Conceituada galerista, tinha 90 anos de idade. Foi promotora da arte contemporânea portuguesa e fundou a Fundação Carmona e Costa com o marido
A colecionadora de arte Maria da Graça Carmona e Costa, uma das maiores mecenas privadas do país, morreu esta segunda-feira, em Lisboa, aos 90 anos, disse à agência Lusa fonte próxima da galerista.
Fundadora da Fundação Carmona e Costa com o marido, Vítor Carmona e Costa, em 1997, consolidou um percurso de mais de meio século de promoção da arte contemporânea portuguesa, com uma atividade filantrópica permanente e a construção de uma coleção própria com um dos maiores acervos do país.
Natural de Lisboa, onde nasceu em 1933, Maria da Graça Carmona e Costa frequentou, na década de 1970, o primeiro curso de formação de Iniciação à Arte Moderna promovido pela Sociedade Nacional de Belas Artes.
Em 2018, o Ministério da Cultura atribuiu-lhe a Medalha de Mérito Cultural, reconhecendo o seu "inestimável trabalho de uma vida dedicada ao fomento das artes visuais, da promoção e divulgação contínua dos artistas contemporâneos", ao longo de décadas, sublinhou, na altura, a tutela da cultura.
"Maria da Graça Carmona e Costa é uma personalidade emblemática no panorama da arte contemporânea portuguesa", com um "papel determinante no apoio e divulgação de várias gerações de criadores nacionais, quer em Portugal, quer no estrangeiro", salientou também o Ministério da Cultura quando da atribuição.
Apaixonada pelas artes plásticas, Maria da Graça Carmona e Costa contactou, nos anos 1970, com destacadas personalidades da arte portuguesa como Almada Negreiros, José Augusto-França e o crítico Rui Mário Gonçalves, iniciando por essa altura a sua atividade na Galeria Quadrum, em Lisboa, fundada por Dulce D’Agro.
A Quadrum foi um dos espaços galerísticos mais importantes das artes visuais nesse período, expondo e promovendo obras de artistas portugueses como Alberto Carneiro, Álvaro Lapa, Ana Hatherly, Ana Vieira, Ângelo de Sousa, Carlos Nogueira, Eduardo Nery, Ernesto de Sousa, Fernando Calhau, Helena Almeida, Joaquim Rodrigo, Julião Sarmento, Menez, Nadir Afonso, Noronha da Costa, entre outros.
No final dos anos 1980, fundou o gabinete Giefarte, espaço onde divulgou a obra de artistas e criadores como Ana Vieira, António Palolo, Cristina Ataíde, Helena Almeida, Hugo Canoilas, Ilda David, Jorge Martins, João Vieira, Nikias Skapinakis, Pedro Portugal, Pedro Proença.
O acervo de arte da Giefarte integra muitos trabalhos e criações de autores cujo percurso acompanhou, como Álvaro Lapa, Ana Jotta, António Júlio Duarte, Daniel Blaufuks, João Penalva, Jorge Molder, Jorge Queiroz, José Luís Neto ou Pedro Cabrita Reis, representados na sua coleção.
Em 1997, criou a Fundação Carmona e Costa com o seu marido – Vítor Carmona e Costa -, com a finalidade de dinamizar iniciativas da arte contemporânea portuguesa, organizando exposições, conferências e edição de livros e catálogos sobre arte.
Em 2005, inaugurou um espaço dedicado às artes decorativas – onde expõe obras de porcelana e faiança colecionadas por Vítor Carmona e Costa ao longo dos anos -, e outro destinado à arte contemporânea, realizando desde então exposições regulares.
A sua coleção de arte, iniciada no contexto da Fundação Carmona e Costa, continuou a expandir-se, sobretudo na área do desenho, que a galerista considerava transversal a todas as disciplinas artísticas.
Em 2000, a Fundação Carmona e Costa iniciou um programa de apoio à arte contemporânea em Portugal, promovendo, nesse âmbito, a Bolsa Fulbright/Fundação Carmona e Costa e a Bolsa de Estudos destinada a alunos do Ar.Co – Centro de Arte e Comunicação Visual de Lisboa.
O Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT) inaugurou em outubro de 2023 a exposição "Álbum de Família – Obras da Coleção Fundação Carmona e Costa", pela primeira vez apresentada ao público, "de modo sistemático", com curadoria de João Pinharanda, organizada em três momentos.
No MAAT, a primeira parte ficará patente até 01 de abril e na Fundação Carmona e Costa são apresentadas duas exposições sucessivas, a segunda, inaugurada em outubro de 2023 que fica patente até ao final de janeiro, e a terceira entre janeiro a março deste ano.
A coleção, indica a página 'online' do MAAT, "dá conta não apenas do gosto pessoal mas também de parte significativa da própria história da arte portuguesa nas últimas décadas, explicitando o modo como nela interveio Maria da Graça Carmona e Costa através da promoção de exposições ou aquisições."