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Portugal "vai ter de reinventar as rodas do futuro" e para isso precisa de "uma fasquia um pouco maior": o que se segue para a saúde?

18 jun, 20:13
CNN Summit

Na CNN Summit dedicada à saúde do futuro, quatro especialistas na área anteveem os principais desafios para o setor da saúde nos próximos anos

“A pandemia trouxe uma enorme oportunidade em termos de reindustrialização, há imensas oportunidades”, defendeu o presidente do Infarmed na CNN Summit, esta terça-feira. Num painel dedicado à saúde do futuro, Rui Santos Ivo abordou as potencialidades dos ensaios clínicos e os seus possíveis impactos ao nível do acesso, da economia e da melhoria da qualidade dos serviços.

“Se eu for ver o número de ensaios que determinada empresa está a fazer, e se das 20 maiores empresas do ranking eu fosse dizer ‘ok, cinco estão a fazer um maior número de ensaios, cerca de 20 ou 30, em Portugal’, e se as outras 15 restantes também fizessem esse número, nós tínhamos aqui um aumento enorme”, explicou. “Não seria um grande esforço, porque se essas cinco empresas conseguem fazer mais de 20 ensaios no país, seguramente existem condições para que isso aconteça.”

Rui Santos Ivo sugeriu o setor privado como “uma oportunidade enorme”, tendo em consideração a capacidade que tem neste momento em Portugal. “Não pode fazer ensaios clínicos porquê? Só não pode fazer por duas razões, ou porque as unidades não se disponibilizam a isso ou porque os promotores não procuram essas unidades.”

No mesmo painel, a diretora do Instituto de Medicina Molecular de Lisboa Maria Mota chamou a atenção para o índice “terrível” de doenças crónicas aos 65 anos, ainda que haja uma esperança média de vida de 81 anos. “É algo, como país, que temos de trabalhar, desde a investigação à inovação, e temos de pensar como é que podemos diminuir este índice”, defendeu.

Além da “comunicação de saúde”, que considera “importantíssimo manter”, diz que o problema em questão devia ser encarado como “uma emergência”. Desta forma, teria de ser elaborado “um plano” para baixar o índice de doenças crónicas “em cinco, dez anos”. “Nós sabemos como fazer, não temos de reinventar a roda”, garantiu a convidada, recorrendo ao exemplo da pandemia: “Perante uma emergência, o Instituto de Medicina Molecular arranjou um método com as ferramentas que tinha.”

“Há um lado da ciência que vai ter de reinventar as rodas do futuro, mas também há um lado da ciência que vai ter de inovar para que todas as estruturas trabalhem juntas e arranjem soluções”, concluiu.

A diretora-geral da Saúde Rita Sá Machado acrescenta que para isso “vamos ter de pôr uma fasquia um pouco maior”, apesar de admitir que as doenças crónicas “já são uma bandeira vermelha para a saúde em Portugal”. “Já o é, já se tem feito algum caminho nesta área, mas existe aqui uma multifatoriedade que é difícil de conseguir”, nomeadamente questões associadas à alimentação e a estilos de vida. Para a médica não basta as pessoas terem conhecimento sobre aquilo que lhes faz bem ou mal, mas também têm de “querer mudar o seu comportamento”.

As autarquias, a academia, o setor público, o setor privado e as próprias associações de doentes podem, segundo Rita Sá Machado, ajudar a ultrapassar este “desafio societário”. “Cada vez mais vamos envolvendo as diferentes camadas de um sistema muito maior do que aquele básico que todos conhecemos.”

E no futuro, que tipo de doentes é que vamos ter de tratar? É a questão lançada a Luís Campos, presidente do Conselho Português para a Saúde e Ambiente, que descreve um cenário ainda mais preocupante provocado pelas alterações climáticas e degradação ambiental.

O especialista não tem dúvidas de que as doenças vão aumentar, essencialmente as cardiocerebrovasculares, as respiratórias, o cancro, as doenças transmitidas por vetores, as doenças relacionadas com a qualidade da água e dos alimentos, os efeitos diretos do calor e as doenças mentais. “Tudo isto será agravado, expandido a mais áreas e será mais frequente”, alertou, acrescentando que atualmente os “determinantes ambientais” já matam uma em cada quatro pessoas a nível global.

Por outro lado, debruçou-se sobre o papel da inteligência artificial na prestação de cuidados de saúde, que embora “entusiasmante”, é também “uma ameaça”. “Pode ser bom para nós e para os doentes, mas estamos a criar uma inteligência superior a nós, que pode ter utilizações muito nefastas como na guerra, no contraterrorismo, na desinformação, e adquirir uma autonomia que nós não somos capazes de dominar.”

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