"Muito preocupante: Israel pode ser obrigado a retaliar com armas nucleares táticas"

14 abr, 12:50

ANÁLISE || Se Israel não responder ao ataque inédito do Irão arrisca passar uma imagem de fragilidade que pode galvanizar outros inimigos regionais. A grande questão é o tipo de resposta que Israel vai aplicar, quais os alvos e o quão violenta será - se a retaliação israelita for demasiado forte, é preciso lembrar isto: "O Irão não são os houthis"

O Irão atacou diretamente o território israelita com mais de 300 projéteis, em resposta ao ataque de Teleavive contra um consulado iraniano em Damasco, no Líbano. Este ataque sem precedentes já levou vários ministros israelitas a defender uma retaliação contra o regime dos Ayatollahs. Os especialistas acreditam que, caso aconteça, esta retaliação vai motivar uma resposta iraniana ainda mais musculada, que arrisca arrastar os Estados Unidos para uma guerra e abrir a porta para a utilização de armas nucleares táticas.

“O ataque do Irão muda tudo, esta guerra deixou ontem de ser uma guerra local. O bom senso recomendaria uma retaliação limitada, para consumo interno, mas acredito que Israel vai tentar punir o Irão. Se isso acontecer, a possibilidade de escalada é muito grande”, afirma o major-general Agostinho Costa.

Apesar de Israel garantir que intercetou 99% dos projéteis disparados contra território israelita, tudo aponta para que Telavive se prepara para retaliar contra o bombardeamento iraniano. Israel Katz, ministro dos Negócios Estrangeiros, sublinhou isso mesmo este domingo ao garantir à rádio do exército israelita que atacar o Irão “continua a ser válido”.

Para os especialistas militares, o impacto dessa retaliação depende se Israel atacar o Irão sozinho ou se com o apoio de Estados Unidos, Reino Unido e França. Para o major-general Carlos Branco, isso não é do interesse dos norte-americanos, uma vez que o país vai a eleições e a administração Biden não pretende ser “arrastada” para um conflito militar que lhe “pode sair caro” nas urnas.

“Ninguém está interessado que haja uma escalada, muito menos os Estados Unidos, que estão em ano eleitoral. Donald Trump já disse que, se fosse presidente, não havia conflito. Isto pode ser altamente prejudicial para Biden, que pode meter-se numa situação em que não controla os resultados”, explica o especialista em assuntos militares.

Armas nucleares táticas

O Irão disse entretanto que não tem interesse em continuar os ataques contra Israel, mas garante que não vai “hesitar em proteger interesses legítimos” caso seja atacado. Mas Israel está numa posição fragilizada. Pela primeira vez viu o Irão deixar de utilizar grupos da região para atacar Israel e fê-lo diretamente. Se não responder, Israel arrisca passar uma imagem de fragilidade que pode galvanizar outros inimigos regionais.

Por isso, para os especialistas, a reação israelita é apenas uma questão de tempo. A grande questão é o tipo de resposta que Israel vai aplicar, quais os seus alvos e o quão violenta será. Se a retaliação israelita for demasiado forte, pode obrigar o Irão a atacar com ainda mais intensidade, tornando este conflito muito mais volátil.

“Israel está a preparar uma resposta musculada, embora os EUA estejam a fazer toda a pressão para que isso não aconteça. Se a resposta israelita deixar o Irão numa posição má do ponto de vista interno, isso pode escalar o conflito para o nível regional”, sublinha o tenente-general Marco Serronha.

Segundo o chefe das Forças Armadas iranianas, a vaga de drones, mísseis balísticos e de cruzeiro atingiu uma instalação dos serviços secretos e uma base aérea israelita no sul do país, evitando todos os centros urbanos e económicos israelitas. Para os especialistas em assuntos militares, é muito provável que a resposta israelita também seja restrita a alvos militares, principalmente as bases utilizadas pelo Irão para disparar mísseis e drones contra o território israelita. Mas há ainda outra hipótese na lista de alvos das forças armadas israelitas.

“Israel deve querer atingir os lançadores iranianos, o problema é que são móveis e estão debaixo do chão. No entanto, podem querer ir mais longe e atacar as fontes de produção de urânio, utilizadas na produção de armas nucleares”, considera Agostinho Costa.

Mas com a promessa já anunciada de contra-retaliação ao potencial ataque israelita, uma coisa seria certa: o conflito alastrar-se-ia para “um patamar muito preocupante”. Uma das hipóteses levantada pelos peritos é de que o Hezbollah pode passar para o conflito direto com Israel, ao mesmo tempo que o Irão sobrecarrega as defesas israelitas com bombardeamentos.

“O Irão não são os houthis, são uma potência regional. Eles têm uma capacidade militar muito significativa, particularmente no que toca a mísseis. A possibilidade de uma guerra com o Irão e um confronto direto com o Hezbollah pode obrigar Israel a retaliar com armas nucleares táticas. Isso não pode ser descartado. É muito preocupante”, alerta Agostinho Costa.

Médio Oriente

Mais Médio Oriente

Mais Lidas

Patrocinados