Liverpool e Manchester United encabeçam o 'Big Picture', que propõe redução da Premier League de 20 para 18 clubes, fim da Taça da Liga e da Supertaça. EFL apoia, mas há posições contrárias no topo
A Premier League (PL) manifestou-se contra o plano de reforma no futebol inglês liderado pelo Liverpool e pelo Manchester United, considerando que as medidas incluídas no designado Big Picture «podem ter um impacto prejudicial» para a indústria.
No domingo, o Telegraph noticiou os principais pontos que constam do plano para reformar o futebol em Inglaterra de uma forma radical pela primeira vez em décadas. Um projeto iniciado em 2017 pelo grupo proprietário do Liverpool, o Fenway Sports Group, acelerado nos últimos tempos devido às consequências económicas provocadas pela covid-19 em muitos dos clubes da Liga Inglesa de Futebol (EFL), entidade que inclui a segunda (Championship), terceira (League One) e quarta (League Two) divisões.
Redução da Premier League de 20 para 18 clubes - possivelmente já para 2022 - manter 24 clubes no Championship, na League One e na League Two e acabar com a Taça da Liga e com a Community Shield (Supertaça inglesa) são alguns dos pontos que constam no documento elaborado.
Colocar o clube que terminar em 16.º na Premier League a disputar o play-off do Championship no final da época - em substituição do sexto classificado do segundo escalão - é outro dos pontos em cima da mesa, combinado com fatores económicos atraentes para os clubes da EFL, para minimizar desastres financeiros provocados pela pandemia. Entre eles, está um fundo imediato de 250 milhões de libras (cerca de 275 milhões de euros) para a EFL e a possibilidade de distribuição de 25 por cento da receita anual da PL para a EFL, o que poderia esbater diferenças financeiras entre os clubes filiados nas duas entidades. Além disso, a Federação de Futebol (FA) receberia o que é apelidado de um «presente» de 100 milhões de libras (cerca de 110 milhões de euros) para compensar receitas perdidas.
O plano apresentado pelo Fenway Sports Group e elaborado pelo dono do Manchester United, Joel Glazer, prevê o apoio de Arsenal, Chelsea, Manchester City e Tottenham, os outros quatro clubes dos ‘big six’. Prevê também que outros dos clubes mais antigos na principal liga - Everton, Southampton e West Ham - tenham um estatuto especial que permita introduzir reformas com o apoio mínimo de apenas seis destes nove clubes.
EFL vê com bons olhos, Premier e Governo nem por isso
O antigo diretor-executivo do Liverpool e atual presidente da EFL, Rick Parry, mostrou-se satisfeito pela possibilidade de reformar o futebol inglês desta forma.
«Foi um diálogo que envolveu os grandes clubes, não só o Manchester United e o Liverpool. Outros estiveram envolvidos, eu estive envolvido na perspetiva da EFL. É simples, trata-se de retirar uma grande fatia da receita dos direitos media, reconhecer a relevância e a importância de manter a pirâmide forte a longo prazo. O facto de dois dos maiores clubes demonstrarem interesse e liderança, é de aplaudir. Isto produziria sustentabilidade a longo prazo para todos os clubes. Diminuiria a distância entre o Championship e a Premier League, eliminava os pagamentos de para-quedas [ndr: pagamento concedido aos clubes que descem da PL para suavizar perdas], que criam desequilíbrio no Championship. Provavelmente é a melhor ideia desde a formação da Premier League», afirmou, em declarações à Sky Sports, no domingo.
Em oposição às ideias está a Premier League, cautelosa face ao que veio a público e desiludida com a posição de Parry. «Uma série de propostas individuais no plano noticiado podem ter um impacto prejudicial em todo o jogo e estamos desapontados por ver que Rick Parry dá total apoio», refere o comunicado do organismo, adiantando que tem «trabalhado de boa fé com os clubes e com a EFL para encontrar uma solução face à exigência de financiamento para o fundo de resgate da covid-19».
Já esta segunda-feira, o secretário de estado para o digital, cultura, media e desporto do Reino Unido, Oliver Dowden, mostrou-se «cético» quanto ao plano, falou em «acordo de bastidores» e alertou que pode haver intervenção governamental.
«Penso que a prioridade para a Premier League e para a EFL é estarem unidas. Há muito dinheiro na Premier League, basta olhar para a janela de transferências: mil milhões de euros gastos, penso mais do que as quatro outras maiores ligas juntas. Receio que se continuarmos com estes acordos de bastidores e outras coisas, vamos ter de olhar de novo para a governação subjacente do futebol», afirmou, em declarações estação televisiva Sky News.
A Federação de Adeptos de Futebol (FSA), que representa os adeptos em Inglaterra e no País de Gales, observou «com preocupação» as propostas, criticando o facto de «as grandes decisões no futebol» estarem a ser elaboradas «nas suas costas por proprietários bilionários».