Para o presidente, Guilherme Macedo, só deveria ser possível prescrever este fármaco mediante a garantia que a indicação é a correta: a obesidade associada à diabetes
A Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG) defendeu esta segunda-feira uma “prescrição médica muito controlada” do medicamento indicado para a diabetes tipo 2, mas que está a ser utilizado para perda de peso em pessoas sem esta doença.
Esta medicação, com a denominação comum internacional de semaglutido, “só deve ser prescrita para as suas indicações precisas, que é, neste momento, a diabete tipo 2 dificilmente controlada por outras formas”, adiantou à agência Lusa o presidente da SPG.
Em causa está, segundo noticiou esta segunda-feira o jornal Público, o medicamento aprovado e comparticipado em Portugal para o tratamento da diabetes tipo 2 e que “está a ser utilizado de forma desregrada para a perda de peso”, um “sucesso de vendas” que levou à rutura do abastecimento do mercado.
Para Guilherme Macedo, a solução passa por uma “prescrição médica muito controlada” para as pessoas com diabetes tipo 2 que necessitam do fármaco, que apresenta efeitos adversos temporários que “exigem alguma precaução”, como náuseas, vómitos e sensação de saciedade, estando também descritos alguns casos de pancreatite aguda.
“O problema tem a ver com o aumentar a literacia médica, no sentido de perceber que este produto não pode ser prescrito indiscriminadamente”, salientou o médico.
De acordo com Guilherme Macedo, “em princípio só deveria ser possível prescrever” este fármaco, uma solução injetável em caneta, mediante a garantia que a indicação é a correta - a obesidade associada à diabetes -, o que “não é exatamente o que está a acontecer neste momento”.
Segundo o presidente da SPG, os fármacos com comparticipação do Serviço Nacional de Saúde têm “beneficiado de alguma complacência na prescrição”, mas tem de haver um “verdadeiro controlo, no sentido de senso clínico” para utilização deste medicamento da farmacêutica Novo Nordisk.
“É natural que a prescrição deste fármaco possa vir a ter de ser alargada a várias especialidades que lidam com a obesidade, como a gastroenterologia, a endocrinologia e a própria cardiologia, mas depois de tem de haver algum controlo sobre a indicação para a prescrição”, disse.
Guilherme Macedo alertou ainda que o combate à obesidade não se faz exclusivamente pela utilização de um fármaco, cuja eficácia está muito relacionada com as mudanças de estilo de vida e exercício físico.
O especialista adiantou ainda ser necessário ter uma “noção realista de quanto peso é que se perde e como é que isso é feito” com a toma do semaglutido.
“O peso que se perde, de uma maneira geral, é de 10 a 15% do peso inicial com alguma rapidez, o que torna muito apelativo o seu uso. Este peso só é mantido, não só se se mantiverem as condições de mudança de estilo de vida, mas sobretudo se se mantiver o consumo deste fármaco”, sublinhou o médico.
Segundo disse, quando se suspende a tomada do fármaco, se as outras condições não se tiverem modificado, “rapidamente a pessoa volta ao peso inicial”.
“A implicação disso à distância é muito grande, porque estamos a aumentar largamente o consumo de um fármaco que, ainda para mais, tem alguns efeitos adversos importantes”, alertou o presidente da sociedade.
Segundo o relatório da Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) de março de 2021 sobre a avaliação da comparticipação, o Ozempic (semaglutido) está indicado para tratamento de adultos com diabetes mellitus tipo 2 insuficientemente controlada com IMC igual ou superior a 35 kg/m2, como adjuvante à dieta e exercício, em adição a outros medicamentos para o tratamento da diabetes.
“Face ao comparador liraglutido o medicamento sugeriu comparabilidade terapêutica e apresenta um custo menor que o mesmo”, concluiu o documento.