“Este tipo de desastres relacionados com as alterações climáticas estão além das coisas com as quais estamos habituados a lidar. Pode realmente conduzir a um desastre”: uma lição para o mundo

CNN Portugal , Com Lusa
10 ago 2023, 22:26

EUA acionaram todos os meios disponíveis para combater fogos no Havai - há pelo menos 36 mortos, situação de catástrofe acionada E isto que está acontecer no Havai não é só um problema local - é mesmo global

Ventos fortes, humidade baixa e vegetação seca: uma mistura perigosa de condições contribuiu para tornar particularmente elevado o nível de destruição causada pelos fogos no estado norte-americano do Havai. Se, por um lado, as alterações climáticas aumentam o risco de incêndios ao elevar as temperaturas, também tornam mais provável a ocorrência de furacões mais fortes. Por sua vez, essas tempestades podem alimentar eventos de vento mais fortes.

São "estas combinações imprevisíveis ou inesperadas a que estamos a assistir agora  que estão a alimentar este fogo extremo”, diz Kelsey Copes-Gerbitz, investigadora de pós-doutoramento na Faculdade de Silvicultura da Universidade de Colúmbia Britânica, citada pelo Guardian. “O que estes (…) catastróficos incêndios estão a revelar é que ninguém está imune ao problema”, acentuou.

Segundo meteorologistas, diferenças elevadas na pressão atmosférica estão a causar ventos fortes de ocorrência rara que alimentam as chamas destruidoras. O clima do Havai conhece estes ventos: resultam do movimento do ar do sistema de altas pressões a norte do Havai – conhecido como o Alto do Pacífico Norte – para a área de baixas pressões no Equador, a sul do Estado. Mas o furacão Dora, que passou a sul das ilhas esta semana, está a exacerbar o sistema de baixa pressão e a aumentar a diferença na pressão atmosférica, o que leva à criação de “raros ventos fortes”, disse Genki Kino, meteorologista do Serviço Meteorológico dos EUA, colocado em Honolulu.

O climatologista do Estado do Havai Pao-Shin Chu contou que foi apanhado desprevenido pelo impacto que o Dora está a ter a uma distância de 800 quilómetros. “O furacão Dora está muito distante do Havai mas temos aqui estes fogos. Isto é algo de que não estávamos à espera.” Ventos fortes, combinados com humidade baixa e uma abundante vegetação seca que arde facilmente podem aumentar o perigo dos incêndios, mesmo numa ilha tropical como a Maui.

“Quando estas condições se verificam todas ao mesmo tempo é o que Serviço Meteorológico designa ‘condições de alerta vermelho’”, disse Erica Fleishman, diretora do Instituto de Investigação em Alterações Climáticas da Universidade estadual do Oregon, adiantando que “as alterações climáticas em muitas partes do mundo estão a aumentar a secura da vegetação, em grande parte porque a temperatura está mais quente”. Sublinhou ainda que, “mesmo que se tenha a mesma quantidade de precipitação, se existirem temperaturas mais altas as coisas secam mais depressa”.

Já Clay Trauernicht, cientista do fogo na Universidade do Havai, afirmou que a época das chuvas pode levar espécies invasoras, como a relva da Guiné, a crescerem até 15 centímetros por dia e a atingirem uma altura de três metros. Quando seca, representa uma autêntica caixa de pólvora pronta para arder. “Estas relvas acumulam combustível muito rapidamente”, diz Trauernicht, que acrescenta: “Em condições mais quentes e secas, com chuvas variáveis, apenas exacerbam o problema”.

Apesar de não se poder dizer que as alterações climáticas causam eventos singulares, os cientistas realçam que o impacto que os extremos climáticos estão a ter nas comunidades é inegável. 

“Há uma tendência crescente na intensidade dos furacões a nível mundial, em parte porque o ar mais quente tem mais água”, disse Fleishman. “Além disso, o nível do mar está a subir a nível mundial, pelo que se tende a ter inundações mais severas resultantes de um furacão quando chega a terra."

“Este tipo de desastres relacionados com as alterações climáticas estão realmente além das coisas com as quais estamos habituados a lidar”, disse Copes-Gerbitz. “Este género de desafios, múltiplos e inter-relacionados, pode realmente conduzir a um desastre”, concluiu.

Ativada situação de catástrofe

“Ainda estamos em modo de preservação da vida. A busca e o resgate ainda são uma preocupação primordial”, afirmou Adam Weintraub, porta-voz da Agência de Gestão de Emergências do Havai, à AP, sobre os incêndios no Havai, que já provocaram 36 vítimas mortais. E sublinhou: "Ainda temos pessoas em perigo. Ainda temos pessoas que não têm casa. Ainda temos pessoas que não conseguem encontrar os seus familiares. É uma catástrofe."

“Qualquer pessoa que perdeu um ente querido, cuja casa foi danificada ou destruída, receberá ajuda imediatamente”, garantiu o o presidente norte-americano, Joe Biden. A Casa Branca declarou os incêndios no Havai uma situação de catástrofe, permitindo assim desbloquear fundos federais de ajuda. Biden disse ainda que as forças armadas estarão à disposição para ajudar.

“Estamos a trabalhar o mais rapidamente possível para combater os incêndios e retirar moradores e turistas”, disse o presidente dos EUA. “Ao mesmo tempo, as nossas orações estão com o povo do Havai, mas não apenas nossas orações. Todos os ativos que temos estarão disponíveis para eles. Vou garantir que o estado tenha tudo de que precisa do governo federal para recuperar. Ordenei que todos os ativos federais disponíveis na ilha, incluindo a guarda costeira dos EUA, a terceira frota da Marinha e o Exército dos EUA, estejam disponíveis para ajudar na resposta de emergência local grupos e a guarda nacional havaiana”.

Além disso, o Pentágono acionou 134 efetivos da Guarda Nacional dos EUA, um corpo militar na reserva, para ajudar nas tarefas de resgate e na luta contra os incêndios.

Em conferência de imprensa, o porta-voz do gabinete de Defesa dos EUA, Pat Ryder, acrescentou que a Guarda Nacional irá acrescentar dois helicópteros Chinook para auxiliar os trabalhos de extinção das chamas e as missões de resgate. Também a Brigada de Aviação 25 do exército norte-americano e as forças armadas enviaram para o Havai quatro helicópteros Blackhawk e Chinook, que estão a apoiar os bombeiros e a guarda costeira. Esses efetivos resgataram 14 sobreviventes nas águas do Havai, onde se tinham refugiado do fogo e do fumo, frisou Ryder.

Várias ilhas do Havai estão a ser afetadas pelas chamas, mas os maiores danos estão a ocorrer em Maui, onde 11 mil pessoas foram retiradas na quarta-feira, enquanto se prevê que mais 1.500 tenham de abandonar a ilha ainda esta quinta-feira.

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