Tiago Pinto: «Saída de Mourinho foi um dia muito difícil para todos»

23 mar, 11:04
Tiago Pinto (FOTO: Roma)

«No momento em que um treinador tem de ser despedido estou morto», disse o antigo diretor desportivo da Roma, garantindo que foi sempre «leal» com o treinador. Ainda o impacto da final perdida da Liga Europa, Renato Sanches e Rui Patrício

O antigo diretor desportivo da Roma, Tiago Pinto, que saiu do cargo em janeiro, recordou que a saída do compatriota e treinador José Mourinho do comando técnico dos romanos foi «um dia muito difícil para todos» e encarou o momento também como uma aprendizagem para si no futebol.

«Foi um dia muito difícil para todos. Ainda sou jovem e não sei se os dirigentes desportivos mais velhos lidam com isso de forma diferente. No momento que um treinador tem de ser despedido estou morto, porque quando se manda um treinador embora, significa dizer que também fizeste algo errado», afirmou Tiago Pinto, em entrevista à Sky Sport de Itália, publicada na sexta-feira.

Tiago Pinto esclareceu ainda que, «em dois anos e meio, com ele, era um soldado». «Com toda a pressão que o mundo do futebol acarreta», prosseguiu, admitindo: «Também é verdade que na nossa relação, durante a janela de transferências, sempre houve algum caos, mas ele sabe perfeitamente que fui leal com ele até ao fim, com o clube e com o projeto. As nossas opiniões podem ser diferentes, mas podemos trabalhar juntos», vincou.

O dirigente esclareceu também que nenhum jogador «chegou a Roma sem que Mourinho soubesse». «Mas seria mentiroso se dissesse que todos os que chegaram foram as primeiras escolhas. O processo de recrutamento na Roma, para ser claro, foi sempre o mesmo, desde jogadores que se saíram bem, até aos que se saíram mal, nunca tivemos um jogador que fosse do Tiago Pinto, do Mourinho, ou do scouting. É da equipa e com grande envolvimento do treinador, a pessoa que melhor conhece a equipa. Depois, com base nas instruções do scouting, nas possibilidades económicas do clube e no que o mercado oferecia, fizemos as nossas escolhas, mas com as pessoas todas envolvidas. Não chegou nenhum jogador que o treinador não soubesse», explicou.

O português respondeu ainda sobre as chegadas a custo zero de Paulo Dybala ou do ex-Benfica Mile Svilar. «Fiquei muito feliz quando contratámos o Dybala. Não quero ser egocêntrico, mas estou muito feliz com o momento que o Svilar está a viver, porque cheguei em maio de 2017 ao Benfica e o Mile chegou em agosto. Fizemos todo o percurso juntos, ele também sofreu muito, cresceu, mas será um dos melhores guarda-redes do mundo. E estou feliz com isso. Mas também estou muito orgulhoso de ter contratado três jogadores a título gratuito que, juntos, valem 100 milhões de euros. Por isso não sei: Svilar, Ndicka, Aouar… talvez se olhe hoje e se diga que foi um bom trabalho», analisou.

Tiago Pinto assumiu ainda que a final da Liga Europa perdida para o Sevilha e o que se seguiu foi decisivo para a tomada de decisão de sair da Roma. «Depois daquela final, o que mais me lembro é que as 48/72 horas seguintes foram humanamente muito difíceis. Foi o dia da minha carreira em que senti o maior impacto físico nas minhas emoções. Tínhamos a crença de que conseguiríamos, fizemos um grande jogo, mas o futebol é assim, a diferença entre ganhar e perder é um detalhe e aí fica claro que a final ficou ainda mais polémica por causa da arbitragem», afirmou.

«Aquele foi um momento crucial para mim. Depois daquelas 72 horas difíceis, jogámos contra o Spezia e o Tammy [Abraham] lesionou-se, o que foi mais uma dificuldade. Sabíamos que iríamos perdê-lo muitos meses. Depois, quando todos tínhamos tempo para refletir e repousar, tínhamos a obrigação do settlement agreement e de fazer transferências até ao fim de junho. No fim de junho foi a primeira vez que pensei para mim mesmo que estava a chegar ao limite das minhas forças e capacidades. Depois, recuperei, recuperámos, também fizemos um bom mercado no verão. Mas sim, foi aí que comecei a decidir sair da Roma», referiu Tiago Pinto.

Falando das transferências e de eventuais erros, Tiago Pinto assumiu que houve reforços «que não deram certo». «Shomurodov, agora o Renato Sanches é outro exemplo, mas não vejo o mercado como uma competição entre quem acerta mais. É verdade que algumas foram boas contratações, outras nem tanto, outras espetaculares em determinados momentos. Por exemplo, Rui Patrício: todos lhe agradeceram por nos ter dado a Liga Conferência e talvez hoje ele seja criticado. Isto é o futebol. Tenho um princípio que aprendi no Benfica: nós, como dirigentes desportivos, temos pelo menos de tentar não perder duas vezes. Quando contratamos um jogador, contratamos um jogador que vale alguma coisa tecnicamente e economicamente. O que eu tento fazer e faço é que se o jogador não trabalha bem em campo, procurou não deixar que o clube perca o que investiu», disse.

Tiago Pinto deixou ainda elogios ao trabalho do sucessor de Mourinho, Daniele de Rossi. Escusou-se a dizer se escolheria este técnico caso ainda estivesse na Roma, mas deixou reparos positivos. «Está muito bem, é uma pessoa espetacular. Fiquei surpreendido com a consciência que ele tem de quanto custa ser treinador. Está muito bem, tanto nos resultados, como na valorização dos jogadores», respondeu.

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