Presidente do Twitter/X faz “afirmações loucas - e francamente risíveis” sobre a rede social

CNN , Oliver Darcy
13 ago 2023, 10:30
Linda Yaccarino em entrevista na CNBC a 10 de agosto de 2023

ANÁLISE || Oliver Darcy, repórter sénior da CNN, que cobre a interseção entre média, política e tecnologia, viu e ouviu a entrevista desta semana da presidente executiva do Twitter, Linda Yaccarino. Agora, chega a perguntar: "Ãh… O quê?!?!"

Linda Yaccarino está a viver num mundo de ilusão.

A figura de proa do Twitter/X fez, esta quinta-feira, uma série de afirmações loucas - e francamente risíveis - sobre a empresa controlada por Elon Musk, onde ela detém o título (pelo menos no papel) de presidente executiva, parecendo desconhecer o estado sombrio das coisas nesta plataforma em perigo.

Durante uma longa entrevista com Sara Eisen, da CNBC, Yaccarino descreveu a antiga plataforma do pássaro como se tudo estivesse não só bem, mas numa posição melhor desde a caótica aquisição e reinado de Musk.

Yaccarino falou de forma fantástica sobre o Twitter - que tem tido um verão de extrema dificuldade em desempenhar funções básicas, como mostrar tweets e alojar feeds de áudio em direto - e proclamou que a aplicação iria em breve mergulhar no mundo das videochamadas sem esforço e do processamento de pagamentos online sem falhas.

A ex-chefe de publicidade da NBCUniversal também fingiu que a mudança de marca do Twitter para X tinha sido bem executada, afirmando a Eisen que se tratou de uma “libertação” positiva para a empresa, e não de uma jogada mal feita que deitou imediatamente fora milhares de milhões em valor de marca. Durante a entrevista, referiu-se aos posts na plataforma como “tweets” e não como “Xs”, ou como é suposto chamarem-se atualmente. Ops!

Mas talvez uma afirmação ainda mais absurda de Yaccarino tenha surgido quando Eisen a pressionou sobre a segurança da marca e o discurso de ódio que aparece na plataforma desde a aquisição de Musk. Yaccarino, que já foi considerada uma pessoa séria na indústria, disse com uma cara séria que “99,9%” do conteúdo postado na plataforma é “saudável”.

“Segundo todas as métricas objetivas”, disse Yaccarino a Eisen, “X é uma plataforma muito mais saudável e segura do que era há um ano”.

Ãh… O quê?!?!

Não se sabe exatamente a que dados Yaccarino se estava a referir. Mas uma série de estudos realizados por investigadores de renome ao longo do último ano mostraram exatamente o contrário do que ela afirmou com tanta confiança. Organizações como a Liga Anti-Difamação, o Centro de Combate ao Ódio Digital, o Instituto para o Diálogo Estratégico [no original, Anti-Defamation League, Center for Countering Digital Hate e Institute for Strategic Dialogue] e outros investigadores publicaram os seus próprios relatórios, transmitindo uma mensagem semelhante: com Musk, o discurso de ódio está a aumentar, e não a diminuir.

No mesmo momento em que Yaccarino se sentava com Eisner, o grupo de segurança Secure Community Network enviava uma carta de abertura de olhoa a Musk, alertando para o facto de a retórica na sua plataforma poder “incitar à violência” contra a comunidade judaica. “Hashtags como #holohoax e #killthejews ainda levam os utilizadores a conteúdos antissemitas e violentos”, avisou a organização, acrescentando que a plataforma tem “mais trabalho a fazer”.

Até mesmo dois dos exemplos específicos que Yaccarino apontou, supostamente mostrando uma experiência positiva para os anunciantes, foram rapidamente derrubados na quinta-feira. Yaccarino celebrou o facto de a Coca-Cola e a State Farm comercializarem os seus produtos no Twitter/X, sublinhando o compromisso da plataforma com a segurança das marcas. Mas a organização progressista Media Matters rapidamente apresentou provas de que os anúncios da Coca-Cola e da State Farm tinham sido exibidos ao lado de material extremista e anti-vacinas.

A razão para todo este conteúdo repreensível é clara. Sob o comando de Musk, a plataforma acolheu de braços abertos nacionalistas brancos, teóricos da conspiração, ativistas anti-vacinas e vários outros extremistas. Musk, que raramente encontra uma teoria da conspiração que não abrace, também deu poder a estes utilizadores desagradáveis, impulsionando alegremente o seu conteúdo no seu site por uma taxa mensal de oito dólares.

Num caso recente e ilustrativo, Musk reintegrou uma conta que promovia a teoria da conspiração QAnon e que tinha sido banida por publicar imagens de abuso sexual de crianças. O utilizador foi posteriormente recompensado com um pagamento de 2.400 dólares [2.170 euros] do programa de partilha de receitas de publicidade da plataforma, de acordo com uma captura de ecrã que ele publicou.

Entretanto, quando Musk despediu de forma descuida milhares de funcionários do Twitter durante as suas primeiras semanas de trabalho, livrou a empresa de muitos dos funcionários encarregados da função crítica de moderação de conteúdos. E aplicou de forma desigual as regras de moderação de conteúdos, aparentemente sem ter em conta o que dizem os termos de serviço escritos da sua plataforma.

Durante todo este tempo, Musk difamou e prejudicou jornalistas e organizações noticiosas, que atuaram como anticorpos livres no sistema. E, como se isso não bastasse, retirou a esses utilizadores o seu estatuto de verificados, criando um caldo tóxico em que a verdade e a desinformação se entrelaçam como uma só.

Infelizmente, não é de admirar que as teorias da conspiração e o discurso de ódio estejam a florescer na plataforma.

Embora Yaccarino possa estar a fazer uma cara corajosa para as câmaras, a sua incapacidade de ver através do campo de distorção da realidade de Musk, ou pelo menos de reconhecer os problemas profundos da plataforma, não augura nada de bom para o futuro da empresa.

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