Itália dá meia volta no imposto extraordinário sobre a banca após perder mais de oito mil milhões de euros num dia

9 ago 2023, 11:01
Giorgia Meloni e Matteo Salvini (AP)

Governo tenta clarificar medida, mas continua a criticar bancos no discurso: "Fizeram mais de 10 mil milhões de euros nos primeiros seis meses do ano"

Depois de provocar um autêntico choque na banca italiana, que perdeu mais de oito mil milhões de euros num só dia, o governo de Giorgia Meloni decidiu explicar melhor o que pretende fazer com a criação de um novo imposto que vai incidir sobre a margem financeira dos bancos.

O objetivo continua a ser o mesmo: taxar os bancos sobre os lucros extraordinários que obtiveram com o aumento das taxas de juro sobre os créditos à habitação face à manutenção das baixas taxas de retorno para os depósitos. Esse dinheiro será, segundo o governo, utilizado para baixar os impostos e ajudar os credores com mais dificuldades em cumprir com o pagamento do crédito à habitação.

Um comunicado do Ministério das Finanças veio esclarecer que este novo imposto só vai incidir sobre 0,1% dos ativos dos bancos.

Além da medida excecional aplicada à banca, de Roma chegam também fortes críticas ao setor. O vice-primeiro-ministro de Itália garantiu que o dinheiro amealhado com esta medida "vai chegar a quem tenha as hipotecas a subir desproporcionalmente e vai acabar a servir para cortar os impostos e aumentar salários".

"Os cinco principais bancos italianos fizeram mais de 10 mil milhões de euros em lucro nos primeiros seis meses do ano porque aumentaram os custos para quem tem empréstimos, mas não subiram as taxas de depósito. Foram muito rápidos a subir os custos, mas não tão rápidos a aumentar as taxas de depósito", acrescentou Matteo Salvini.

Analistas referiram ao Financial Times que esta adenda poderá fazer com que a medida veja o impacto reduzido para metade. Ao mesmo tempo a banca abriu esta quarta-feira com sinais de retoma: o Intesa Sanpaolo e o UniCredit, os dois maiores bancos a operar em Itália, começaram o dia a ganhar mais de 3%, depois de quedas brutais na terça-feira.

Com efeito, fonte do mercado indicou ao jornal britânico que a quantia que o Estado deve arrecadar com esta medida deverá ficar pelos 1,8 mil milhões de euros, em contraste com os 4,5 mil milhões anteriormente projetados.

O recuo do governo serviu precisamente para "acalmar parcialmente o nervosismo do mercado", ainda que o discurso político permaneça inalterado. "Salvaguardar a estabilidade financeira dos credores" é a justificação do governo italiano para a aplicação da taxa que vai começar a ser cobrada em 2024, e que vai ter em conta os saldos de margens financeiras obtidos de 2021 para 2022 e de 2022 para 2023, sempre que excedam as margens em 5% e 10%, respetivamente. Em 2024 o imposto vai incidir sobre a margem financeira que for maior.

Em paralelo o Ministério das Finanças esclareceu que os bancos que já tivessem ajustado as suas taxas de depósito “como recomendado por uma nota do Banco de Itália em fevereiro” não devem ver um impacto significativo nas suas contas.

De resto, um dos grandes objetivos é mesmo fazer face à disparidade entre os juros cobrados pelo crédito à habitação, que dispararam, e as baixas taxas de retorno dos depósitos colocados pelos italianos nos bancos – é essa diferença que se entende por margem financeira, e que subiu de forma clara no ano passado, mantendo essa trajetória de subida para este ano. O imposto ainda terá de ser aprovado no parlamento italiano, o que deve acontecer nos próximos dois meses.

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