O clássico à distância e à mesa, com comida portuguesa e Roger Schmidt na conversa

7 abr 2023, 09:15
Benfica-FC Porto visto da Alemanha

Da Luz para o mundo, o Benfica-FC Porto visto a partir da Alemanha, junto de quem tem portas abertas para receber adeptos de cada um dos clubes, entre o convívio e a bola

Da Luz para o mundo, aí está o Benfica-FC Porto. O jogo que pode devolver algum enredo ao campeonato ou estender ainda mais a passadeira vermelha chega desta vez com um fosso de 10 pontos entre os rivais, coisa rara. Mas clássico é clássico. No estádio, em casa, no restaurante ou no café. Em Lisboa, no Porto, seja onde for. Se for acompanhado por uns copos e uma boa refeição, melhor. Será assim mais uma vez onde houver adeptos dos dois clubes e eles estão por todo o lado. O Maisfutebol foi procurar um olhar desses adeptos que seguem o seu clube à distância na Alemanha, começando por memórias de Roger Schmidt.

«Foi treinador do clube aqui da cidade. Lembro-me disso, era o começo dele», diz Domingos Silva, português a viver na Alemanha há 32 anos, à frente de um restaurante em Munster a que chamou Casa do Benfica.

Foi sim. O treinador que lidera o Benfica na luta pelo 38º título de campeão nacional iniciou o percurso no Preussen Munster, em 2007. Até essa altura o técnico natural de Kierspe, a pouco mais de uma centena de quilómetros de distância, acumulava o treino em part time no Delbrucker com o trabalho de engenheiro mecânico. Em 2007, a oportunidade no Munster levou Schmidt a deixar o emprego e a dedicar-se em exclusivo à carreira de treinador. «Passou por aqui no início, era um treinador desconhecido. Este ano é que está a ser mais falado», diz Domingos Silva, a contar que, mesmo entre clientes alemães, o atual treinador do Benfica é motivo de conversa no seu restaurante: «Falam dele e comentam que é muito bom treinador.»

Schmidt chegou à Bundesliga, esteve na Áustria, na China e nos Países Baixos e agora está perto de dar uma alegria aos benfiquistas. Vai acontecer, diz Domingos Silva. «Tenho a certeza de que vamos ser campeões. São dez pontos de avanço...», afirma o emigrante português, que foi camionista mas agora se dedica em exclusivo ao seu estabelecimento, o qual não faz parte da rede oficial de casas do Benfica, mas tem em comum a paixão pelo clube. Domingos Silva diz que é sócio e acompanha o clube sempre que pode: «Quando vou a Portugal vou sempre ver jogos, aqui é mais difícil por causa dos bilhetes.»

A sua casa é mais um ponto de encontro para adeptos. «Estamos abertos há 24 anos e temos sempre as portas abertas para as pessoas verem os jogos.» Vai ser assim de novo nesta sexta-feira. «Há grupos que vêm, organiza-se uma festa. Espero ter uma boa casa. Temos arroz de polvo, já há várias pessoas inscritas.»

Bifanas, francesinhas e uma réstia de esperança na casa do FC Porto

Também será assim do lado do FC Porto. Na Alemanha vivem mais de 100 mil emigrantes portugueses, um pouco por todo o país, mas com incidência especial em algumas localidades. Como Gross-umstadt, bem mais a sul, uma cidade de pouco mais de 20 mil habitantes que tem uma numerosa comunidade portuguesa. É lá que ficam as duas casas oficiais de Benfica e FC Porto na Alemanha.

Marco Abreu está à frente da Casa do FC Porto, a delegação 81 do clube. Também é emigrante de longa data na Alemanha e está ligado ao espaço desde a sua fundação, em 2003. Já lá vivia, portanto, quando o FC Porto se sagrou campeão europeu. E esteve em Gelsenkirchen. A voz anima-se quando recorda a final da Liga dos Campeões de 2004: «Foi a melhor coisa que vivi na minha vida.»

Como responsável da delegação, Marco Abreu também se encarrega de articular a venda de bilhetes quando o FC Porto joga na Alemanha. Este ano estiveram em Leverkusen. «Levámos um autocarro. Fora os bilhetes que eu vendi, vendi mais de 270 bilhetes.»

De resto, tem a porta aberta para quem quer acompanhar o FC Porto pela televisão. «Os portistas vêm aqui ver os jogos. Quando ganhamos é uma festa. Costumamos ter 30, 40 ou 50 pessoas a ver os jogos. Às vezes depende do horário. Quando é muito tarde, as pessoas têm de trabalhar cedo e não vêm ver o jogo», conta. O espaço que explora com a esposa é um café. «Só fazemos refeições de vez em quando, quando há uma festa ou assim.» Mas não faltam uns petiscos para matar saudades de Portugal: «Temos umas bifanas, umas francesinhas, umas moelas…»

Nesta sexta-feira, também ali os olhos estarão postos no clássico. Mesmo que a época do FC Porto não entusiasme. «Este ano não está a correr muito bem. As arbitragens também não estão a ser corretas. Só estão a ver um clube», atira. Mas lembra que já fez, ali mesmo, «muitas festas». E conta fazer mais, ele que tem uma réstia de esperança na luta pelo título. «Já festejámos a Taça da Liga e eu espero que vamos ganhar ainda a Taça de Portugal. Mas a minha fé é sempre a última a morrer. Não sei se não vamos ser campeões ainda. Eu ainda tenho uma duvidazinha…»

«Pode ser que o Schmidt cá venha»

Quanto ao Benfica, Marco Abreu não se mostra de resto muito impressionado com o que está a fazer Roger Schmidt: «Aqui em minha casa ninguém fala dele. Mesmo os alemães não falam dele porque é um treinador que não ganhou nada aqui.» No fim das contas, o seu palpite para o clássico é, claro, azul e branco: «2-1 para o FC Porto. Estou com fé. O Taremi e o Galeno, é que vão marcar os golos.»

Domingos Silva faz um prognóstico mais vago. «Meio a zero chega. Vai ser um jogo difícil, e pelo que sei da equipa de arbitragem, com casos», atira, ele que já está a pensar na festa que fará se o Benfica for mesmo campeão. «Vai ser boa. Fazemos um jantar convívio e aí é casa cheia», diz, a contar que já tem sido assim noutros anos: «Faz-se uma festa só para benfiquistas.» Melhor mesmo, só se por lá aparecesse um dia Roger Schmidt. «Claro que gostava que ele cá viesse. Estou a pensar nisso, mandar um convite na altura das férias. Pode ser que ele venha.»

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