Entrevista a Paolo Rossi: «A minha pena? Absolutamente injusta»

6 jun 2014, 10:30
Paolo Rossi (Mundial82)

O herói da seleção de Itália no Mundial de 1982 em exclusivo ao Maisfutebol

23 de março de 1980, a vida de Paolo Rossi a andar para trás. O prometedor ponta-de-lança italiano, a jogar no Perugia, vê-se envolvido no processo Totonero
e sai diretamente do estádio para a esquadra.

A mega operação nasce de uma queixa de Alvaro Trinca e Massimo Cruciano, dois apostadores e anónimos comerciantes de Roma. Tudo estaria, na versão da acusação, combinado entre a Máfia, dirigentes e jogadores, de forma a que os envolvidos ganhassem muito dinheiro no arranjo de resultados.

Entre eles, supostamente, Paolo Rossi. As detenções são transmitidas em direto pelo canal público italiano, RAI, no programa 90º minuto
. Três mil Carabinieri
, espalhados por todo o país, transformam o caso em verdadeiro escândalo mundial.

PARTE 1: «Hat-trick ao Brasil abriu-me a porta do céu»


PARTE 3: «Messi ou Ronaldo? Aposto no Neymar»


Paolo Rossi clama sempre inocência, desde o início. Volta a fazê-lo nesta entrevista exclusiva ao Maisfutebol
. É suspenso por 23 meses pela justiça desportiva, mas absolvido mais cedo do que o previsto.

Só essa benesse judicial e a teimosia cega do selecionador Enzo Bearzot permitem a convocação de Paolo Rossi para o Campeonato do Mundo de 1982, de resto.

A 30 de abril desse mesmo ano, a pena de Paolo Rossi chega ao fim. O ponta-de-lança faz três jogos pela Juventus [os únicos em mais de dois anos] e convence o treinador. A crítica e os adeptos não poupam a opção, aparentemente incompreensível.


Roberto Bruzzo, melhor marcador da Serie A nessa época, fica de fora. Os dirigentes da AS Roma juntam-se ao coro de impropérios.

Confrontado pelo nosso jornal com este período negro da carreira, Paolo Rossi reage serenamente, sem entrar em detalhes.

«Os dois anos de pena, absolutamente injustos, roubaram-me o desejo de jogar, é verdade. Mas quando voltei tinha tanta raiva acumulada que rapidamente me esqueci dos momentos maus»
, responde Paolo Rossi.

Paolo Rossi: o top-10 dos golos na Juventus:




Depois, é o que se sabe. Não marca nos primeiros quatro jogos da Itália, mas faz um hat-trick
ao Brasil, mais dois à Polónia e outro mais na final à Alemanha. Uma vendetta
?

«Não foi uma vingança, mas uma manifestação pública da minha indignação, só um mês depois de ter voltado a jogar»
, explica Paolo Rossi, sempre afável e calmo.

Pablito, então com 26 anos, recupera a credibilidade e um lugar no cuore degli italiani
.

«Pretendi provar, a todo o mundo, que continuava a ser o melhor ponta-de-lança do mundo. O rapaz que conquistara toda a gente quatro anos antes, no Argentina-78, continuava a existir e estava melhor do que nunca»
.

Paolo Rossi faz mais três anos na Juventus [joga a final da Taça das Taças contra o FC Porto, em 1984], transfere-se para o AC Milan e fecha a vida de futebolista no Hellas Verona, em 1986/87.

Curiosamente, Rossi ainda é chamado por Enzo Bearzot ao Mundial-86, no México, mas nunca sai do banco de suplentes. Os avançados titulares são Alessandro Altobelli e Giuseppe Galderisi. Sim, o ex-treinador do Olhanense. Gianluca Vialli e Aldo Serena também andam por lá.

Golo de Rossi na final do Mundial-82:




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