Durante o recolher obrigatório naquele país africano, foram organizados novos protestos para esta sexta-feira. Populares e oposição querem derrubar o presidente há 27 anos no poder
No Burkina Faso, os manifestantes preparam-se para um novo dia de protestos, mas não há notícia de portugueses em perigo.O secretário de Estados das Comunidades disse esta sexta-feira à Lusa que os portugueses que estão no Burkina Faso querem manter-se no país apesar dos tumultos que já provocaram três dezenas de mortos, garantindo que o Governo está atento a situação.
«Já foram feitos contactos com 13 portugueses que estão no Burkina Faso a fazer um trabalho temporário. Admitimos que existam mais alguns, seguramente abaixo de 20.
De acordo com o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, os portugueses foram aconselhados a permanecerem nas suas casas até a situação normalizar.
«Os portugueses estão preocupados pois estão numa situação, de alguma tensão, o que é normal, mas para já ainda não temos nenhum pedido para regressarem a Portugal», adiantou.
José Cesário salientou que a situação está a ser acompanhada pela embaixada portuguesa em Dacar, no Senegal, que por sua vez está em contacto com Direcção-Geral dos Assuntos Consulares e Comunidades Portuguesas.
«A situação está a ser monitorizada pelas autoridades da União Europeia e o que quer que se possa vir a fazer será articulado com os parceiros comunitários», adiantou.
Os tumultos de quinta-feira no Burkina Faso causaram cerca de 30 mortos e mais de 100 feridos, disse à agência France Presse Benewende Sankara, um dos principais líderes da oposição.
Sankara escusou-se a precisar se o balanço dizia respeito a todo o país ou apenas à capital, Ouagadougou, onde manifestantes saquearam e incendiaram o parlamento, num protesto contra o Presidente Blaise Compaoré, no poder há 27 anos.
«Vinte e sete anos é suficiente»
A decisão de Compaoré de rever a Constituição para prolongar o mandato presidencial originou os protestos sem precedentes ocorridos na quinta-feira no Burkina Faso.
Com o parlamento incendiado e pilhado e a televisão estatal ocupada, os acontecimentos precipitaram-se e, numa reunião de emergência ainda na quinta-feira, foi decretado o estado de emergência no país e anunciado o recolher obrigatório pelo chefe-maior do Exército.
O recolher obrigatório não impediu, no entanto, que fossem marcados novos protestos para esta sexta-feira através dos meios de comunicação, como conta a BBC. É a resposta ao presidente Blaise Compaoré que, apesar de ter mandado dissolver o parlamento e anunciar um governo transitório de 12 meses no máximo, anunciou também que se vai manter no poder.
O povo promete não desistir enquanto Compaoré não abandonar a cadeira de chefe de Estado. Aliás, as palavras de ordem são mesmo «vinte e sete anos é suficiente».
Blaise Compaoré, de 63 anos, está há 27 precisamente na cadeira presidencial no Burkina Faso. Em 1987, o ministro de Estado sucedeu ao presidente Thomas Sankara que morreu em circunstâncias não determinadas.
A revisão constitucional de 2000 limitou os mandatos presidenciais a dois e conseguiu prolongar por mais dois. Agora, a um ano do fim do mandato, deseja uma nova revisão constitucional que prolongue a sua permanência no poder.
Já não é a primeira vez que o Burkina Faso é palco de confrontos contra o poder instalado. A ver vamos o desfecho desta vez. As Nações Unidas esperam que a solução seja encontrada a curto prazo.
Apesar de ser um dinossauro no poder, Blaise Compaoré tem gozado das boas relações com os Estados Unidos e a França. Estes países detêm bases militares no Burkina Faso, que usam para combater o Estado Islâmico.
O Burkina Faso é um dos países africanos mais pobres.