Milei minimiza crise orçamental universitária mas já se fala de emergência

Agência Lusa , AM
24 abr, 06:32
Javier Milei (AP)

Professores dão aulas a turmas com 200 pessoas sem microfones ou projetores, por a universidade pública – entre as melhores da América Latina – não conseguir pagar a conta da eletricidade

O libertário presidente argentino, Javier Milei, está a procurar minimizar a crise orçamental nas universidades públicas, considerando-a algo normal, em polémica com os opositores de esquerda, influentes nos espaços universitários.

Mas na elitista Universidade de Buenos Aires (UBA) as paredes estão a ficar negras e os elevadores e o ar condicionado deixaram de funcionar em alguns edifícios na semana passada.

Os professores dão aulas a turmas com 200 pessoas sem microfones ou projetores, por a universidade pública – entre as melhores da América Latina – não conseguir pagar a conta da eletricidade.

“Esta é uma crise impensável”, disse Valeria Anón, uma professora de Literatura, com 50 anos, em manifestação contra as medidas de austeridade de Milei, realizada na terça-feira na baixa da capital Buenos Aires, com a participação de milhares de pessoas. “Sinto-me muito triste pelos meus estudantes e por mim mesma”, acrescentou.

Na sua política de alcançar um excedente orçamental, Milei está a cortar despesas de forma geral e transversal, encerrando ministérios, cortando financiamento de centros culturais, despedindo funcionários públicos e eliminando subsídios.

Na segunda-feira, Milei disse que a Argentina tinha alcançado o seu primeiro excedente trimestral desde 2008.

“Estamos a fazer possível o impossível, mesmo com a maioria dos políticos, dos sindicatos, dos meios de comunicação social e da maioria dos agentes económicos contra nós”, disse, durante uma intervenção televisiva.

Uma multidão de estudantes e professores universitários saíram na terça-feira da UBA em protesto, juntando-se a milhares de outros manifestantes no centro da capital. Algumas escolas privadas encerraram em solidariedade.

Os protestos estenderam-se a outras cidades argentinas.

Sinal da batalha ideológica mais generalizada que se trava, os sindicalistas e os apoiantes dos partidos de esquerda também encheram as ruas.

Desde julho, quando começa o ano orçamental na Argentina, a UBA, que tem 200 anos, apenas recebeu 8,9% das verbas que lhe foram orçamentadas, enquanto se confronta com uma inflação anual de 290%.

A universidade já disse que está com muitas dificuldades em conseguir manter as luzes acesas e garantir serviços básicos nos hospitais universitários, que reduziram a sua capacidade.

Depois de declarar um estado de emergência orçamental, a UBA avisou na semana passada que, sem um plano de salvamento, iria encerrar nos próximos meses, interrompendo os estudos de 380 mil alunos.

Uma declaração que foi um choque para os argentinos, que consideram uma educação universitária gratuita e de qualidade um direito natural.

A UBA tem uma tradição intelectual prestigiada, tendo já produzido cinco Prémios Nobel e 17 presidentes da Argentina.

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