Júlio Magalhães suspende "voluntariamente" apresentação de noticiários

19 mar, 17:02

Jornalista da TVI comunicou indisponibilidade para se apresentar ao trabalho na sequência da Operação Maestro, na qual é suspeito de fraude para obtenção de fundos europeus

O jornalista da TVI Júlio Magalhães, um dos suspeitos na Operação Maestro, suspendeu a atividade profissional na sequência dos acontecimentos que envolveram várias ações de buscas, entre as quais à sua residência.

"Júlio Magalhães comunicou à empresa a sua indisponibilidade para se apresentar ao trabalho e suspendeu voluntariamente as tarefas de apresentação de noticiários que lhe estavam atribuídas", informa a TVI em comunicado divulgado às redações.

A ausência dos ecrãs, bem como de qualquer trabalho como jornalista, vai manter-se até ao esclarecimento da situação.

"É entendimento mútuo que essa situação se deverá manter até esclarecimento complementar dos factos aludidos na Operação Maestro. A TVI pautará a sua conduta pelo respeito que lhe merece o jornalista, em obediência, também, ao princípio da presunção de inocência a que todos os cidadãos têm direito", conclui o comunicado.

Suspeitas de fraude com fundos europeus de cerca de 40 milhões de euros levaram a Polícia Judiciária a lançar esta terça-feira a megaoperação "Maestro", com buscas em vários locais do país, e o empresário do setor têxtil Manuel Serrão e o jornalista Júlio Magalhães como suspeitos do alegado esquema fradulento na criação de empresas e falsificação de despesas para obter subsídios.

Como explicou Henrique Machado, editor de sociedade da CNN Portugal, estamos perante "uma gigantesca fraude na atribuição de subsídios da União Europeia, nomeadamente através do FEDER". Os suspeitos criavam "empresas que se propunham à divulgação de marcas portuguesas ligadas ao têxtil e ao vestuário mas que apenas tinham o propósito fraudulento de ficcionar despesa para receber fundos europeus", explicou. "São criadas empresas feitas à medida para cumprir os requisitos da União Europeia, alegadamente para fazer a promoção de marcas em certames internacionais. Depois, essas empresas  apresentam despesas ficcionadas, são abonadas com centenas de milhares de euros e há um proveito ilícito dessas pessoas." Além de estar ligado diretamente a algumas dessas empresas, Manuel Serrão era também "o principal responsável da Associação Seletiva Moda, que decidia quem deveria receber os fundos europeus", sublinhou.

Criada há 30 anos e dirigida por Manuel Serrão, a Associação Seletiva Moda tem o poder de aprovar, dentro dos quadros comunitários, projetos de empresas financiados pela União Europeia com vista à promoção nacional e internacional da indústria têxtil e do vestuário. A associação é constituída pela Associação Têxtil e Vestuário de Portugal e pela Associação Nacional da Indústria de Lanifícios. Como se lê no site oficial, ao longo destes anos a Seletiva Moda já apoiou mais de 827 empresas em milhares de participações em feiras, além de promover outras iniciativas. Por exemplo, organiza também o principal salão têxtil português, o Modtíssimo, que se realiza duas vezes por ano.

As suspeitas recaem sobre 14 projetos cofinanciados por subsídios da União Europeia, executados entre 2015 e 2020, no valor de quase 40 milhões de euros. Nuno Mangas, da COMPETE 2020, empresa da administração central pública, responsável pela gestão de fundos europeus, Manuel Serrão, empresário do setor têxtil e comentador televisivo, e Júlio Magalhães, jornalista e sócio de Manuel Serrão em duas empresas (segundo o jornal Observador), estão a ser investigados.

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