opinião
Coronel Veterano do Exército Brasileiro
A ARTE DA GUERRA

HEXÁGONO, o lugar onde os franceses planeavam o envio de tropas à Ucrânia

5 abr, 18:19

A França é um dos grandes predadores militares da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), sendo um dos poucos integrantes do restrito clube atômico. Uma evidência disso é a moderníssima versão francesa do Pentágono americano, que é chamada de Hexágono pelos parisienses e foi ocupada em 2015. Projetada pelo arquiteto Nicolas Michelin, essa construção aparenta ter sido inspirada no formato de uma “colmeia”. Um conjunto de edifícios compactos cobertos com mosaicos brancos e azuis esconde-se atrás da fachada de vidro e concreto do novo Quartel-General (QG) das Forças Armadas da França em Balard, no 15º arrondissement (subúrbio) de Paris, a sudoeste da capital.

Cobrindo 420.000 metros quadrados e com 14 quilômetros de corredores, a unidade de Balard, materializa a centralizarão de serviços anteriormente espalhados por Paris em busca de aperfeiçoar a interoperabilidade das Forças Armadas. Esse QG abriga centros de comando e controlo, além de salas de gerenciamento de crise que viabilizam o trabalho integrado reunindo representantes do Exército, Marinha, Força Aérea, da Direção-Geral de Armamentos (DGA) e dos Serviços de Administração Geral, ou seja, cerca de 9.300 militares. Apenas o Ministro da Defesa e o seu gabinete permaneceram no Hotel de Brienne, sede histórica do ministério, no 7º arrondissement.

Por causa desse moderno agrupamento de instalações militares, as Forças Armadas colocaram à venda doze imóveis próximos do badalado Les Invalides, no centro de Paris. Anteriormente, o Comando Naval ficava na Place de la Concorde, o Exército no Boulevard Saint-Germain e a DGA em Bagneux. Devido à necessidade de integração com o poder político e à expansão imobiliária da cidade, apenas essa região da capital poderia acomodar o novo QG.

A região ocupada pelo Hexágono abrigou anteriormente um centro para testes de navios de guerra, um aquartelamento da Força Aérea e da Escola Nacional de Ciências e Técnicas Avançadas (ENSTA), agora localizada em Palaiseau. Estas antigas instalações foram demolidas, com exceção da Cité de l'Air e da histórica sede da DGA, projetada na década de 1930 pelos irmãos Perret.

A construção do Hexágono ocorreu em paralelo com a nova sede da OTAN de Bruxelas, que só foi ocupada em 2018. Para idealizar o projeto, os franceses visitaram anteriormente o Pentágono e os quartéis-generais dos países europeus verificando as melhoras práticas.

O complexo de instalações de Balard não é composto apenas de escritórios e salas de reuniões. A parte oriental encontram-se várias estruturas de apoio como: os serviços auxiliares do exército, creches e pavilhões desportivos, incluindo um parque aquático. A região ocidental é a principal, apresentando pátios em ângulos estreitos, fachadas frequentemente encobertas e edifícios compactos.

Os engenheiros militares da França projetaram uma estrutura de concreto armado reforçado capaz de resistir a atentados a bomba como o de 1994 em Buenos Aires ou o de Bishopsgate, Londres em 1993; dois eventos em que as estruturas colapsaram. Na parte periférica dos edifícios estão os escritórios e as salas de comando e controle são bunkers subterrâneos localizados no centro, que podem ser isolados rapidamente e permanecer autossuficientes por longos períodos em alojamentos com capacidade para até cem pessoas. Esse complexo abaixo da superfície possui cerca de vinte salas modulares para gerenciamento de crises com salas de videoconferência e grandes painéis que permitem a observação em simultâneo de imagens de satélites, drones de vigilância, documentos digitalizados, vídeos e fotos. As telecomunicações permitem estabelecer contato com unidades no terreno em tempo real. Desde sua inauguração, já foi possível monitorar via satélite as operações no Mali, Níger, República Centro-Africana, Síria e Ucrânia, é claro. O lugar também é supostamente à prova de escutas clandestinas.

A sofisticação tecnológica assinala também meticulosa gestão da energia consumida. A iluminação desliga-se automaticamente quando as salas estão desocupadas ou quando há luz natural suficiente, as persianas são baixadas quando há muito sol e o aquecimento é regulado para 19°C. Os edifícios são climatizados por energia geotérmica, o calor emitido pelos servidores informáticos é recuperado para aquecimento dos escritórios e foram instalados 5.000 metros quadrados de painéis solares nas coberturas.

No cenário geopolítico que vem se apresentando, cada vez mais decisões e planejamentos relevantes para a França e a OTAN terão suas origens no Hexágono de Balard.

NOTA: O coronel Fernando Montenegro escreve em português do Brasil

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