Sorrisos no reencontro da criatura com o criador

7 abr 2016, 10:10
Klopp volta a Dortmund

Dortmund-Liverpool é também Dortmund-Klopp. Um grande momento para seguir nesta quinta-feira

À mesma hora (20.05) em que o Sp. Braga vai iniciar a caminhada com vista à segunda meia-final europeia do seu historial – pode ver todas as informações sobre o jogo aqui e uma análise pormenorizada ao Shkhtar aqui - Dortmund será palco do jogo que concentra quase todas as atenções nesta quinta-feira europeia.

Como Guardiola no Camp Nou pelo Bayern, em 2015. Como Mourinho em Stamford Bridge pelo Inter, em 2010. O regresso de Jürgen Klopp a Dortmund, ao Signal Iduna Park, que sob o seu comando voltou a ser uma das grandes fortalezas do futebol europeu, é, indubitavelmente, a grande história desta ronda dos quartos de final, um reencontro entre criatura e criador, em lados opostos da barricada, com uma boa dose de emoções fortes mas, também, sentido de humor, como o demonstra a foto que abre este texto.

O regresso de Klopp à antiga casa foi pontuado por inúmeras piscadelas de olho deste género – algo que chegou a incomodar o bem disposto técnico alemão, desejoso de evitar que a antevisão do jogo se transformasse numa evocação sentimental: «Ninguém tem de estar preocupado com o que vou sentir. Estou um pouco desapontado por este ser o tema de conversa. A verdade é que disse adeus há nove meses, agora voltei por momentos, mas sempre me habituei a jogar contra velhos amigos e a querer ganhar-lhes. É disso que se trata», começou por referir. Depois, prosseguiu de forma calculadamente fria, ao acrescentar que não vai gastar mais tempo com reencontros efusivos: «Já falei com quem tinha de falar. Conheço os caminhos deste estádio. Amanhã vai ser sair do autocarro, descer a escada, esquerda, direita, vestiário, e é tudo», garantiu.

Klopp não hesita em atribuir algum favoritismo à sua antiga equipa, que não perde um jogo oficial desde dezembro e na ronda anterior deixou claramente pelo caminho o Tottenham: «Está numa fase melhor, mas a verdade é que as nossas boas fases de jogo nem sempre tiveram correspondência nos resultados», frisou. Algo que o seu homólogo, Thomas Tuchel, se encarregou de desvalorizar, sem deixar de prestar justa homenagem ao antecessor: «O favoritismo que ele pode atribuir-nos não muda nada na nossa abordagem ao jogo, mas quanto ao regresso de Klopp, tudo o que seja menos do que uma receção calorosa por parte dos adeptos seria uma grande surpresa. Ele merece-a, porque fez um grande trabalho aqui», lembrou.

Desde que chegou a Dortmund, em 2008, Klopp transformou os destinos de um Borussia decadente – 13º na Bundesliga, no ano anterior, e com graves problemas de tesouraria – levando-o à conquista do bicampeonato em 2011 e 2012, e à final da Liga dos Campeões, em 2013.

Porém, depois da sua partida, no último verão, a época de estreia do seu sucessor superou da melhor forma quaisquer fantasmas que pudessem ter restado. A jogar um futebol espectacular, já bastante diferente do carrossel de alta voltagem dos melhores tempos de Klopp, com mais posse e circulação e menos solos de heavy metal - usando uma imagem assumida pelo próprio Klopp, este Dortmund chega a abril ainda com ambições na Bundesliga – o que é uma proeza, dado o poderio do Bayern – nas meias-finais da Taça e com o estatuto de principal favorito à conquista da Liga Europa. É esse estatuto –atribuído pela generalidade dos observadores - que o outro ex-campeão europeu em prova, o Liverpool, quer pôr em causa.

Refira-se, aliás, que o Liverpool é, a par do Sparta de Praga, uma das duas equipas que iniciaram a prova e que permanecem invictas – há uma terceira, o Shakhtar, mas que fez apenas quatro jogos, dado que é repescada da Liga dos Campeões. Sem Lucas Leiva (Subotic é a baixa do Dortmund, embora Gundogan esteja em dúvida), os «reds» vão tentar manter a invencibilidade num dos estádios mais escaldantes da Europa, como o FC Porto bem sabe. Um ambiente que o próprio Klopp ajudou a criar e que agora, como Guardiola em 2015, ou Mourinho em 2010, vai procurar utilizar a seu favor. Sem garantias: ao contrário do que aconteceu ao Chelsea, em 2010, no ano passado, a criatura Barcelona impôs-se claramente no reencontro com o criador.

Llorente volta a Bilbau

Outro reencontro, não tão comentado, mas que também pode desempenhar papel importante num dos jogos dos quartos de final é o de Fernando Llorente a Bilbau. O antigo avançado do Athletic – que em 2012 contribuiu decisivamente para a eliminação do Sporting diante dos bascos, nas meias-finais – já perdeu uma Liga Europa em Bilbao e uma Champions pela Juventus, onde jogou duas temporadas e meia. A passagem para a Andaluzia, em janeiro, dá-lhe esperanças de quebrar o enguiço nas decisões, mas para isso terá de causar um amargo de boca aos seus antigos adeptos – que encontraram substituto à altura na vocação goleadora de Aduriz, melhor marcador da Liga Europa, com oito tentos.

Refira-se que o Sevilha – sem portugueses, já que Carriço está lesionado e Beto tem estado fora das opções de Emery – se propõe fazer história, chegando à terceira final consecutiva da Liga Europa, prolongando o domínio espanhol nesta competição. Um domínio que pode também ser prolongado pelo Villarreal que, mesmo privado de Jonathan dos Santos, e dos defesas Rukavina, Bonera e Musacchio, partem claramente favorito na receção ao surpreendente (e ainda invicto, recorde-se) Sparta Praga, no menos mediático dos jogos destes quartos-de-final. Mas está visto que os checos, que já bateram o pé à Lazio e ao Schalke, nesta caminhada, se dão bem com o papel de underdog...

Programa dos quartos-de-final

Sp. Braga-Shakhtar (20.05)

B. Dortmund-Liverpool (20.05)

Villarreal-Sparta Praga (20.05)

Ath. Bilbao-Sevilha (20.05)

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