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Comentadora CNN

Um golpe no terraplanismo eleitoral: oito anos sem Bolsonaro candidato

30 jun 2023, 22:29

Oito anos é também tempo suficiente para tramitar mais alguns dos casos em que é investigado, como o das jóias da Arábia Saudita e a atuação durante a pandemia da Covid-19

A foto de Jair Messias Bolsonaro não poderá aparecer nas urnas eletrônicas até o ano de 2030. Não, o voto não passará a ser impresso, como os terraplanistas eleitorais querem. O povo continuará votando na urna eletrônica, segura, moderna e confiável, mas não poderá ter o nome do ex-presidente.

Foi por tanto atacar o sistema eleitoral brasileiro, o mesmo que o elegeu presidente, que Bolsonaro foi considerado culpado pelo crime de abuso de poder político. O então chefe de estado mentiu várias vezes sobre a confiança das urnas, usando notícias falsas em uma apresentação amadora de powerpoint.  

Não bastasse a vergonha perante representantes de países estrangeiros, a reunião também foi transmitida na tv estatal, o que configurou mais um crime eleitoral. Não foi por ingenuidade. Como bem pontuou o ministro Alexandre de Moraes em seu voto, o objetivo era que toda a desinformação sobre as urnas fosse espalhada. 

Foi há quase um ano que a reunião ocorreu. De lá para cá, muita coisa aconteceu na política: Bolsonaro perdeu as eleições, apoiadores acamparam em frente aos quartéis, tentaram clamar por ETs, Lula foi empossado presidente, o país sofreu uma tentativa de golpe e uma minuta golpista foi encontrada na casa do ex-ministro de Bolsonaro, que chegou a ser preso. 

Nada disso é por acaso. Os fatos foram uma sequência interligada, cujo objetivo era destruir a democracia, que resistiu. Muitos foram os fatores para que resistisse, como a atuação firme da Justiça Eleitoral, a falta de apoio internacional e o próprio amadorismo dos envolvidos, com várias provas deixadas pelo caminho.

São tantos fatos em tão pouco tempo. A inelegibilidade de um candidato que perdeu a última eleição por pouco mais de 1% dos votos é um capaz de mudar a história, já que tira do jogo um político com altas chances de vencer. Isso significa uma reorganização da direita para tentar voltar ao poder, mas sem o seu expoente máximo nas urnas eletrônicas como candidato. Expressa também um recado claro para outras aventuras de golpe. 

O julgamento também teve ainda um simbolismo irônico, por ser uma mulher, Carmen Lúcia, a ter o voto decisivo. Bolsonaro já destilou ódio contra mulheres diversas vezes e agora, foi pelo poder que uma mulher possui que seu nome estará fora das urnas. 

Além de tudo, mais do que definir o futuro eleitoral brasileiro, a inelegibilidade de Bolsonaro faz com que não tenha foro privilegiado e continue sendo julgado pela justiça comum. Oito anos é tempo suficiente para tramitar mais alguns dos casos em que é investigado, como o das jóias milionárias da Arábia Saudita e os vários inquéritos relacionados com a pandemia da Covid-19. 

Provavelmente não será somente agora que “Bolsonaro culpado” estampará os jornais e os livros da história. Afinal, como discursou Alexandre Moraes, “a justiça é cega, mas não é tola”.

* Amanda Lima escreve a sua opinião em Português do Brasil

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