Consumidores estão mais otimistas? Sim. Os efeitos da guerra estão a desvanecer, os aumentos salariais deram amparo e os portugueses parecem acreditar na robustez da economia

29 jun 2023, 22:00
Supermercado (Getty Images)

A confiança dos consumidores portugueses atingiu o nível mais elevado desde fevereiro de 2022, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística. “É uma charada envolta em mistério, dentro de um enigma”

A subida dos salários, a desaceleração da taxa de inflação, a diminuição dos efeitos da guerra na Ucrânia e a crença na economia portuguesa são alguns dos fatores apresentados pelos economistas ouvidos pela CNN Portugal para justificar a uma nova melhoria da confiança dos consumidores portugueses, segundo dados divulgados hoje pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

“Esta confiança parece revelar uma certa crença nos fundamentos da economia portuguesa”, sublinha o economista Sandro Mendonça. “Aparentemente, as pessoas acreditam que há qualquer coisa no modelo de crescimento da economia portuguesa que é estrutural e duradouro, de tal maneira que tem resistido a impactos geopolíticos, climáticos e até a uma postura muito abrasiva da política monetária europeia”, sublinha. Para Sandro Mendonça, apesar de todos estes impactos serem contrários aos interesses dos consumidores e das empresas e de o nível de vida das famílias ter diminuído, as pessoas sentem que “sofrem”, mas que não estão “num beco sem saída”.

Os dados divulgados esta quinta-feira pelo INE mostram que o indicador de confiança dos consumidores subiu pelo sexto mês consecutivo e atingiu o valor mais alto desde fevereiro de 2022, o mês em que se iniciou a invasão da Ucrânia pela Rússia e a partir do qual a confiança caiu a pique. Apesar das subidas consecutivas que se registam desde dezembro do ano passado, a confiança dos consumidores continua a um nível baixo quando comparado com os resultados alcançados, por exemplo, em 2017, ano em que atingiu um dos valores mais altos de sempre.

O economista João Cerejeira, destaca dois fatores que podem explicar a subida de confiança das famílias. Por um lado, os efeitos da guerra contra a Ucrânia terem vindo a ser atenuados de forma paulatina e, por outro, os salários terem vindo a melhorar. "Houve um pacote para o reforço salarial, o que fez com que as pessoas não se sentissem tão desamparadas. A atitude do Estado em apoiar os trabalhadores e a economia pode ter feito a diferença na confiança das pessoas", sublinha o economista, adiantando que, além disso, “a desaceleração da inflação trouxe algum alívio financeiro para os consumidores”.

Na mesma linha, Sandro Mendonça, sublinha que "a recuperação salarial pode ter feito a diferença na confiança das pessoas". E explica que o facto de o Governo ter adotado uma postura mais ativa e ter implementado medidas para fortalecer os salários pode ter gerado esperança e confiança entre os consumidores. O economista conclui, assim, que, “apesar das dificuldades enfrentadas, as pessoas sentem que o pior já passou e animam-se para o futuro”.

Segundo os últimos dados divulgados na síntese de informação estatística da Segurança Social, em abril, os salários registaram um aumento de 5,8% face a igual período do ano passado.

Também os dados desagregados do indicador de confiança dos consumidores parecem justificar estas tendências, por um lado, os dados mostram que as famílias inquiridas pelo INE sentem a situação financeira do agregado familiar a melhorar há vários meses. E sentem, por outro lado, uma perspetiva mais positiva em relação à evolução dos preços.

O indicador de confiança do INE é construído a partir de quatro questões colocadas aos portugueses: situação económica do país nos próximos 12 meses; situação financeira do agregado familiar nos últimos 12 meses; situação financeira do agregado familiar nos próximos 12 meses; e realização de compras importantes nos próximos 12 meses.

Apesar dos resultados divulgados esta quinta-feira, ambos os economistas ouvidos pela CNN Portugal lembram que estes dados devem ser lidos com cautela por ainda se estar a atravessar um período de instabilidade. Sandro Mendonça lembra que os sentimentos das pessoas são voláteis e impressionistas e cita Churchill para caracterizar a situação atual: “É uma charada envolta em mistério, dentro de um enigma”.

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