Quer comprar casa? Este artigo inclui uma tabela com números agressivos

ECO - Parceiro CNN Portugal , Luís Leitão
21 jul 2023, 09:54
Casa

Se mora num dos concelhos incluídos neste texto, as notícias não são as melhores

Está cada vez mais difícil comprar casa. No espaço de apenas três anos, o esforço financeiro exigido às famílias para comprar casa duplicou em mais de metade dos 24 municípios mais populosos do país.

De acordo com cálculos do ECO, no primeiro trimestre de 2020, no começo da pandemia de Covid-19, uma casa em Portugal de 60 metros quadrados adquirida por via de um crédito à habitação a 30 anos, indexado à taxa Euribor a 12 meses e com uma entrada de 20% do capital, traduzia-se, em média, numa prestação equivalente a um quinto do rendimento do agregado familiar. No primeiro trimestre de 2023, essa mesma casa comprada sobre os mesmos moldes financeiros, exige uma taxa de esforço de 38%.

Em apenas três anos, a taxa de esforço das famílias portuguesas para comprar casa aumentou, em média, 1,9 vezes nos 24 municípios mais populosos do país, que albergam mais de 100 mil habitantes. Trata-se de um aumento extremamente agressivo, sobretudo se pensarmos que entre o primeiro trimestre de 2020 e o primeiro trimestre de 2022 houve apenas uma ligeira alteração do esforço financeiro das famílias para se tornar proprietário de um imóvel.

E entre os que mais sentiram o aumento da dificuldade em trocarem de casa nos seus concelhos estão os residentes na área metropolitana de Lisboa, particularmente no Seixal, Setúbal e Sintra, onde a taxa de esforço mais do que duplicou desde o primeiro trimestre de 2020.

Esforço financeiro para comprar casa nova

Entre os concelhos mais populosos do país, os residentes da área metropolitana de Lisboa são os que mais têm sentido o aumento da dificuldade de comprarem casa nova nos seus concelhos. No Seixal, por exemplo, comprar uma casa exige atualmente um esforço financeiro por parte dos seixalenses 2,19 vezes acima do que o mercado exigia há três anos.

 

  Taxa de esforço no 1.º trimestre 2023 Taxa de esforço no 1.º trimestre 2020 Aumento da taxa de esforço (2020-2023)
Seixal 39% 18% 2.19
Setúbal 37% 17% 2.15
Sintra 42% 20% 2.12
Vila Nova de Gaia 42% 20% 2.12
Vila Franca de Xira 38% 19% 2.06
Gondomar 39% 19%

2.06

Almada 48% 24% 2.02
Matosinhos 49% 24% 2.01
Porto 56% 28% 1.99
Braga 33% 17% 1.99
Maia 37% 19% 1.99
Loures 52% 26% 1.97
Santa Maria da Feira 31% 16% 1.97
Oeiras 51% 26% 1.94
Amadora 49% 25% 1.94
Funchal 50% 26% 1.93
Cascais 71% 37% 1.91
Barcelos 32% 17% 1.91
Portugal 38% 20% 1.90
Odivelas 55% 29% 1.90
Leira 30% 16% 1.90
Coimbra 34% 18% 1.87
Vila Nova de Famalicão 31% 17% 1.84
Guimarães 31% 17% 1.83
Lisboa 71% 42% 1.68

Fonte: ECO, Banco de Portugal e INE. Taxa de esforço calculada com base na aquisição de um imóvel de 60 metros através de um crédito à habitação a 30 anos, com uma entrada de 20% do capital, indexado à taxa média da Euribor a 12 meses no primeiro trimestre do ano respetivo e no spread médio desse mesmo ano. É também considerado o rendimento médio do agregado familiar do respetivo concelho.

A suportar a pressão sobre o orçamento das famílias nos últimos três anos está a subida dos preços dos imóveis, que escalaram a um ritmo médio anual de 10% entre 2020 e 2023, e também o forte aumento das taxas de juro neste período, que se repercutiu na passagem das taxas Euribor de valores negativos para taxas já acima dos 4% – como já sucede com a Euribor a 12 meses.

Mas o aumento da dificuldade das famílias em comprar casa é também gerado pelos baixos salários dos portugueses e pelo parco crescimento dos seus rendimentos nos últimos três anos, pelo menos a comparar com a subida das casas. De acordo com cálculos do ECO, com base nas estatísticas do rendimento ao nível local e da evolução da remuneração bruta mensal média por trabalhador disponibilizados pelo INE, o rendimento bruto das famílias terá aumentado a um ritmo médio anual de 5,4% entre 2020 e 2023, cerca de metade da subida dos preços das casas.

A pressão da subida dos preços do imobiliário e dos juros na carteira das famílias nos últimos três anos foi tão grande que, na maioria dos casos, para hoje conseguirem comprar uma nova casa no seu concelho, as famílias têm de optar por um imóvel com uma área inferior ou avançar com mais capital como entrada. Só assim conseguem cumprir com as medidas macroprudenciais do Banco de Portugal, que os bancos têm de garantir na concessão de um crédito bancário.

Em Lisboa, por exemplo, o concelho que apresenta o preço por metro quadrado mais elevado do país (3.965 euros) e o segundo concelho (apenas superado por Oeiras) com os mais elevados rendimentos por agregado familiar (acima dos 16 mil euros brutos por ano), essa mudança é drástica.

Se no primeiro trimestre de 2020 uma família lisbonense necessitava apenas de avançar com 20% do valor da escritura para comprar uma casa de 60 metros quadrados, que lhe conferia uma taxa de esforço média de 42%, ficando abaixo da fasquia de 50% (máximo permitido pelo Banco de Portugal), agora tem de avançar com 45% do capital da escritura para continuar a viver numa casa de 60 metros quadrados ou então terá de encontrar uma casa nova com uma área máxima de 42 metros quadrados.

Downsizing imobiliário

Considerando os atuais preços dos imóveis e as condições financeiras das famílias, apenas em Leiria é possível comprar uma casa com mais de 100 metros quadrados cumprindo o limite máximo de uma taxa de esforço abaixo de 50%.

Fonte: ECO, Banco de Portugal e INE. Taxa de esforço calculada com base na aquisição de um imóvel através de um crédito à habitação a 30 anos, com uma entrada de 20% do capital, indexado à taxa média da Euribor a 12 meses no primeiro trimestre do ano respetivo e no spread médio desse mesmo ano. É também considerado o rendimento médio do agregado familiar do respetivo concelho

Municípios Área máxima de um imóvel com uma taxa de esforço de 50% (m2)
Lisboa 42.1
Cascais 42.3
Porto 54.0
Odivelas 54.8
Loures 58.0
Oeiras 59.4
Funchal 59.8
Matosinhos 61.1
Amadora 61.4
Almada 62.7
Sintra 70.6
Vila Nova de Gaia 71.5
Gondomar 76.3
Seixal 76.5
Vila Franca de Xira 78.0
Portugal 79.8
Setúbal 80.5
Maia 80.9
Coimbra 87.5
Braga 90.7
Barcelos 93.2
Santa Maria da Feira 95.8
Guimarães 96.7
Vila Nova de Famalicão 98.1
Leiria 100.7

 

Relacionados

Imobiliário

Mais Imobiliário

Patrocinados