A chuva está violenta: há um problema em Portugal com o período de retorno (mas o que é isso?)

13 dez 2022, 15:48
Mau tempo em Lisboa (Lusa/ Tiago Petinga)

O presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, classificou o fenómeno que se abateu esta terça-feira sobre a região da Grande Lisboa como “muito raro”. “Chuvas que aconteciam antigamente de 100 em 100 anos estão acontecer agora com esta frequência. Tivemos numa só hora 30 milímetros de água, na semana passada tivemos em algumas bacias 40 milímetros”

O período de 100 anos de que falou o autarca refere-se ao "período de retorno", um parâmetro estatístico associado na meteorologia à periodicidade provável de fenómenos extremos acontecerem. E, de acordo com fonte do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), há de facto “vários estudos científicos” que apontam para um período de retorno de 100 anos para fenómenos como o que aconteceu na última madrugada e na quarta-feira da última semana.

Não significa que acontecessem exatamente de 100 em 100 anos. Aliás, os registos existentes não permitem sequer uma viagem tão longa no tempo para traçar esse retrato - trata-se de uma estatística que apontava uma probabilidade de periodicidade para estes fenómenos acontecerem de forma tão extrema.

Especialistas ouvidos pela CNN Portugal corroboram as declarações de Carlos Moedas que dão conta de uma redução desse período de retorno. “As indicações que temos, analisando o que se está a passar no mundo todo, é que são fenómenos cada vez mais frequentes. Não significa que aconteçam todos os anos. Mas o período de retorno está a diminuir. Eventos que tinham no passado 100 anos de período de retorno começam a ter períodos de 50 ou 30 anos”, alerta o climatologista Filipe Duarte Santos.

O IPMA ainda não tem dados relativos à última madrugada mas sabe já que a pluviosidade registada há uma semana, apesar de ter atingido alguns valores recorde, nem sequer foi a maior dos últimos anos. Os dados da semana passada mostram que apenas numa hora choveu um terço do que normalmente é esperado para um mês de dezembro normal em Lisboa (126 milímetros). Em seis horas, caiu mais de metade da chuva considerada normal para o mês todo.

Ainda assim, o valor máximo de chuva registada numa hora em Lisboa (47,8 milímetros) não ultrapassou o que foi registado pelo IPMA em Santarém há 25 anos. A 26 de setembro de 1997, caíram em Santarém 84 milímetros de chuva numa única hora.

Os dados do IPMA mostram ainda que, há uma semana, em 24 horas também não foram ultrapassados os máximos diários registados anteriormente. Na estação meteorológica do Instituto Geofísico registou-se na última quarta-feira a queda de 83,3 milímetros entre as 09:00 de dia 07 e as 09:00 de dia 08. A 18 de fevereiro de 2008, a estação meteorológica da Gago Coutinho registou 143,7 milímetros, a da Tapada da Ajuda registou 122,5 milímetros e a do Instituto Geofísico registou 118,4 milímetros.

“Estes fenómenos sempre existiram. A novidade é que metade dos eventos dos últimos 60 anos aconteceram nos últimos 20. Há um efeito direto das alterações climáticas, quer na periodicidade, quer na intensidade”, explica Pedro Garrett, climatologista. E, na memória de muitos, estão ainda as inundações da madrugada de 25 para 26 de novembro de 1967 - uma tragédia que terá provocado mais de sete centenas de mortos e destruído mais de 20 mil casas na região do Vale do Tejo.

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