Das obras às luzes, empresas portuguesas aproveitam JMJ para faturar

ECO - Parceiro CNN Portugal , António Larguesa
2 ago 2023, 11:39
Jornada Mundial da Juventude - JMJ Lisboa (Associated Press)

Além do impacto nos transportes, restauração ou hotelaria, a Jornada Mundial da Juventude “anima” o negócio noutros setores, da construção à indústria, passando pelo vestuário ou pelo entretenimento

Com as estimativas mais recentes a apontarem para um total aproximado de 1,2 milhões de peregrinos, a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que decorre em Lisboa de 1 a 6 de agosto com a participação do Papa Francisco - que vai estar um total de 128 horas em Portugal e participar em 19 cerimónias -, representa uma despesa global a rondar os 160 milhões de euros, repartida entre o Estado, os municípios e a Igreja.

Além de puxar pela economia em setores como os transportes, a restauração ou a hotelaria, como salientou o primeiro-ministro — ainda que abaixo do estimado pelos empresários do turismo, nos últimos meses –, o megaevento religioso na capital serviu também para “animar” o negócio de muitas empresas portuguesas, da construção à indústria, passando pelo vestuário ou pelo entretenimento.

Construtora da Batalha executou recinto principal

Na sequência de um concurso limitado por prévia qualificação em que participaram as concorrentes ABB, Manvia, Mota-Engil, Conduril e Vibeiras, a construtora Oliveiras — fundada em 1981, tem sede na Batalha e emprega 240 pessoas — assinou por perto de sete milhões de euros a reabilitação do antigo Aterro Sanitário de Beirolas, a área de 35 hectares que serve de recinto principal da JMJ, inserida no novo Parque Intermunicipal Tejo-Trancão, que envolve os municípios de Lisboa e Loures.

A empreitada contemplou a modelação do aterro, execução das infraestruturas de biogás, lixiviados, redes de água e incêndio, redes de rega, percursos e caminhos, arranjos paisagísticos e zonas verdes. Os trabalhos incluíram ainda a execução de fundações para o altar das principais celebrações.

O primeiro-ministro, António Costa, acompanhado pela ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, pelo presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, pelo presidente da Câmara de Loures, Ricardo Leão, cumprimenta o bispo Américo Aguiar durante a visita ao recinto da JMJ.
JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA 31 julho, 2023

 

Mota-Engil liberta contentores e ergue altar-palco

Outro dos contratos mais volumosos — e talvez o mais polémico –- foi entregue à Mota-Engil. Depois da polémica em torno do valor a pagar, que rebentou em janeiro deste ano depois da adjudicação e que incluiu até críticas do Presidente da República, o altar-palco no Parque Tejo-Trancão ficou por um valor de 2,98 milhões de euros, abaixo dos iniciais 4,2 milhões de euros. A este montante somam-se 1,1 milhões de euros para a cobertura, que ficou a cargo da Oliveiras.

Quase um ano antes, em março de 2022, nesse caso entregue pela Infraestruturas de Portugal (IP), o grupo que este ano passou a ser liderado por Carlos Mota Santos ficara também com a empreitada para libertar parte do complexo logístico da Bobadela para aquele espaço poder acolher os peregrinos durante a JMJ.

Ponte pedonal “fechada” por três milhões

Um dos primeiros contratos a serem adjudicados, logo em junho de 2021 pela EMEL – Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa, acabou por ser vencido pela construtora ABB – Alexandre Barbosa Borges, SA: a construção da ponte pedonal sobre o Rio Trancão teve um custo total de quase três milhões de euros. Com fábricas em Oliveira de Frades, Pegões e Almeirim, também a Carmo Wood esteve envolvida nos passadiços em madeira que vão “abrir alas” para o Papa.

Fábrica de Fátima “injeta” terços na JMJ

Foi na fábrica de artigos religiosos da Farup, instalada na Avenida dos Pastorinhos, em Fátima, que foram feitos todos os terços e as dezenas oficiais da edição deste ano da JMJ. A empresa comandada por Francisco Pereira e Alexandre Ferreira, que emprega perto de 15 pessoas em permanência, começou a produzir terços há mais de meio século. Com o desenvolvimento da indústria de moldes e a injeção de plásticos feita dentro de portas, acrescentou depois a produção de imagens, crucifixos e medalhas. Atualmente exporta perto de 30% destes artigos para mercados como os EUA, Alemanha, Itália ou França.

Empresas de Paredes “mobilam” as cerimónias

Duas empresas do concelho de Paredes, no distrito do Porto, produziram várias peças de mobiliário para a JMJ. A Laskasas, que emprega 485 trabalhadores em Rebordosa e fatura 33,5 milhões de euros por ano, esteve envolvida no fabrico de um total de 18 peças de mobiliário litúrgico, como o altar, o púlpito ou mais de uma dezena de bancos e cadeiras também para diáconos ou acólitos.

Desafiada igualmente pelo município, a Fenabel, instalada na mesma freguesia e que reclama o título de maior fábrica portuguesa de cadeiras — 95% da faturação é feita no estrangeiro — preparou as cadeiras onde se vão sentar o Papa Francisco e o Presidente da República, no Palácio de Belém, e uma outra que servirá para os encontros privados do chefe da Igreja Católica.

Cálices têm mãos de Gondomar e arte de Santo Tirso

Feitos de metal, banhados a prata e com o interior dourado, os mais de 200 cálices e seis mil píxides (espécie de taça para distribuir as hóstias no momento da comunhão) que vão ser utilizados nas cerimónias da JMJ foram fornecidos pela oficina de ourivesaria Domingos Guedes, instalada em Gondomar. Foi selecionada por concurso e, para a conceção destas peças litúrgicas, com as quais esteve ocupada durante mais de um ano, desafiou Avelino Leite, um artista de Santo Tirso, que em 2010 já tinha sido escolhido para pintar um conjunto de 20 aguarelas que foram oferecidas ao Papa Bento XVI durante a visita a Portugal, pelo 10.º aniversário da beatificação dos pastorinhos de Fátima.

Trigo do Alentejo para produzir um milhão de hóstias

Cerca de um milhão de hóstias foram produzidas de forma artesanal pelas irmãs Clarissas do Mosteiro do Imaculado Coração de Maria, na Estrela (Lisboa) para as eucaristias da JMJ. Segundo anunciou a organização, no fabrico foram utilizadas duas toneladas de trigo mole alentejano, doado em três entregas faseadas (fevereiro, abril e maio deste ano) pela Associação Nacional de Produtores de Proteaginosas, Oleaginosas e Cereais (ANPOC), em conjunto com a Germen — Moagem de Cereais, uma empresa do grupo Better Foods.

Vestes do Papa com burel da Serra da Estrela

Nos próximos dias, o Papa Francisco vai usar paramentos com aplicações de burel – um fio de lã grosso da Serra da Estrela – bordado a fio de ouro, depois de uma proposta feita pela Fundação JMJ, que foi aceite pelo Vaticano e concretizada pela portuguesa Burel Factory, cofundada por Isabel Costa. “É a primeira vez que o burel é utilizado numa veste papal, representando o símbolo da participação do interior do país – e da cultura tradicional portuguesa – nestas celebrações”, indicou a organização.

Além do fabrico das vestes papais, estão a ser produzidos um total de dez mil paramentos para os milhares de padres e cerca de 700 bispos que estarão presentes no evento, tendo sido usados quase 50 quilómetros de tecido. Destacando a “oportunidade de mostrar ao mundo a arte portuguesa”, a organização portuguesa destacou que, além do burel, também as rendas de bilros de Peniche vão marcar presença na toalha do altar da missa final, presidida pelo Papa Francisco no Campo da Graça (Parque Tejo).

Meo assegura tecnologia e telecomunicações

Já o município de Lisboa celebrou com a Meo um contrato de 1,5 milhões de euros para a instalação de pontos multimédia e aluguer de equipamentos técnicos no Parque Eduardo VII. Entre 1 e 6 de agosto de 2023, a empresa será a parceira tecnológica e de telecomunicações da JMJ, tendo a seu cargo a disponibilização de acesso à rede de fibra ótica, o reforço de cobertura móvel, o acesso a rede wi-fi, além do desenvolvimento do site oficial e da aplicação móvel (app) com conteúdos nos cinco idiomas oficiais do encontro: português, inglês, espanhol, italiano e francês.

Pixel Light dá cobertura audiovisual no Parque Tejo

O Estado central adjudicou perto de três dezenas de contratos num valor superior a dez milhões de euros. Desta lista, a empreitada que teve um custo mais elevado, num concurso público que teve uma dotação de 5,9 milhões de euros, está relacionada com os sistemas de áudio e de vídeo, a iluminação ambiente e o respetivo abastecimento de energia para o Parque Tejo-Trancão. O contrato foi celebrado com a empresa Pixel Light, com sede em Vialonga, no concelho de Vila Franca de Xira, que tem no currículo trabalhos com o Rock in Rio ou a produção do festival da Eurovisão.

Everything Is New gere logística de eventos em Oeiras

A poucos dias do início do evento, a Câmara Municipal de Oeiras celebrou com a Everything is New um contrato no valor de 684,5 mil euros para a “produção, gestão do recinto, apoio à montagem e desmontagem de equipamentos para os eventos” agendados para o Passeio Marítimo de Algés, onde a produtora de eventos liderada por Álvaro Covões realiza o festival Alive. Já a produção e instalação de um pórtico de entrada para o Papa, no valor de 25 mil euros, foi adjudicada diretamente à empresa BigBrand.

Laboratórios Azevedos cede medicamentos

Os Laboratórios Azevedos, grupo que exporta medicamentos para os cinco continentes e que conta com uma equipa de cerca de 500 colaboradores, vai prestar apoio aos peregrinos da JMJ na prestação de cuidados de saúde primários de proximidade. Segundo informou em comunicado, no âmbito do evento está previsto um programa de doação de medicamentos para que os participante possam “ter acesso a medicação de forma segura, caso necessitem, independentemente da sua condição financeira”, e em articulação com entidades do Serviço Nacional de Saúde (cuidados de saúde primários, INEM e hospitais da região).

Vasco da Gama abre piso exclusivo para peregrinos

Até 6 de agosto, o centro comercial Vasco da Gama, localizado no Parque das Nações, vai ter o terceiro piso a funcionar em exclusivo para os peregrinos da JMJ. Nesta zona, indicou o shopping detido pela Sonae Sierra, poderão encontrar diversas zonas de descanso, mesas, pontos para carregarem os seus telemóveis e acesso à rede wi-fi. E face à esperada afluência neste período, anunciou o reforço das várias equipas de serviços e apoio: desde a limpeza à segurança, bem como no balcão de informações.

Empresas de joalharia lançam coleções especiais

Muitas outras empresas estão a aproveitar a ocasião para lançar novos produtos. Na indústria da joalharia, por exemplo, a histórica Leitão & Irmão aproveitou a ocasião para lançar o “Pack Jornada”, constituído por um rosário e um anel com um PVP de 990 euros; ou a Alcino, que reuniu peças de joalharia, como terços com pérolas e escapulários, a pins para mochilas, numa coleção que apresenta peças em prata e em prata com banho de ouro de 18 quilates.

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