Realizador Jafar Panahi detido em Teerão. Já são três os cineastas iranianos presos numa semana

CNN Portugal , MJC
12 jul 2022, 11:19
O realizador Jafar Panahi, fotografado em 2006 (GettyImages)

Os três realizadores são muito críticos do regime iraniano e são acusados de perturbação da ordem pública e de terem encorajado protestos contra o governo iraniano

O premiador realizador iraniano Jafar Panahi foi detido esta segunda-feira em Teerão, dias depois da detenção de dois outros cineastas, Mohammad Rasoulof e Mostafa Aleahmad, críticos do regime iraniano, revelou a agência noticiosa Mehr, do Irão.

Jafar Panahi foi detido depois de se ter apresentado ao Ministério Público para acompanhar os casos dos outros realizadores detidos e um dia depois de ter assinado uma declaração conjunta pedindo a libertação de seus dois colegas. "Condenamos a repressão e a pressão de que os cineastas independentes e os livres pensadores estão a ser alvo", diz o comunicado assinado por 334 cineastas e ativistas iranianos, que Panahi postou no Instagram.

Na sexta-feira, os realizadores Mohammad Rasoulof e Mostafa Aleahmad foram detidos acusados de perturbação da ordem pública e de terem encorajado protestos contra o governo iraniano, após o colapso de um prédio, em maio, no sudoeste do Irão, que causou mais de 40 mortos. A polícia terá usado bastonadas e gás lacrimogéneo contra os manifestantes que protestavam contra a  "corrupção" e "incompetência" do governo. Um grupo de cineastas iranianos, liderado por Rasoulof, publicou, então, uma carta aberta denunciando violência policial sobre os manifestantes. Nas suas publicações nas redes sociais, os cineastas culparam as "autoridades incompetentes" ao mesmo tempo que apelavam ao fim da violência policial. "Baixem as vossas armas", pediam.

Em comunicado, a Leopardo Filmes, distribuidora dos filmes de Rasoulof em Portugal, lembrava esta segunda-feira como "um dos mais proeminentes realizadores iranianos", de 50 anos, tem sido perseguido: "Em 2010 foi condenado a seis anos de prisão pelo crime de 'associação, conluio e propaganda contra o regime', sentença mais tarde reduzida a uma pena condicional, tendo o cineasta pago uma fiança, e à proibição de fazer filmes." Recordava ainda que Rasoulof foi impedido pelas autoridades iranianas, que lhe haviam confiscado o passaporte, de se deslocar ao festival de Berlim, e foi a sua filha que recebeu em seu nome o Urso de Ouro em 2020 pelo filme "O mal não existe"

"Outra das acusações prende-se com o documentário que tem em mãos, "Intentional Crime", no qual investiga a morte do poeta iraniano Baktash Abtin, também ele um preso político, desde a sua detenção e hospitalização até à sua morte em circunstâncias obscuras", explica a Leopardo Filmes.

O realizador encontra-se atualmente "em solitária na prisão de Evin, em Teerão, uma prisão para os presos políticos, onde tem estado a ser interrogado". Os produtores de Rasoulof apelaram à comunidade internacional, aos realizadores, produtores, distribuidores e todos os que trabalham no cinema, para uma “condenação firme das autoridades iranianas, que desrespeitam os direitos humanos e as liberdades civis dos realizadores iranianos independentes, que reprimem e pressionam de forma constante”, e exigem a sua “libertação imediata e incondicional”.

Também Jafar Pahani, de 62 anos, é uma das vozes dissidentes da cultura iraniana, tendo sido condenado em 2010 a seis anos de prisão e a 20 de interdição de viajar, filmar ou falar na comunicação social. Apesar disso, continuou a trabalhar e a divulgar o seu trabalho, muitas vezes clandestinamente - um dos seus filmes, intitulado "Isto não é um Filme", rodado enquanto aguardava o veredicto de um recurso interposto pelos advogados, chegou ao Festival de Cannes em 2011 numa pen USB dentro de um bolo.

Vencedor de um Leão de Ouro de Veneza por "O Círculo", entre muitos outros prémios, o realizador ganhou o prémio máximo do Festival Internacional de Cinema de Berlim, o Urso de Ouro, com o filme "Táxi" em 2015, tendo na altura enviado a sua sobrinha, Hana Saeidi, para receber o galardão. Em 2018, também ganhou o prémio de Melhor Argumento no Festival de Cinema de Cannes por "Três Rostos" - e foi a atriz Solmaz Panahi que participou na cerimónia.

O festival de Berlim manifestou na sexta-feira a sua "consternação" ao saber das prisões: "A Berlinale está profundamente comprometida com a liberdade de expressão e a liberdade artística. Por isso declaramo-nos contra a detenção dos realizadores", escreveu o festival.

Na segunda-feira, também o festival de cinema de Cannes, apelou à libertação dos três cineastas e condenou a "onda evidente de repressão que está em curso no Irão contra os seus artistas". "O festival pede a libertação imediata de Mohammad Rasoulof, Mostafa Al-e Ahmad e Jafar Panahi", conclui o comunicado.

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