente Sara Rodrigues e Silva arrisca-se a destacar duas possíveis explicações: “Ou tinham conhecimento e não o queriam fazer, pelos resultados líquidos negativos que tal podia acarretar, com toda a gente a olhar com outros olhos para a gestão. Ou simplesmente porque não era reconhecido, não davam a devida importância”.

Não há projetos em causa

Este valor de mais de quatro milhões de euros é dinheiro que a autarquia estimava poder utilizar e que não vai ser possível cobrar. A vice-presidente diz agora estar a trabalhar para “que não se repita” e para garantir que nenhum projeto fique em causa por causa deste imprevisto nas contas.

“Era dinheiro que iríamos cobrar e que serviria para aquilo que são os novos projetos, para colmatar muitas necessidades que vamos tendo. Peço que não vai impedir. Estamos a fazer todos os esforços para que isso não interfira nas nossas contas”, reforçou.

O Partido Socialista venceu as últimas eleições autárquicas na Moita, uma câmara que sempre pertenceu à CDU. A edilidade era presidida por Rui Garcia, agora é presidida pelo socialista Carlos Rodrigues Albino.

A CNN Portugal tentou múltiplos contactos com Rui Garcia, que é vereador na autarquia, até ao momento sem qualquer resposta.

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