Curso inovador do poeta e médico João Luís Barreto Guimarães elogiado pelo The Guardian. "Como num poema, cada um dos doentes é único"

CNN Portugal , HCL
18 fev, 17:06
João Luís Barreto Guimarães

Poeta e médico português é "pioneiro no ensino da poesia para ajudar os médicos em formação a sentirem empatia pelos seus doentes", escreve o jornal britânico

Um curso inovador do poeta, tradutor e médico João Luís Barreto Guimarães , que traduz a relação simbiótica entre o ensino das duas áreas, ganhou destaque no jornal britânico The Guardian, que elogia a forma como a “a iniciativa assinala uma crença na prioridade dos cuidados centrados nas pessoas e nas noções clássicas da "relação médico-paciente".

Ensinado na Universidade do Porto, o curso mergulha estudantes de medicina do segundo ano nos meandros da poesia de autores como Vasco Graça Moura, John Stone ou Júlio Dinis ao mesmo tempo que investigam, por exemplo, neuroanatomia e farmacologia e, segundo João Luís Barreto Guimarães, tem como objetivo fomentar a empatia, a compaixão e a solidariedade entre os futuros médicos, explorando os valores humanísticos através da poesia.

"Hoje em dia, os médicos não têm muitas vezes tempo para parar e pensar, pelo que tudo se reduz rapidamente ao técnico e ao mecânico. O que tento transmitir aos estudantes é que, tal como num poema, cada um dos seus doentes é único”, diz o também galardoado com o Prémio Pessoa ao jornal.

 

Para além destes valores, escreve o The Guardian, o foco de Guimarães neste curso é também expor os seus alunos aos "males" do sentimentalismo excessivo, um hábito que os pode vir a prejudicar quando começarem a exercer medicina. 

Isto porque “não são apenas os poetas que procuram disfarçar o seu significado pleno por detrás de jogos de palavras inteligentes e dispositivos literários”, argumenta o médico e poeta. “Por razões de medo, desconfiança ou simplesmente embaraço, o mesmo acontece com os doentes”. Os bons médicos, destaca, sabem "ler nas entrelinhas". "Nas nossas aulas, falamos muitas vezes de descodificação, porque o recurso à ilusão, ao simbolismo ou ao enigma é algo que muitos poetas fazem para transmitir a sua mensagem de forma oculta".

Desde que lançou o curso, Guimarães tem recebido inúmeros convites para trazer a sua forma inovadora de ensinar a várias faculdades de medicina e já há outras instituições a seguir-lhe o passo. Também a Universidade Pompeu Fabra de Barcelona introduziu recentemente um curso de literatura adaptado aos seus estudantes de medicina do segundo ano, destaca o jornal.

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