Myanmar: dois funcionários de organização humanitária assassinados

30 dez 2021, 04:57
Myanmar

Colaboradores da organização Save the Children, que estavam desaparecidos, foram mortos num ataque a civis alegadamente conduzido pelo exército

 

O pior cenário confirmou-se para a organização não-governamental (ONG) de fins humanitários Save the Children: os dois funcionários que estavam desaparecidos em Myanmar, após um massacre alegadamente perpetrado por forças do governo, foram mortos. A informação foi confirmada pela ONG, que se dedica à defesa dos direitos das crianças por todo o mundo.

"É com profunda tristeza que confirmamos que dois dos nossos funcionários estão entre os corpos queimados encontrados em Myanmar após um ataque dos militares na véspera de Natal. Ambos eram pais recentes e trabalhavam na educação de crianças", comunicou a organização através das suas redes sociais. “O Conselho de Segurança da ONU deve reuni-ser e tomar medidas em relação aos responsáveis”, acrescentou a ONG, com sede em Londres.

Para a Save the Children, não existe qualquer dúvida sobre a responsabilidade dos soldados do exército de Myanmar no massacre, que vitimou pelo menos 35 pessoas, incluindo mulheres e crianças. Segundo a denúncia feita em cima do acontecimento pela Save the Children, citando relatos de fontes no terreno, "os militares forçaram as pessoas a sair dos carros, prenderam alguns, mataram outros e queimaram os corpos".

O massacre está confirmado, mas a Junta Militar, que governa a antiga Birmânia desde o golpe militar de fevereiro, nega responsabilidade pelas mortes. Em reação à divulgação internacional do caso, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Myanmar afirmou, em comunicado, que as notícias imputando responsabilidades aos militares tinham origem em "elementos antigovernamentais, terroristas e grupos rebeldes", e não estavam verificadas oficialmente.

Um desmentido que contrasta com os relatos de sobreviventes e de outras testemunhas. A imprensa ligada à Junta Militar avança, entretanto, com outra versão dos acontecimentos: não nega que as mortes tenham sido provocadas por militares do exército, mas alega que as vítimas eram “terroristas armados”, ligados a milícias anti-governamentais.

Este foi apenas o mais recente caso de massacres de populações civis às mãos do exército da Junta Militar. Na maioria dos casos, as autoridades nem se dão ao trabalho de desmentir responsabilidade nas mortes, mas justificam-nas acusando as vítimas de serem terroristas ou ajudarem movimentos subversivos. Acusações que chocam de frente com a evidência de que muitas das vítimas são mulheres, crianças e idosos, incluindo até pessoas deficientes. 

Os massacres têm ocorrido sobretudo nas regiões do país onde movimentos de resistência pró-democracia são mais ativos, exigindo à Junta Militar que reconheça o legítimo governo do país, eleito democraticamente, que era liderado por Aung San Suu Kyi.

Martin Griffiths, o sub-secretário-geral das Nações Unidas para assuntos humanitários e ajuda de emergência, já reconheceu que os relatos dos massacres são credíveis, e condenou o que se está a passar em Myanmar. "Condeno este grave incidente e todos os ataques a civis em todo o país", disse Griffiths, que desafiou as autoridades militares a "lançar imediatamente uma investigação exaustiva e transparente sobre o incidente, para que os autores possam ser rapidamente levados à justiça".

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