Situação no Hospital de Cascais é mais preocupante do que Ordem dos Médicos antecipava

Agência Lusa , PF
28 fev, 16:19
Carlos Cortes (Tiago Petinga/Lusa)

De acordo com o bastonário, Carlos Cortes, os problemas afetam serviços como Medicina Interna, Urologia, Gastrenterologia, Urgência, Cardiologia, Pediatria e Radiologia

O bastonário da Ordem dos Médicos disse esta quarta-feira que a situação que encontrou numa visita ao Hospital de Cascais é mais preocupante do que antecipava e que os problemas afetam outras especialidades além da Neurologia.

“O cenário que nos foi descrito foi o de uma espiral preocupante que vai além das informações que nos tinham sido remetidas antes da reunião. Há dificuldades em recursos humanos, não só na neurologia”, explicou Carlos Cortes, em declarações à agência Lusa.

O bastonário visitou esta quarta-feira o Hospital de Cascais – uma Parceria Público-Privada – e reuniu com o Conselho de Administração, a Comissão de Internos e vários profissionais, na sequência de denúncias de um grupo de médicos do hospital sobre a falta de capacidade de resposta em Neurologia.

“O que surpreendeu a Ordem dos Médicos é que os problemas do Hospital de Cascais vão muito além da Neurologia e muitas especialidades expressaram as suas enormes dificuldades”, relatou o responsável.

De acordo com o bastonário, os problemas afetam serviços como Medicina Interna, Urologia, Gastrenterologia, Urgência, Cardiologia, Pediatria e Radiologia.

Carlos Cortes sublinhou ainda que o Hospital de Cascais vai aumentar, em breve, a área de referenciação, que passará de abranger cerca de 320 mil habitantes para 450 mil habitantes.

“O Hospital de Cascais está com dificuldades, vai aumentar a sua área de influência em 130 mil habitantes, mas não vai aumentar em termos de recursos humanos. É uma missão impossível, uma equação difícil de resolver”, alertou.

Além da falta de recursos humanos - o serviço de Neurologia, por exemplo, é composto apenas por uma médica -, Carlos Cortes diz que foram relatados problemas com equipamento obsoleto e relacionados com o próprio ambiente no hospital.

“O ambiente que os médicos referiram não é de governação clínica, mas de um olhar muito económico e financeiro. Obviamente é importante, mas não podemos esquecer que, em primeiro lugar, estas instituições, independentemente do seu modelo de organização, têm como missão os cuidados de saúde de qualidade”, sublinhou.

Uma das consequências mais preocupantes, além da prestação de cuidados adequados, relaciona-se com a capacidade formativa do hospital que, no entender do bastonário, não é suficientemente valorizada no contrato da Parceria Público-Privada.

“O hospital tem de desenvolver preocupações assistenciais, não só em número, mas sobretudo em qualidade. O aspeto formativo tem de ser reforçado, porque é o que vai permitir, em primeiro lugar, ter mais médicos especialistas para o SNS e fixar os seus próprios internos”, defendeu.

Numa carta aberta divulgada na terça-feira, um grupo de médicos do Hospital de Cascais anunciou a entrega de declarações de escusa de responsabilidade por falta de condições para assegurar em segurança a prestação de cuidados adequados aos doentes do foro neurológico.

Para tentar encontrar solução, os médicos pedem a criação de um protocolo de articulação com outro hospital ou Unidade Local de Saúde com capacidade para prestar este tipo de cuidados diferenciados aos doentes com patologia do foro neurológico afetos à área de residência do Hospital de Cascais até que esta capacidade esteja novamente garantida.

Após 14 anos a gerir a parceria público-privada (PPP) do Hospital de Cascais, a Lusíadas Saúde desistiu do novo concurso, em 2022, por já não estar garantida a sustentabilidade económica.

Numa entrevista ao jornal Negócios na segunda-feira, o presidente executivo do Grupo Lusíadas Saúde explicou que o novo contrato adicionou um conjunto de valências e novas áreas de influência, que tornavam as contas deficitárias.

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