Macau: o Mundial tira vitalidade?

28 mai 2002, 15:41

Processo disciplinar para quem vir o Argentina-Inglaterra e bocejar Um comunicado dos Serviços de Trabalho e Emprego ameaça (mais ou menos) com processo disciplinar quem vir o Argentina-Inglaterra e bocejar mais tarde.

O Campeonato do Mundo afecta a vitalidade do trabalhador? Em Macau parecem pensar que sim, segundo um comunicado reproduzido na imprensa local de hoje, e emitido pela Direcção dos Serviços de Trabalho e Emprego.

Não basta ser «proibido, durante as horas de expediente, acompanhar o desenrolar do Campeonato do Mundo de futebol, vendo e/ou ouvindo as suas notícias, através da internet ou dos órgãos de comunicação social» (eu, como internet, salvo seja, queria também pensar que sou um órgão de comunicação social, salvo seja, mas desta vez vou deixar passar). Não. Quem passar mal a noite e não conseguir apresentar provas de que foi por causa de uma dor de dentes e não por causa do Argentina-Inglaterra sujeita-se a um processo disciplinar.

Os jogos até nem são tarde (14.30, 17 e 19.30 horas de Macau, normalmente), ninguém passará, à partida, noites em claro. Mas enfim, o futebol só pode ser uma coisa absolutamente perniciosa - é a única conclusão a tirar do comunicado.

Que começa assim: «Como o Campeonato do Mundo está prestes a chegar, julgo necessário alertar antecipadamente todos os trabalhadores destes Serviços que devem fazer todo o possível em cumprir as atribuições que competem aos funcionários públicos e agentes, devendo todos os trabalhadores manterem-se, durante as horas de expediente (quer durante as horas normais de expediente, quer durante o tempo em que prestam horas extraordinárias), em bom estado energético, com a mente fresca, com vitalidade, serem cuidadosos e assíduos, bem como prestarem serviços ao público com eficiência, empenhamento e aceleradamente, pelo que se algum trabalhador cometer erros a nível do trabalho por não ter dormido o suficiente ou por falta de descanso, não constituindo esse motivo uma justificação razoável aceite pelo seu superior hierárquico, fica sujeito a instauração de processo disciplinar.»

Uf! Este é o primeiro parágrafo. Podem ver, tem só um ponto final. Assina Shuen Ka Hung, director dos STE, sem perceber que uma frase com 127 palavras e um só ponto final rouba muito mais vitalidade que 90 minutos dos Estados Unidos-Polónia.

Mas continua. Férias durante o Campeonato do Mundo só em número reduzido. Ou seja, mesmo que uma pessoa ache que vai perder a vitalidade e descansar pouco, nem pode ir de férias para se precaver. «Durante a examinação dos períodos de férias apresentados pelos trabalhadores no período em que vai decorrer o Campeonato Mundial de futebol, todos os dirigentes e chefias devem ponderar rigorosamente se o número de trabalhadores ausentes por motivo de férias poderá afectar o funcionamento normal destes serviços.»

O comunicado termina com a proibição de acompanhar o Mundial durante o horário de expediente. O que querem que os trabalhadores façam, que se despeçam?

Patrocinados