Julgamento de Jéssica Biscaia. Pai ouvido em tribunal: “Eu era sempre engrupido pela Inês"

12 jun 2023, 17:45
Foram encontrados vestígios de cocaína nas roupas de Jéssica

Pai e avó paterna da menor acusam mãe de dificultar o contacto com a menina

O pai biológico e a avó paterna de Jéssica Biscaia estão a ser ouvidos, esta segunda-feira, na terceira sessão de julgamento do homicídio da menina de três anos, no Tribunal de Setúbal.

Alexandrino Biscaia testemunhou por ser um dos assistentes no processo. O pai de Jéssica, que estava a viver nos Países Baixos na altura da morte da filha, afirmou perante o coletivo de juízes que desconhecia a situação em que a filha se encontrava nas últimas semanas de vida garantindo ter sido enganado pela ex-companheira. “Eu era sempre engrupido pela Inês (Sanches)”.

Alexandrino Biscaia exibiu, durante a audiência, uma fotografia da filha, enviada por Inês meses antes do crime, em que era possível ver-se um hematoma na zona da testa, justificou que questionou a ex-companheira e mãe da criança, Inês Sanches, não chegando, contudo, a replicar a resposta que lhe foi dada.

“Sinto-me de alguma forma culpado pelo que aconteceu à minha filha”

Nesta sessão de julgamento, o Ministério Público (MP) requereu a reprodução das declarações do pai à Polícia Judiciária (PJ), durante o primeiro interrogatório. A acusação quer confrontar Alexandrino Biscaia com as datas de determinados factos apontadas na altura por considerar que existem "flagrantes contradições” no depoimento prestado à PJ e no que agora foi prestado. As datas que geram maiores dúvidas dizem respeito ao momento em que Alexandrino começou a notar diferenças de comportamento da criança e quando ocorreu a última videochamada com a menina.

Questionado pelo presidente do coletivo de juízes sobre eventuais sinais de maus-tratos no ânus da menina, nas últimas vezes em que esteve com a filha, em janeiro e fevereiro de 2022, Alexandrino Biscaia disse que não tinha visto nada de estranho.

De acordo com o despacho de acusação, a menina não só terá sido vítima de maus-tratos muito violentos em diversas zonas do corpo, como também apresentava lesões no ânus, que terão sido provocadas por ter sido usada como correio de droga.

Avó paterna não via neta há sete ou oito meses

A avó paterna de Jéssica, Maria Lino, que também foi ouvida como testemunha, afirmou em tribunal que já não via a menina desde sete ou oito meses antes da morte da criança e que, da última vez que a viu, foi por um curto período de tempo, de menos de uma hora.

Maria Lino disse ainda ao tribunal que nunca lhe foi fácil ver a neta, porque o filho, Alexandrino Biscaia (pai da Jéssica), e a mãe, Inês Sanches, estavam quase sempre incomunicáveis, pelo que tinha de vir de Lisboa a Setúbal para conseguir estar com o filho e com a neta.

Prestou ainda declarações perante o coletivo de juízes, uma cabeleireira e amiga da progenitora de Jéssica, que cortou o cabelo à menina no início de junho de 2022. A testemunha referiu que Inês Sanches lhe disse que precisava de cortar o cabelo à filha, porque esta ia para o infantário e realçou que, numa das outras vezes que Jéssica acompanhou a mãe ao cabeleireiro, reparou num hematoma que a menina tinha no rosto.

Foi ouvida mais uma testemunha, uma animadora sociocultural que também vendia roupa a Inês Sanches e que disse ter ficado impressionada com a abertura das nádegas de Jéssica, em 12 de junho de 2022, quando esteve com a menina num parque infantil, referindo também que a menina "não estava muito limpinha mas não tinha qualquer mazela".

A acusação

Segundo a acusação, a menina Jéssica ficou retida durante cinco dias em casa de Ana Pinto, arguida no processo, para garantir o pagamento de uma dívida da mãe por atos de bruxaria.

A mãe, Inês Sanches, está acusada dos crimes de homicídio qualificado e de ofensas à integridade física qualificada, por omissão.

Ana Pinto, o marido, Justo Ribeiro Montes, e a filha, Esmeralda Pinto Montes, estão acusados de homicídio qualificado consumado, rapto, rapto agravado e coação agravada.

Estes três arguidos e Eduardo Montes, filho de Ana Pinto e Justo Ribeiro Montes, estão ainda acusados de um crime de violação agravado e de um crime de tráfico de estupefacientes agravado.

O julgamento prossegue a partir das 09:15 da próxima quinta-feira, dia 15 de junho, no Tribunal de Setúbal.

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