Vieira suspeito de receber milhões em 55 negócios de jogadores do Benfica

6 jan 2022, 06:33

Em causa estão serviços de intermediação, sobretudo a quatro empresários: Bruno Macedo, Ulisses Santos, Isidoro Gímenez e Giuliano Bertolucci, segundo relatório da Autoridade Tributária no processo da operação Cartão Vermelho

Luís Filipe Vieira é considerado suspeito de recebimento indevido de ‘luvas’ em 55 negócios de transferência de jogadores do Benfica, compras e vendas entre 2012 e 2020, que geraram, no total, mais de 10 milhões de euros em comissões. A informação consta de um relatório da Autoridade Tributária no processo da operação Cartão Vermelho, a que a CNN Portugal teve acesso – e as suspeitas são validadas pelo Ministério Público.

A investigação é, agora, muito mais ampla do que em julho passado, quando Vieira foi detido e apenas confrontado com suspeitas sobre transferências de três atletas.  

Formalmente, são dezenas de milhões de euros que foram pagos, por serviços de intermediação, sobretudo a quatro empresários: Bruno Macedo, Ulisses Santos, Isidoro Gímenez e Giuliano Bertolucci. Mas o inspetor tributário Paulo Silva e o procurador Rosário Teixeira consideram que são quatro pessoas próximas do ex-presidente do Benfica, envolvidas nos 55 negócios sob investigação, e encontram ainda como padrão o facto de recorrerem aos mesmos métodos de recebimento das comissões, em sociedades no estrangeiro.

A investigação considera que os quatro podem ter sido utilitários a um alegado esquema de Vieira para depois receber de volta, de forma encapotada, grande parte da fatia das comissões. Pelo menos em relação a Macedo e a Bertolucci, foram encontrados negócios em que, mais tarde, ambos compraram imóveis em Portugal ao então líder do Benfica – o que é considerado uma forma de branquear milhões de euros de negócios do futebol.

Vinte e três dias depois da detenção do presidente do Benfica, do filho deste, Tiago Vieira, do amigo empresário José António dos Santos e do agente de jogadores Bruno Macedo, os inspetores tributários lançaram um alerta ao Ministério Público, em julho passado: os documentos apreendidos a Macedo revelaram 55 contratos “com contornos suspeitos (...) por serem utilizadas estruturas societárias não residentes sujeitas a tributação mais favorável, para os quais importa apurar os verdadeiros beneficiários dos ganhos obtidos."

Ligados a essas sociedades offshore e com participação nos negócios estão os nomes de Bruno Macedo, de Ulisses Santos, Isidoro Gímenez e Giuliano Bertolucci, que, acredita a investigação, têm ligações a Vieira.

Nos documentos a que a CNN Portugal teve acesso, estão informações sobre todos os negócios. A transferência de Seferovic, por exemplo, terá gerado uma comissão de um milhão de euros. E do avançado Cebolinha, 1,2 milhões. Na compra de Morato ao São Paulo, a comissão foi de 1,5 milhões. Na venda de Lisandro López ao Boca Juniors, 1,4 milhões de euros.

Vieira cai em escuta a impor comissão por intermediação fantasma 

Um caso que o procurador considera flagrante diz respeito ao negócio entre a SAD do Benfica e o clube alemão Borussia de Dortmund. A aquisição dos direitos de Julien Weigl geraram 2,5 milhões de euros em comissão. E referem os inspetores tributários que neste negócio a Benfica SAD não teve intermediário na compra do jogador mas que Luís Filipe Vieira indicou Ulisses Santos como alegado beneficiário de uma comissão de intermediação em que não participou.

Numa escuta telefónica, Vieira é apanhado a confidenciar: "Eu acho que nós devemos fazer o contrato com o Ulisses cá, que não tem nada a ver com o do outro gajo que representa ou não representa...nós aqui é que temos de fazer um contrato a dizer que é representante para nós aqui..."

Embora nas buscas, refere o inspetor Paulo Silva, não tenham sido detetadas faturas deste negócio, a Autoridade Tributária pede que se investigue, uma vez que Ulisses Santos aparece relacionado a sociedades offshore, onde poderá estar o pagamento da comissão de uma intermediação fantasma: "A sucessão de intermediários, de contratos e subcontratos dificulta o apuramento da verdade material dos factos relativos a cada negócio (...) indiciando tratar-se de operações subjacentes a esquemas que permitem o desvio de fundos da SL Benfica Futebol SAD para entidades terceiras, das quais importa apurar os seus reais beneficiários", refere o inspetor.  

Também foi apreendido um bloco com anotações manuscritas que para os inspetores indicia a existência de uma repartição de verbas a favor de Luís Filipe Vieira decorrentes do negócio com o jogador Derlis Mereles.

O Ministério Público pediu o levantamento das contas bancárias de todas as empresas, cerca de uma dezena delas em sociedades offshore, com as quais a SAD benfiquista teve negócios.

Foram ainda realizadas buscas suplementares na SAD do clube encarnado, em agosto passado.

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