Brasil-Argentina no Maracanã: está aí o clássico dos clássicos

21 nov 2023, 09:00
Argentina-Brasil (AP)

O atual campeão do mundo na mítica casa da seleção mais vencedora do planeta, oito títulos mundiais entre os dois. Curiosidades e momentos que enquadram esta história feita de paixão, rivalidade, pressão e talento, a aquecer para o novo episódio desta noite.

Brasil-Argentina no Maracanã é tudo aquilo de que se fala quando se fala de futebol. O clássico desta madrugada (00h30) terá o atual campeão do mundo frente à seleção mais vencedora do planeta, oito títulos mundiais entre os dois. Com tudo o que o torna tão especial. Paixão, rivalidade, pressão e talento, ainda que faltem duas das estrelas maiores da canarinha.

A Argentina está de regresso a um palco que lhe diz muito, onde perdeu uma final do Mundial mas onde há dois anos conseguiu a vitória na Copa América que ateou o rastilho para a festa no Qatar. E o Brasil está tremido na qualificação para o Mundial 2026, mas é o Brasil, a seleção que nunca, em toda a história, perdeu em casa em eliminatórias para o Campeonato do Mundo.

Ambos vêm de desaires na corrida ao Mundial 2026. A derrota na Bombonera frente ao Uruguai foi a primeira da Argentina desde o choque com a Arábia Saudita na jornada inaugural do Mundial 2022. Mas a albiceleste ainda lidera o apuramento sul-americano, com 12 pontos em cinco jogos. E, sobretudo, apresenta a equipa de gala, uma equipa consolidada e confiante, um ano depois da conquista do Mundial no Qatar. A moral está em alta entre jogadores e adeptos. À chegada ao Rio de Janeiro, Messi e companhia foram recebidos por dezenas de adeptos, entoando cânticos de incentivo mas também de provocação ao velho rival. 

Pressão sobre o Brasil

O Brasil está bem mais pressionado, vindo de uma sequência inédita de duas derrotas seguidas. A primeira, em outubro e também frente ao Uruguai agora de Marcelo Bielsa, pôs fim a um recorde de 37 jogos e oito anos sem derrotas do escrete em eliminatórias para o Mundial. E com a segunda, na quinta-feira passada frente à Colômbia, viu-se num inimaginável quinto lugar na qualificação para o Mundial alargado, que apura diretamente os seis primeiros, com tem sete pontos em cinco jogos.

Para mais, será um Brasil desfalcado aquele que recebe o velho rival. A seleção orientada por Fernando Diniz, o treinador que venceu a Libertadores com o Fluminense e acumula com o papel provisório de selecionador do Brasil, já tinha perdido Neymar, com uma lesão grave em outubro frente ao Uruguai, e também não terá Vinicius Jr, que se lesionou no jogo com a Colômbia.

O jogo do Maracanã tem além disso a Liga portuguesa representada de ambos os lados, com os benfiquistas Otamendi e Di María na Argentina e Pepê na seleção do Brasil, naquela que foi a estreia em convocatórias para o jogador do FC Porto.

O último duelo entre as duas seleções aconteceu há dois anos em San Juan, na Argentina, e terminou sem golos. O anterior não acabou. No meio da pandemia, o clássico de setembro de 2021 de qualificação para o Mundial 2022, foi suspenso depois de as autoridades sanitárias brasileiras invadirem o campo, alegando quebras dos protocolos covid na comitiva argentina. A confusão instalou-se e não houve mais jogo. Acabou por ser mesmo cancelado uns meses mais tarde.

Um gesto de fair play no início de tudo

Foi mais um episódio, caricato, numa rivalidade centenária. Que foi crescendo com o tempo, mas até começou com muito cavalheirismo. As duas seleções realizaram os primeiros duelos oficiais em 1914 e foram logo dois, ambos em Buenos Aires e separados por uma semana. No primeiro, a Argentina venceu por 3-0. O segundo valeu um título e ficou marcado pelo fair play dos jogadores da albiceleste. Quando o Brasil já vencia por 1-0, Leonardi introduziu a bola na baliza do escrete, mas ele próprio, junto com o capitão Galup Lanús, avisou o árbitro que não era válido, porque tinha ajeitado a bola com a mão. Outros tempos e outra mão argentina. Essa foi a primeira edição da Taça Roca, troféu que opôs as duas seleções e que seria recuperado muitos anos mais tarde, com o nome mais comercial de Superclássico das Américas.

Quantos clássicos já se jogaram afinal?

Depois desses duelos inaugurais, jogaram-se mais de uma centena de clássicos entre aqueles que se tornariam os dois gigantes sul-americanos. Quantos ao certo, depende do ponto de vista. Argentina e Brasil fazem contas diferentes. Enquanto do lado albiceleste se contam dois confrontos antes da existência formal da seleção brasileira, que só aconteceu mesmo em 2014, a CBF contabiliza quatro jogos, dois nos anos 20 e dois em 1968, nos quais a Argentina argumenta não ter estado representada pela seleção oficial.

Nas contas da FIFA, são 108 jogos no total. Com um saldo bem equilibrado: 42 vitórias do Brasil, 41 da Argentina e 25 empates.

Copa América, das finais à mão de Túlio Maravilha

O clássico teve estrelas sem fim em campo, teve grandes jogos e grandes momentos, teve episódios em muitos palcos. Mais de 30 aconteceram na Copa América, que teve quatro finais entre os dois, com dois títulos para cada um nesses confrontos. E teve muitos momentos para a história, com confusão ao barulho. Como aquela mão de Túlio Maravilha.

Foi em 1995, nos quartos de final. O jogo aproximava-se do fim, a Argentina vencia por 2-1, quando o avançado brasileiro apareceu na área e deu, como ele próprio conta neste vídeo, uma «esticadinha básica». Incrivelmente o golo valeu e o Brasil acabou mesmo por levar a melhor nos penáltis.

Os duelos em Mundiais, do futebol-arte a Maradona

No Campeonato do Mundo houve quatro duelos cheios de história entre as duas seleções. O Brasil venceu o primeiro, na fase de grupos do Mundial 1974, por 2-1, o segundo foi na Argentina, em 1978, um nulo tenso e duro, a que chamaram Batalha de Rosário.

Depois houve o duelo do Mundial 82, quando o Brasil de Zico, Sócrates, Falcao e Junior que seduziu o mundo venceu a Argentina então campeã em título por 3-1, num jogo marcado ainda pela expulsão de Diego Maradona por agressão a Batista. Essa segunda fase de grupos terminou com ambas as seleções eliminadas - ao duelo sul-americano seguiu-se Sarriá e aquele clássico Itália-Brasil que sorriu à «azzurra» e deixou inconsoláveis os admiradores do futebol-arte da canarinha.

E por fim, o Mundial 1990. O único confronto entre ambas as seleções a eliminar em Mundiais, aqueles oitavos de final que Maradona decidiu num slalom entre camisolas amarelas para a história antes de oferecer o golo a Caniggia.

Ainda houve outra final entre Brasil e Argentina com a Taça das Confederações como palco. Em 2005, estavam frente a frente duas seleções recheadas de craques, mas o Brasil assinou uma goleada: 4-1, com um bis de Adriano, um golo de Kaká e outro de Ronaldinho Gaúcho e Aimar a sair do banco para apontar o único golo da Argentina.

Pelé e Messi na história dos duelos no Maracanã

O Maracanã tem um lugar especial na história entre Brasil e Argentina. Batizou Pelé, que se estreou na seleção precisamente frente à albiceleste. Foi a 7 de julho de 1957, estava em jogo a Taça Roca e o então adolescente de 16 anos saiu do banco para marcar o golo do Brasil nessa vitória da Argentina por 2-1. Seis anos mais tarde, o Rei assinou um hat-trick no triunfo do Brasil por 5-2, de novo no Maracanã e para a Taça Roca.

Só em 1998 a Argentina voltou a vencer no Maracanã, no último jogo de preparação antes do Mundial, decidido num golo de Cláudio Lopez. Voltou lá em 2014. Foi no mítico estádio carioca que iniciou a campanha do Mundial, embalada pelo ‘Brasil, decime qué se siente’, o cântico dos adeptos albicelestes na cara dos velhos rivais. E foi lá que jogou a final, perdida para a Alemanha. Não era o momento de Messi, mas ele chegaria. E começou a forjar-se precisamente no Maracanã, em 2021.

Aqui nasceu a Argentina campeã do mundo

Naquele 7 de julho de 2021, numa final da Copa América com pouco mais de cinco mil adeptos no estádio, ainda sob efeitos da pandemia, o golo de Di María que garantiu a vitória sobre o Brasil quebrou o longo jejum de troféus da Argentina, que durava há quase três décadas. Logo em casa do arquirrival.

Messi via-se aliviado da imensa pressão que carregou durante anos. E liderava, mais leve e mais maduro, a seleção orientada por Lionel Scaloni, também ele, tal como Fernando Diniz, interino numa fase inicial -, que conjugava finalmente o talento e a dinâmica em que assentou o sucesso no Mundial 2022.

Dois anos e meio mais tarde, é como campeã do mundo que a Argentina volta ao Maracanã, à procura de prolongar o estado de graça. Para isso, precisa de fazer o que nunca fez, vencer no Brasil na qualificação para o Mundial. Nos quatro encontros anteriores, o escrete venceu três e houve um empate, precisamente no último confronto.

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