Pfizer

Doentes portugueses esperam cinco vezes mais que os alemães por um "direito essencial num país desenvolvido"

18 jun, 10:51

Portugal está mal colocado quando comparado com os países mais desenvolvidos. Falta tempo para os profissionais e os hospitais privados também têm uma palavra a dizer

Há diferenças gritantes entre Portugal e o resto da Europa no que toca a inovação em saúde. O diretor-geral da Pfizer explicou, na CNN Portugal Summit dedicada à área, que existe um “problema de falta de equidade no acesso”, nomeadamente a novos medicamentos, o que devia ser um “direito essencial num país desenvolvido”.

Paulo Teixeira sublinha que o mais recente relatório Patient Wait, que delibera sobre o tempo de acesso a medicamentos e sua introdução no mercado. “Infelizmente Portugal não tem ficado bem, inclusive tem-se vindo a agravar. Um doente português espera, em média, dois anos por inovações terapêuticas”, nota, lembrando que autorizações especiais podem ajudar, mas não resolvem tudo.

O responsável vê neste caso um retrato que “não é bom”, uma vez que o acesso a novas terapêuticas demora 710 dias, 179 dias a mais da média europeia. De resto, e comparando com a Alemanha, o país com maior rapidez, demora apenas 126 dias, cinco vezes menos que no caso português.

“Isto traz problemas em termos de competitividade e, acima de tudo, traz problemas para as pessoas. Um doente português acaba por não ter o acesso à medicação nos mesmos moldes e nos mesmos tempos”, reitera, falando sobretudo numa comparação com a Europa Central.

Para tentar abreviar este caminho não é algo a fazer de um dia para o outro. Não se trata, de resto, de uma situação nova, alerta Paulo Teixeira, que vê o pouco investimento na saúde como uma das várias razões para este problema.

Um dos caminhos é a aposta em ensaios clínicos, que o presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares alerta ser insuficiente, sobretudo quando comparada com a realidade europeia.

“Quanto tentamos recrutar doentes, em muitos casos o ensaio já terminou noutros países e já vamos tarde”, afirma Xavier Barreto, alertando para a grande pressão para responder a consultas, cirurgias e às demais listas de espera, o que retira espaço e tempo à dedicação de médicos para investigação.

O responsável admite que não se trata tanto de um problema de pessoal, mas de autonomia, traçando um paralelo com Espanha, onde um terço dos proveitos é proveniente de ensaios clínicos, o que dá vantagens aos hospitais e também aos doentes.

“Faria todo o sentido investirmos mais”, sublinha, lembrando a articulação com fundações e privados, enquanto em Portugal o Ministério das Finanças tem de ter uma palavra a dizer neste tipo de questões.

O presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada lembra que existem vários constrangimentos, a começar pela ordem financeira. Óscar Gaspar sabe que os hospitais privados têm de entrar neste ramo, até porque a inovação é uma "necessidade".

"Quando aparecemos na cauda da Europa em termos de inovação, as pessoas lá fora perguntam 'porquê'?", nota o responsável.