"Esta mulher está morta": cadáver foi abandonado no chão em centro de detenção de migrantes na Líbia

29 ago 2023, 11:41
Campo de detenção de Abu Salim em Trípoli, na Líbia (Foto: AFP via Getty Images)

Campo de detenção de Abu Salim, na capital líbia, tem sido notícia por vários casos de violação de direitos humanos. Desta vez foi divulgado um vídeo que mostra o corpo de uma mulher sem vida junto de outras centenas de migrantes

O centro de detenção de Abu Salim, em Trípoli, volta a ser notícia pelos piores motivos. Desta vez, os migrantes ali detidos conseguiram fazer chegar à imprensa internacional imagens que chocam pela indiferença: num ambiente insalubre, o cadáver de uma mulher foi deixado ficar no chão numa sala onde se encontravam centenas de outros requerentes de asilo. Não se sabe por quanto tempo.

O vídeo, filmado há cerca de duas semanas, foi partilhado com o Guardian por um grupo de migrantes que chegou à Tunísia vindo da Líbia. Nas imagens vê-se uma mulher caída no chão: está sem roupa e visivelmente desnutrida, com os olhos abertos. Ouve-se a voz de outra mulher, de nacionalidade nigeriana: "Esta mulher está morta. Morreu esta manhã", diz. Antes, a nigeriana mostrara o quarto onde se encontravam e onde centenas de mulheres requerentes de asilo foram colocadas amontoadas em camas. Chamou-lhe "prisão".

O Guardian confirmou a autenticidade do vídeo junto dos Médicos Sem Fronteiras e de uma fonte da ONU. Ambos os organismos confirmaram que foi filmado no centro de detenção Abu Salim, na capital Líbia. A fonte das Nações Unidas admite que a mulher morta no chão, que se acredita ser da Somália, possa ter morrido de tuberculose - dezenas de requerentes de asilo ali detidos contraíram a doença e os funcionários que ali prestam assistência humanitária revelaram que os doentes eram encerrados em quartos apenas com colchões, onde ficaram abandonados à sua sorte, sem acesso a cuidados médicos.

Várias organizações não-governamentais têm, segundo o Guardian, reportado repetidos incidentes de violência contra refugiados retidos neste centro de detenção em Trípoli, nomeadamente disparos com armas automáticas contra os requerentes de asilo. Segundo os Médicos Sem Fronteiras, houve baixas na sequência deste episódio, em 2021. A organização anunciou recentemente que iria deixar de prestar assistência médica em Tripoli até ao final do ano. 

Milhares de refugiados e migrantes estão retidos em centros de detenção por toda a Líbia. O Ministério do Interior líbio tem a tutela destes centros, que são alegadamente mantidos para combater a migração ilegal, mas onde inúmeros voluntários têm testemunhados casos de abuso sexual, trabalhos forçados e extorsão. Ao Guardian, um homem identificado como Ibrahim, natural da Serra Leoa, que conseguiu fugir para a Tunísia depois de ter estado detido em Trípoli, revelou que a única forma de sair de Abu Salim é pagando um resgate de cerca de 1.000 dólares - um valor equivalente em euros.

A autoridades líbias prometeram encerrar os centros onde foram reportados casos de abuso e violações dos direitos humanos, mas a Amnistia Internacional tem denunciado que os maus-tratos continuam nos novos centros instalados.

Os migrantes que conseguem escapar dos centros de detenção líbios tentam atravessar a fronteira para a Tunísia, que já ultrapassou a Líbia como principal destino dos refugiados que procuram chegar à Europa, indica o Guardian, recordando que ainda no mês passado a União Europeia assinou um contrato de mil milhões de euros com as autoridades tunisinas, fornecendo verbas para ajudar o país a gerir o fluxo de migrantes. 

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