"O aperto financeiro não está concluído", alerta Centeno

ECO - Parceiro CNN Portugal , Mariana Espírito Santo
4 out 2023, 12:48
Governador do Banco de Portugal, Mário Centeno (Manuel de Almeida/LUSA)

Mesmo que as taxas diretoras estabilizem, a "taxa de juro real vai continuar a aumentar", avisa o governador do Banco de Portugal.

O governador do Banco de Portugal alerta que, mesmo que as taxas de juro estabilizem, vão continuar a produzir efeitos pelo que “o aperto financeiro não está concluído”. Na apresentação do boletim económico de outubro, que revê em baixa as previsões de crescimento económico, Mário Centeno aponta assim que é necessário “ter alguma cautela com decisões no futuro próximo”.

“A taxa de juro real vai continuar a aumentar porque a inflação está a cair, e mesmo com os juros nominais estáveis, a taxa real vai aumentar, pelo que o aperto financeiro não está concluído”, avisa Mário Centeno. Por isso, “temos de ter alguma cautela com decisões no futuro próximo”, alerta.

O aviso também se aplica aos bancos, “cujo ciclo de resultados parece ser bastante favorável”, admite Centeno. “Requer-se neste momento que cuidem do que são os créditos que concederam, aproveitem este momento para criar almofadas para poder fazer face a incertezas e evolução da política monetária”, aconselha o governador.

Apesar da desaceleração dos preços, o governador do banco central alerta também que “os tempos da inflação muito baixa são passado“. “Temos de nos habituar a que é normal que os preços subam idealmente 2% por ano”, defende.

As projeções do Banco de Portugal para a inflação, medida pela variação do Índice harmonizado de preços no consumidor, são de 5,4% em 2023, uma revisão em alta face aos 5,2% estimados em junho, recuando para 3,6% em 2024 e 2,1% em 2025.

Sobre os impactos da inflação na política orçamental, o ex-ministro das Finanças aponta que “quando há um choque inflacionista inesperado, quem tem dívida fica sempre a ganhar: é o momento mais fácil de fazer reduzir a divida em percentagem do PIB”. Já o “efeito dos juros é lento e faz-se sentir de forma lenta”.

Desta forma, considera que “é preciso ter alguma cautela quando se usam expressões como folgas”, nomeadamente para medidas que “nos podemos vir a arrepender” e apela a que o “equilíbrio seja preservado”. Mesmo assim, “as políticas familiares sobre consumo e dívida devem ser geridas tendo presente que a situação é muito resiliente, e mostrou muita robustez”.

Para Centeno, o que permitiu esta situação e o “ponto-chave que ditará o sucesso do ajustamento” é o mercado de trabalho. Até agora mostrou bastante resiliência, mas a questão é se “continuará a funcionar como um dique para conter as tensões que se vão criando em todas as dimensões da economia ou se vai ser primeira peça do dominó e gerar aterragem que não seja aquela com que contamos”, alerta.

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