Ela foi a 34 primeiros encontros em 19 países no último ano. Eis o que aprendeu

CNN , Faith Karimi
3 abr 2023, 08:53
Loni James cortesia para a CNN

Loni James tem 40 anos, está a viajar desde a Primavera de 2022 e assim vai continuar durante os próximos meses. Usa aplicações como o Tinder para marcar encontros em cada país que visita - incluindo os Açores em Portugal. Tem tido encontros de sonho, algumas frustrações e outras estranhezas. Mas tem aprendido muito. E tudo começou numa tragédia...

Loni James embarcou num voo de Washington para Londres no ano passado, com um saco de viagem, uma mochila para o dia-a-dia e um itinerário pouco convencional.

Era final de março e o seu plano era simples: viajar pelo mundo e ter um encontro com um local em cada país que visitasse.

Dias após a sua chegada a Londres, ela fez “swipe” para a direita no Tinder e conheceu um homem com dupla nacionalidade, francês e britânico, que adorava viajar. Umas cervejas num bar perto da Tower Bridge transformaram-se num jantar de cinco horas e em longas conversas sobre viagens anteriores.

Ela nunca mais viu o homem. Mas foi assim que começou a sua viagem - que não tinha um itinerário específico pensado. Durante o último ano, James diz ter usado as aplicações Tinder, Hinge e Bumble para ir a 34 primeiros encontros em 19 países, numa série de rituais românticos cheios de intrigas, surpresas e estreias culturais.

Houve o encontro de 13 horas no Cairo durante o mês santo do Ramadão - o seu primeiro encontro com um muçulmano - com um homem que a encantou com o seu sorriso radiante e citações da série de televisão “Friends” no seu perfil no Tinder. O seu encontro seguinte foi com outro homem egípcio em Alexandria, que revelou que estava noivo e passou o encontro a suspirar por um amor passado.

“Ele precisava claramente de alguém que o ouvisse e eu representava um espaço seguro", diz James. “Tive conversas incrivelmente íntimas e vulneráveis com as pessoas. Há algo de especial que acontece quando as pessoas sabem que nunca mais te vão ver”.

Houve também um encontro na cidade italiana de Verona com um encantador músico clássico, que a passeou numa motoreta e lhe deu um tour noturno pelos muitos pontos históricos da cidade.

Houve ainda um encontro desastroso na Turquia, com um homem que ficou zangado quando ela rejeitou os seus avanços físicos e a deixou na sua loja de parapente, prometendo regressar. Nunca regressou. Depois de esperar horas numa tempestade, James passou a noite num banco na loja.

Uma imagem do perfil de Loni James no Tinder. Cortesia: Loni James

O seu encontro mais recente foi com um homem sul-africano na Cidade do Cabo, que sacou de um baralho de cartas durante o jantar e desatou a fazer truques de cartas à mesa.

Mas James, 40 anos, diz que mesmo os maus encontros têm sido memoráveis - e que todos eles lhe ensinaram alguma coisa.

“No passado, olhava para os encontros como teste que se passava ou chumbava. Se saia com alguém e não acabasse num beijo de boa noite ou a marcar um segundo encontro, eu considerava-o um chumbo”, diz ela. “Já não penso assim. Percebo agora o valor de ir a um encontro e estar grata por alguém se ter aberto e te ter dado o seu tempo... partilhado a sua história contigo".

“Aprendi que o romance aparece de muitas formas”, acrescenta. “Não tem de ser caro e não há uma fórmula certa que faça o romance acontecer. Para mim, é quando há ligação e intencionalidade. É a pessoa que te ouve, que procura fazer-te sentir especial, que quer trazer-te um sorriso à cara com um gesto atencioso e a pessoa que quer saber o que pensas e que procura conhecer-te verdadeiramente”.

A morte da sua mãe levou-a a agarrar o momento

A decisão de James de fazer uma viagem a solo teve origem numa tragédia.

Ela viu a sua mãe lutar desde os 48 anos até à sua morte, há um ano e meio, aos 63 anos. Isso estimulou James a aproveitar o momento e a lançar as suas aventuras.

“Os meus pais tinham feito tudo bem, de acordo com a cultura americana. Eles casaram-se. Criaram três filhos... tinham bons empregos... pagaram a casa”, conta. “Eles tinham grandes planos para a sua reforma, mas a minha mãe não conseguiu chegar à reforma”.

James, que não é casada e não tem filhos, começou a poupar para a sua viagem dois anos antes da morte da sua mãe, em outubro de 2021. Ela mudou-se de Seattle para Spokane, em Washington, arrendou um apartamento mais barato e conseguiu ter um companheiro de casa para dividir despesas. Mais tarde, vendeu todas as suas coisas e mudou-se para viver com os pais e passar algum tempo com a mãe doente durante os seus últimos dias.

Ela não teve oportunidade de partilhar os seus planos de viagem com a mãe antes de morrer, mas lembra-se de um conselho-chave que a mãe lhe deu anos antes de o Alzheimer lhe ter roubado a capacidade de comunicação.

“Eu contei-lhe sobre um rapaz de quem gostava, e ela disse-me para me certificar de que ele gostava tanto de viajar como eu”, recorda. “Isso foi realmente impactante, no meio da sua doença ela sabia como isso era importante para mim... quando procurava um parceiro".

A viagem internacional de James coincidiu com um aumento das viagens a solo, estimuladas em parte pela pandemia.

James fez este autorretrato no deserto do Saara, na Mauritânia. Cortesia: Loni James

As pesquisas no Google nos Estados Unidos no mês passado para “viagens a solo” foram mais de três vezes mais elevadas do que em março de 2020.

“A incerteza de estar perto de outros durante uma pandemia fez com que os viajantes desconfiassem de viajar em grupo”, diz Janice Waugh, fundadora e editora da Solo Traveler. “Muitos continuaram a viajar sozinhos após descobrirem os benefícios das viagens a solo, tais como flexibilidade, liberdade e crescimento pessoal”.

Embora não seja raro os viajantes a solo encontrarem romance e amizade, é raro namorar alguém em cada país que se visita, diz Waugh.

Mas James atirou-se para a experiência e abraçou o bom e o mau. Ela permanece em albergues e Airbnbs ou com amigos e até mesmo amigos de amigos, deixando sempre espaço para a espontaneidade.

"As pessoas estarão no albergue a perguntar, 'Quem quer ir para aqui? Quem está livre durante sete dias? Querem fazer isto?’ E acabas num automóvel com estranhos", diz.

“Percebi que viajar períodos longos é muito diferente de ir de férias durante uma semana ou duas. Eu queria mesmo virar-me para a cultura, e queria ter uma experiência muito diferente por estar na estrada durante muito tempo".

Ela toma medidas para garantir a sua segurança

James diz que é frontal com os seus parceiros de encontros sobre o seu objetivo de sair com alguém em cada país que visita. Ela promete-lhes anonimato e, exceto para partilhar algumas fotos, recusa-se a fornecer os seus contactos à CNN.

Talvez a sua experiência mais memorável tenha sido o encontro de 13 horas no ano passado com o homem muçulmano no Cairo. Partilharam conversas sobre tudo, desde encontros online até à cultura muçulmana e casamentos combinados. Porque aconteceu durante o Ramadão, partilharam iftar - a refeição comida pelos muçulmanos em jejum logo após o pôr-do-sol.

James partilhou esta refeição tradicional, depois do pôr do sol, num encontro com um muçulmano no Cairo, no ano passado, durante o Ramadão. Cortesia: Loni James

“Nunca um homem se esforçou tanto num encontro”, diz ela sobre o seu dia juntos, que também incluiu visitas a museus e a um mosteiro, um passeio num riquexó e um espetáculo de dança folclórica noturna no deserto. “Havia tanta comida, era tão colorida. Experimentei todas estas coisas novas. A comida egípcia é espantosa”.

Desde então, teve encontros na Jordânia, Chipre, Turquia, Suíça, França, Itália, Eslovénia, Noruega, Islândia, nas ilhas dos Açores (Portugal), Marrocos, Tunísia, Mauritânia, Senegal, Gâmbia, Namíbia e África do Sul.

Ela publica as suas experiências num blogue e no Facebook e Instagram com a hashtag #ADateinEveryCountry, com numerosas mulheres a oferecem comentários e conselhos.

Como mulher que viaja sozinha, James diz que tem cuidado com a segurança. Ela partilha a sua localização com amigos, não bebe muito álcool, certifica-se de que o seu telefone está carregado e usa uma aplicação de partilha de boleias para que possa sair sozinha de um encontro.

Ela comunica com os homens através das aplicações de encontros e só dá o seu número de telefone depois de ter conhecido alguém pessoalmente. Ela também nunca permite que um parceiro de encontro a vá buscar ao local onde ela está hospedada.

Waugh, a especialista em viagens a solo, encoraja as mulheres a terem encontros em lugares públicos e a terem cuidado com quem se aproximam para pedir indicações.

“Encontro pessoas a toda a hora e faço-o seu eu a dar o primeiro passo. Penso que é mais provável que uma pessoa inadequada me escolha a mim do que eu a ela”, diz Waugh. “Eu escolho com quem falo, para onde vou ou onde me sento. Se precisar de pedir indicações, a minha primeira escolha é aproximar-me de uma família e depois talvez de um casal”.

James ainda não se sentiu insegura num encontro, mas já teve algumas experiências frustrantes. Os homens já a deixaram sozinha duas vezes: em Paphos, no Chipre, e na Cidade do Cabo, na África do Sul.

James na mesquita Ibn Tulun, no Cairo. “Quando escrevo sobre estes lugares, espero que isso crie curiosidade”, diz ela. Cortesia: Loni James

Depois houve o homem em Zurique que a foi buscar num Lotus, levou-a a jantar num restaurante caro apesar das suas objeções e escolheu a comida juntamente com um copo de Chablis de 84 dólares. No fim, pediu-lhe que dividisse a conta, estragando-lhe o orçamento de uma semana.

"Sei que soa glamoroso, e alguns dos meus encontros têm sido glamorosos", diz James. "Fiz parapente (em Fethiye, Turquia) em encontros. Fui também pescar no Círculo Ártico em encontros. Mas também já tive alguns encontros bem estranhos”.

A sua aventura alterou a sua perspetiva sobre encontros

James não voltou para os EUA desde que partiu, na Primavera de 2022. Ela planeia viajar mais alguns meses em África antes de se dirigir para a Ásia, Austrália e América do Sul.

Ela espera transformar a sua aventura global num livro que seja ao mesmo tempo divertido e educativo.

“Talvez as pessoas não escolham um livro sobre o Egipto, a Namíbia ou a Tunísia. Mas talvez fiquem intrigados com a minha história de encontros, e se por acaso aprenderem estas outras coisas sobre este país durante essa história de encontros, então vou considerar isso um enorme bónus”, diz ela.

“Percebo que o Egipto talvez não esteja na lista de desejos de toda a gente, talvez Marrocos também não esteja, e mesmo a Namíbia. Quando escrevo sobre estes lugares, espero que crie curiosidade... Espero que as histórias façam as pessoas rir, sonhar e atravessar oceanos para conhecer pessoas interessantes por todo o lado".

Até lá, ela continuará a viajar - pelo menos durante o próximo ano. Há muito mais para ver, muito mais para fazer.

James ainda não encontrou um parceiro. Ela diz estar aberta a ter um namorado que viva noutro país. Mas se isso não acontecer, ela está a saborear quase todos os momentos da sua viagem.

“Adoro ter as diferentes raças e religiões, a música, o estilo, o conhecimento e o contexto”, diz ela. “Há tanto a aprender quando nos rodeamos de pessoas de todas as diferentes áreas (do mundo)”.

James caminhando perto do Mont Blanc, na fronteira franco-suíça nos Alpes. Cortesia: Loni James

O encontro com homens em diferentes países alterou a sua perspetiva sobre ter encontros, diz.

Como mulher mais jovem, ela viu o “dating” como um meio para atingir um fim: encontrar um marido. Mas agora, diz, ela considera um privilégio ouvir a história de alguém e conhecê-lo sem o fardo das expectativas.

“Aprendi que os desafios dos encontros modernos existem em todo o lado”, conta. “As pessoas ainda estão a aprender como lidar com marcação onine de encontros, e as pessoas ainda são deixadas penduradas. Ficar pendurada é uma seca, mesmo quando acontece numa bela ilha. As suas inseguranças não desaparecem apenas quando se atravessa um oceano".

James diz estar contente por não ter adiado a viagem até ter um parceiro, como já tinha feito no passado. O ano passado, diz ela, ensinou-lhe muito sobre si mesma.

“Aprendi que sou a melhor versão de mim mesma quando viajo - a mais aberta e a mais curiosa”, confessa. “Estou fascinada com a forma como diferentes países abordam as mesmas coisas. Sou constantemente lembrada de que não existe uma forma correta de fazer as coisas”.

 

Foto no topo: Loni James fez uma viagem de carro na Namíbia, onde teve um encontro na capital, Windhoek. Cortesia: Loni James

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